A agora franquia Um Lugar Silencioso é uma que você vê a preocupação dos produtores e roteiristas de que com a cada nova história tenhamos a chance conhecer um pouco mais desse Universo que foi criado lá com o primeiro filme de 2018. Fica claro que esse mundo foi construído para termos a história sendo contada desse jeito, onde não foi uma coisa de última hora, corrida, só porque o primeiro filme deu certo. Até mesmo porque esse mundo poderia ter muito bem acabado com os eventos vistos lá em 2018 que estaria tudo certo, afinal, Um Lugar Silencioso se sustentaria de forma isolada como um ótimo filme.
Mas partimos para um terceiro filme e que aqui não decepciona. Afinal, com Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One, 2024), o que temos é a expansão dessa história apocalíptica e que não só se conecta com os dois primeiros filmes, mas também mostra numa escala muito maior os acontecimentos, os pré eventos do primeiro filme. É o dia 1 da ameaça, em Nova York, onde no primeiro filme a história se passava mais de 470 dias depois desse evento.
Talvez por isso que Um Lugar Silencioso: Dia Um seja o filme menos “Um Lugar Silencioso” dos três, afinal, é o início do contato da humanidade com os monstros e aqui não é apenas a família Abbott e sim TODA a cidade de Nova York que está no caos. E o diretor e roteirista Michael Sarnoski tem a missão de colocar tudo que já sabíamos sobre os monstros, sobre a invasão, sobre os métodos de combate contra essa ameaça dentro de uma das cidades mais barulhentas do mundo. E claro, com a maior quantidade de pessoas possível, e também de monstros para atacar.
E mesmo que Um Lugar Silencioso: Dia Um amplie a ameaça alienígena, que continua muito mortal, aterrorizante e sensível aos barulhos, Sarnoski não deixa de contar uma história extremamente pessoal, emocionante e humana na figura de Samira, a personagem da atriz vencedora do Oscar Lupita Nyong’o. Nyong’o lidera o elenco de Um Lugar Silencioso: Dia Um com uma maestria para poucos. É realmente um absurdo uma atriz do calibre, do alcance, do talento dela não estar fazendo projeto atrás de projeto em Hollywood e aqui brilha totalmente.
Nyong’o cria uma protagonista complexa, cheia de camadas que são apresentadas e desvendadas ao longo do filme, perfeita para esse tipo de filme e a história que Um Lugar Silencioso: Dia Um quer contar. O longa debate sobre a condição humana a frente de uma ameaça tão apavorante, realmente apocalíptica e do instinto de sobrevivência. E depois de termos saído de uma pandemia, o texto de Sarnoski nos faz refletir mais uma vez sobre as relações em sociedade, a individualidade no meio do caos e na busca por apenas sobreviver.
Ao colocar a personagem como essa figura cheia de conflitos internos e amargurada com o mundo e com sua condição de saúde, o texto de Sarnoski e a atuação minuciosa de Nyong’o, conseguem abafar todo o enorme caos que a cidade de Nova York enfrenta para focarmos na busca por sobrevivência contra os monstros dessa personagem, do gato Frodo, e também da figura do jovem advogado Eric (Joseph Quinn) que cruza caminho com Samira ao longo do filme.
Relativamente um ator novato em Hollywood, é com Um Lugar Silencioso: Dia Um que Quinn se firma em mostrar mais do seu trabalho como ator e aqui consegue deixar o papel que o alçou para o estrelato (o roqueiro Eddie de Stranger Things) de lado. Quinn está muito bem, e tem muitas cenas boas, seja com Nyong’o, ou até mesmo sozinho, ou com o gato Frodo.
Se a Samira de Nyong’o é uma figura que se blindou de emoções ao longo dos anos, o Eric de Quinn é uma figura extremamente humana e realmente escarra o terror de estar sozinho no meio de uma cidade que antes estava cheia de gente e agora está vazia e claro cheia de monstros que podem acabar com você em questão de segundos ao ouvir um barulho por menor que seja. E temos também outro personagem que serve como o terceiro protagonista de Um Lugar Silencioso: Dia Um que é o gato, onde aqui, o animal de estimação de Samira rouba todas as cenas em que aparece. Você apenas torce para o gato sobreviver o tempo todo.
Enquanto Sarnoski usa o silêncio mandatório para esses personagens tentarem sobreviver aos monstros, o diretor também manda ver em grandiosas, e impactantes cenas de perseguição dessas figuras na medida que correm atrás dos humanos que tentam sobreviver na cidade a todo custo. Destaco duas passagens, muito boas em Um Lugar Silencioso: Dia Um, as cenas de perseguição num complexo empresarial todo cheio de vidro, e a perseguição no metrô.
E como esses personagens não sabem muito bem como reagir as ameaças, por mais que o governo cite as regras de sobrevivência em alto e bom som para a população, os ataques no longa parece que soam mais impactantes, os monstros parecem mais ágeis, e atacam em diversos momentos do filme, afinal, temos mais monstros, e assim muito mais casualidades.
As cenas são brutais, são impactantes, e deixam, nós os espectadores, na ponta da cadeira para sabermos quem vai sobreviver ou não no filme. Claro, o único que temos certeza é o personagem do ator Djimon Hounsou que sabemos que no futuro está vivo por ter aparecido em Um Lugar Silencioso – Parte 2 lá em 2020. Essa é a conexão maior de Dia Um com os outros filmes, mas ao longo da trama temos outros easter eggs aqui e ali.
No final, Um Lugar Silencioso: Dia Um é uma história compacta, enxuta, mas que não deixa de ser impactante na medida certa ao focar nesse personagens que estão ali por tentar sobreviverem no meio de uma drástica mudança quando esses seres alienígenas desembarcaram na Terra. É uma das histórias que poderiam ser contadas, sobre essa grande história dessa grande ameaça global, onde aqui, ao olhar para esse grão único no meio dessa tempestade, Sarnoski consegue entregar antes de tudo uma boa história, sem deixar de impressionar e também emocionar. Já para esses personagens é um novo dia, uma nova vida.
Um Lugar Silencioso: Dia Um chega em 27 de junho nos cinemas nacionais.