domingo, 22 dezembro, 2024
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Um bate-papo com os dubladores de Mundo Estranho da Disney

As animações, e principalmente as animações da Disney, sempre foram muito conhecidas por conta da sua dublagem, e a dublagem nacional, como sabido é uma das melhores do mundo.

E por isso, temos um bate-papo com o time de dubladores de Mundo Estranho, a mais recente animação dos estúdios Disney que está em cartaz nos cinemas nacionais antes de chegar no Disney+ em algum momento nos próximos meses.

Falamos com Marcelo Campos que dá voz para o personagem Searcher, pai da família Clade, com Caio Freire, que dá voz para Ethan, o jovem Clade que embarca com o pai para uma jornada pelo Mundo Estranho, e também com o diretor de dublagem Robson Kumode.

Mundo Estranho | Crítica: Disney entrega, mais uma vez, uma bela construção de mundo

Foto: © 2022 Disney. All Rights Reserved.

E talvez um dos maiores destaques, e que faz a dublagem nacional ser tão querida pelo público, é cuidadoso trabalho de localização que é bem mais do que apenas dublar a voz original de acordo com o texto que vem dos EUA. Não só traduzir, acabou, e elas por elas, e sim um trabalho muito maior de tentar, ao máximo, adaptar o texto para a cultura local e deixar o mais próximo possível de como seria um diálogo com os personagens no nosso país.

E Kumode comenta: “Nosso trabalho é exatamente esse. Eles chamam de localização nosso trabalho. Então a gente tem que trazer esse trabalho para esse local né? A gente tem que trazer para cá, sempre sem perder a essência do original.”

E dos desafios são enormes diz o diretor de dublagem: “Temos que achar palavras que caibam naquela boca, né? Sobretudo quando é um filme de cinema. Quando a gente dubla coisas pra televisão, a gente tem um tipo de tratamento, para cinema é outro. Na televisão a boca é de um tamanho, no cinema, a boca é maior que eu inteiro, não tem como não ver essa boca, né? Então a gente tem que pensar nas palavras com bastante precisão.” completa.

Mas também esse trabalho dá a oportunidade para o time de dublagem brincar com algumas questões, alguns regionalismos. Entre os easter-eggs da dublagem que Kumode colocou no filme, o profissional pontuou algumas. Confira.

“O que eu quis colocar ali no meio, não sei se as pessoas sacaram, mas é uma referência com a própria Disney, que coloquei lá no meio um “Rimos na cara do perigo” que foi uma referência para O Rei Leão e depois tem uma que o Marcelo [Campos] propôs em estúdio que foi trocar um adolescentes por “aborecentes” que é muito muito brasileira, né?

A grande preocupação deles é: “Mas a gente fala assim no Brasil? Mas como é que a gente fala no Brasil?” dizem eles.

Campos fala: “E na Disney, a animação tá como se fosse um live-action praticamente. A movimentação do da boca no inglês é igual. Então a gente tem a mesma preocupação para o Lip Sync (a coordenação do que é falado com os lábios do personagem). Quando falamos se o nosso texto cabe na boca, não é só o tamanho da fala. A gente tem que ter a preocupação de [as letras] P, B, O, A…. Tem uma cena por exemplo que o meu personagem meu fica “Dad! Dad! Dad! (pai em inglês), gritando várias vezes, só que “Dad” a gente viu que não tem movimento de boca para “Pai”. Então ficou “Não! Não! Não!. Somente quando saiu do plano que deu para gritar “Pai! Volta”. Os Dad! viraram tudo Não!” diz ele.

E completa: “A legenda ela vai seguir a dublagem. Então no filme legendado, a pessoa vai ouvir “Dad!” e na legenda vai estar “Não!”. Aí fala assim, pô, que é isso tradutor tá doido. Não é que a gente teve a preocupação de fazer uma adaptação do texto para o Lip Sync, (…) o sentimento é o mesmo né? A emoção, a urgência, tudo é o mesmo, as palavras são diferentes, mas elas estão querendo dizer a mesma coisa, né?”

Foto: © 2022 Disney. All Rights Reserved.

Sobre a relação do brasileiro com a dublagem, o grupo comenta sobre o interesse do público nacional com filmes dublados e animações dubladas.

Freire diz: “Animação é unanime. Todo mundo quer dublado. Ama ver dublado. O público, a pessoa não vai ver uma animação legendada. É muito raro. Então ela fala assim: “Ah eu amo a dublagem de animação, principalmente as das animações da Disney”. Ninguém conhece [as vozes no original], não se tem esse apego com as vozes originais. Então ai, isso que explica para mim, o por quê que temos quase 10 vezes mais visualizações no nosso trailer dublado do que o animado. Animação [dublada] é unanimidade.”

Kumode completa a fala do colega: “Cada vez mais os números recentes que a gente tem ouvido de pesquisas mostram que existe que um público consumidor de audiovisual no Brasil, que consome muito mais dublado do que legendado. Existe um certo constrangimento às vezes em falar: “Eu consumo dublado”. Então as pessoas não falam que consomem dublado, né, mas quem não gosta da dublagem fala mal da dublagem.”

E o diretor de dublagem nos apresentou para dados, e fatores, importantes para entenderemos essa questão. Ele comenta: “A boa dublagem passa desapercebida. A gente não percebe que ela está ali, a má dublagem aparece, e a gente fala mal mesmo.”

“A segunda questão é “A gente consome dublado por quê?” Por N motivos. Principalmente porque é muito do que a gente consome em casa, por exemplo ou no computador, (…) a gente não para, gente não para só para olhar a tela, a gente tá ouvindo, cozinhando andando pela casa, andando no trem, no metrô no ônibus, com o fone de ouvido, não dá para ler a legenda. Ela é pequena, não dá para ler. São várias coisas. Então tudo isso contribui para esse consumo da dublagem, e assim esses números todos têm mostrado que as pessoas assistem dublado e a dublagem tem uma questão muito importante e que é crucial: as vozes são de extrema importância na nossa construção afetiva.” diz o diretor.

A nova história de ação e aventura da Disney desbrava uma terra desconhecida e traiçoeira, onde criaturas fantásticas esperam os lendários Clades, uma família de exploradores cujas diferenças ameaçam atrapalhar sua mais recente e mais crucial missão, afirma a sinopse.

Festival Annecy 2022 | Disney apresenta novidades, cenas e mais de Mundo Estranho

Don Hall e Qui Nguyen compartilham a direção e Nguyen cuida do roteiro.

Mundo Estranho em cartaz nos cinemas.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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