A comédia Um Dia Daqueles (One of Them Days, 2025) vem naquela linha de filmes que já estamos super acostumados de ver ao longo dos anos no gênero. Sabe? Filmes como Homens Brancos Não Sabem Pular (que até teve um remake alguns anos atrás) para Se Beber, Não Case, Superbad – É Hoje e até mesmo Bons Meninos. Mas todos eram protagonizados por homens em sua maioria ou tinham homens em papel de destaque.
Mas aqui com Um Dia Daqueles é diferente. Claro, tivemos Thelma & Louise, um grande clássico dentro do gênero e anos depois até mesmo Booksmart – Fora de Série que colocou duas atrizes jovens em destaque e que até fez um certo sucesso e burburinho, mas com Um Dia Daqueles temos um novo olhar para esse tipo de história, focado agora em duas mulheres, e principalmente, duas mulheres pretas.

E, talvez, o que dê certo aqui em Um Dia Daqueles acabe por ser mesmo o timing cômico de Keke Palmer que junta com a cantora SZA (em um dos seus primeiros papéis como atriz) entregam duas personagens cheia de químicas e personagens que particularmente eu adoraria tomar uma cerveja junto numa mesa de bar. Palmer sempre foi uma comediante incrível, das séries Scream Queens para Scream para os filmes As Golpistas e Não! Não Olhe!, onde ela sempre trouxe esse tom mais cômico com ela para esses projetos que mesmo que alguns não fossem efetivamente comédias, mas que tiravam a atriz da sua zona de conforto.
Ter Palmer no elenco é garantia de risada, afinal, a atriz sempre rouba a cena e garante bons momentos, mas curiosamente parece que nunca teve seu “big break” em Hollywood como diversos outros colegas que atuaram com ela nessas produções citadas anteriormente.
Mas Palmer e SZA fazem acontecer em Um Dia Daqueles e entregam uma comédia divertida, espirituosa e que garante que vamos passar bons momentos com essas duas personagens, tão diferentes uma das outras, mas que de alguma forma se completam e se entendem em suas próprias maneiras e doideiras.
A trama gira em torno dessas duas amigas, Dreux (Palmer) e Alyssa (SZA), que dividem um apartamento e cada uma está presa com questões em suas vidas profissionais. A mais certinha. Dreux trabalha numa rede de restaurantes e mira um trabalho na sede corporativa numa posição que enfim iria tirar ela de servir mesas e lidar com clientes doidos. Já Alyssa, a mais levo a vida numa boa, mais criativa, é uma artista que não acha que sua obra é valorizada e também vive de bico em bico.
Dreux por outro lado tem uma entrevista super importante e Alyssa é responsável por pagar o aluguel do mês. Confia na sua amiga. Acontece que Alyssa também tem um casinho com Keshawn (Joshua David Neal) um encostado, mas com outras qualidades, grandes qualidades vamos colocar dessa forma, e que claro que passa a mão no dinheiro do aluguel que deveria ser pago naquele dia.
O senhorio (Rizi Timane) então dá uma de Senhor Barriga e diz: Paguem o aluguel! e ultimato para as garotas: elas têm até o final do dia, senão serão despejadas. Assim, Dreux e Alyssa então tem que correr contra o relógio para levantarem o dinheiro do aluguel ao mesmo tempo que Dreux tem que se preparar para aquela entrevista importante. Prioridades certo?
Um Dia Daqueles embarca essas duas personagens em uma jornada alucinante e doida pelas ruas da cidade de Los Angeles enquanto elas precisam bolar formas de conseguir dinheiro. As ideias só vão se escalonando: roubar o dinheiro de volta do bonitão, e depois atrair a fúria da outra namoradinha dele, a psicótica Berniece (Aziza Scott) para depois irem pedir dinheiro emprestado numa financiadora com juros abusivos e terem uma cena hilária com uma atendente bocuda (Keyla Monterroso Mejia hilária no seu terceiro projeto no ano), depois de cruzarem com uma enfermeira no seu primeiro dia de trabalho, a doidona Ruby (Janelle James numa participação rápida e divertida) para fazerem um trocado doando sangue. A situação até escalona mesmo quando elas acabam por cruzar caminho com um chefão do tráfico (Amin Joseph).
O diretor Lawrence Lamont consegue imprimir o sentimento de desespero que essas personagens vivem e as cenas que desenrolam ao longo do filme são extremamente ágeis e filmadas de uma forma que isso transparece em tela e no sentimento frenético do filme. E isso meio que reflete no longa de maneira geral. Com pouco menos de 1h40, é curioso ver o quanto de coisa acontece em Um Dia Daqueles nesse curto período de tempo.
Claro, Um Dia Daqueles tem um ar de filme de streaming, mas ao mesmo tempo é a aposta do estúdio em um filme de baixo orçamento e baseado em uma ideia original. Igual quando o mesmo estúdio apostou na comédia de Jennifer Lawrence alguns anos atrás e que não fez muita grana, mas explodiu quando estreou na Netflix por conta do acordo da Sony com o streaming. Talvez, seja mais pelo que o filme representa mais do que o quanto ele vai fazer de dinheiro em bilheteria ou quantos prêmios vai levar na temporada de premiação. Se bem que um Globo de Ouro para Palmer em Comédia não seria uma má ideia, se Glen Powell foi indicado por Assassino Por Acaso né?
Entre as idas e vindas, uma mais surtada que a outra, a clássica narrativa de que essa jornada vai colocar a amizade dessas protagonistas em cheque, elas vão brigar antes de fazerem as pazes, vão encontrar a solução de boa parte dos problemas por conta de uma nova vizinha que chega na vizinhança (uma carismática Maude Apatow), Um Dia Daqueles chega a ser uma opção divertida, sem muito compromisso para dar uma chance. Já vi episódios de séries com duração maior e mais desinteressantes do que essa comédia. No final, entrega uma boa surpresa.
Um Dia Daqueles chega nos cinemas nacionais em 3 de abril.