De Only Murders In The Building, por Meu Nome é Dolemite e até mesmo pela comédia Cidade Perdida, a atriz Da’Vine Joy Randolph sempre rouba as cenas.
E aqui em Os Rejeitados, o novo longa do diretor Alexander Payne que chega nos cinemas nacionais agora em janeiro, não é diferente.
Randolph já desaponta como uma das favoritas para levar a estatueta do Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz apareceu em diversas listas de premiações iniciais e já levou o prêmio em algumas delas (entre os mais importantes até agora temos o National Board of Review e também o Globo de Ouro).
No longa ela interpreta Mary, uma cozinheira-chefe que acabou de perder seu filho no Vietnã que trabalha numa escola de elite em que boa parte do filme se passa. Randolph atua ao lado de Paul Giamatti que aqui interpreta um professor mal-humorado que é forçado a permanecer no campus para cuidar de um grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal.
Assim, Mary, Paul e o aluno encrenqueiro magoado e muito inteligente Angus (Dominic Sessa) acabam criando um vínculo improvável durante esse recesso.
Em bate-papo com a atriz, e com outros jornalistas ao redor do mundo, Randolph comenta sobre sua personagem, os desafios, e ainda a temporada de premiações, e como a greve dos atores afetou a divulgação do longa que passou por diversos festivais importantes antes de estrear nos cinemas americanos.
O que você sentiu quando recebeu o roteiro de Os Rejeitados? E quando você percebeu que tinha uma personagem maravilhosa ali te esperando?
Da’Vine Joy Randolph: Olha eu acho que foi imediatamente logo quando eu comecei a ler. Eu comecei a entender que eles estavam fazendo alguma coisa que não era estereotipada, alguma coisa que ultrapassava a barreira da raça e tinha ali uma personagem totalmente completa com complexidades e dimensões.
(…) E eu fiquei feliz que ela veio assim, pronta, e eu acabei por amar essa personagem falha, vulnerável mas também forte.
No filme sua personagem fuma bastante e também cozinha. Como foi para você tentar fazer isso com a maior naturalidade para tentar transmitir isso em tela sobre sua personagem?
Da’Vine Joy Randolph: Fazer isso correto foi muito importante para mim. Eu estava mais interessada em tentar focar na parte que ela cozinha e Alexander estava mais interessado em transmitir que ela fumasse corretamente e tentar ambas as coisas serem transmitidas da forma mais real possível.
E nós estávamos por discutir essas coisas, e enquanto eu lia o roteiro eu via que tinha um monte de comida ali listada, e eu pessoalmente amo cozinhar, então quando nos encontramos com o diretor em uma reunião eu perguntei: Você acha que seria possível [eu cozinhar]?
E ele também ama cozinhar e diz: Sério, você quer? E eu: Claro! E eu sabia que isso iria me ajudar a compôr ela e era importante para mim mostrar que ela é bem mais que apenas uma cozinheira, ela é alguém que lidera a cozinha é alguém que sabe muito bem o que fazer. Ela tem essa grande habilidade, essa grande facilidade e eficiência em gerir aquela cozinha e eu me diverti muito.
Ele me permitiu criar o menu de Natal. Eu consegui cozinhar toda a comida com a ajuda das moças que nos ajudaram a criar todos os pratos para o filme, e foi muito engraçado, pois quando gravamos a cena que estamos comendo o jantar de Natal, nós não comemos nada do buffet que estava servindo no set aquele dia e nós realmente paramos, sentamos, e comemos aquele jantar e foi muito bonito.
E sim, a parte de fumar também foi muito importante por que claro que você poderia fingir que fuma, mas não se o seu personagem for um fumante ávido. E junto com tudo isso, ela ainda lidava com muitas outras coisas e seu estado emocional é um bastante frágil. Então ela está mais do que deveria, então nós decidimos bem no começo [na pré-produção] que não íamos quer fingir, então dois dias depois que eu recebi o convite de Alexander ele me enviou duas caixas cheias de cigarros falsos. Então eu tive um mês e meio? Tipo eu tive 5 semanas para ficar confortável, então eu vi vários filmes antigos para ver como eles seguravam, o estilo que eles fumavam e quando foi chegando perto da época das filmagens eu tomei a decisão que queria fazer a transição para cigarros reais por conta do peso deles em relação aos falsos que era muito fino e poderiam quebrar e daria me notar na câmera.
Então eu achei uma marca de cigarros eu fui capaz de usar no set e isso me ajudou muito por que, cozinhar eu até faço bem, mas fumar é uma coisa que eu não faço. Então eu precisava estar confortável para me transformar nessa personagem. Era importante para mim parecer que eu fazia isso já há muito tempo.
Qual foi a maior dificuldade para você com esse papel?
Da’Vine Joy Randolph: Ela é muito diferente de mim e a energia dela é bem mais baixa e deliberada. Eu falo muito rápido, eu estou fazendo 10 mil coisas de uma vez. Eu sou de Gêmeos, então tem isso que falo demais e ela tem um ritmo muito mais calmo e tem essa ideia de ser uma pessoa restrita. Para ela é um luxo ter, e expressar sentimentos. Ela não faz isso, e quando faz, faz lá no final do filme, ou enquanto o filme vai por acontecer.
Então ir por deixar o sair sair do balão, não totalmente, mas somente o suficiente para andar na corda bamba, foi bem desafiador para mim.
Uma das razões e motivos pela qual o filme dá certo é pela relação da sua personagem com os outros. Como foi trabalhar com Paul e Dominic no filme?
Da’Vine Joy Randolph: Ah foi incrível, eles são muito encantadores. Eu não sei se as pessoas realmente entendem isso, e o trabalho dos atores, mas você só começa a ser contratada para trabalhos com esse tipo com anos e anos na indústria. Então você começa a realmente a trabalhar com pessoas que você pode chamar de amigos. E você começa a encontrar estranhos, e você torce para eles não serem tão malucos, ou pelo menos não tão dramático com essas coisas. (…)
A química foi maravilhosa, eu acho que por conta de Dominic, ele é o mais jovem e foi a primeira vez dele, e tele tem uma alta antiga, mas é muito muito esperto, e disposto a aprender, o que ajudou muito, nós, eu e Paul a sentir que ele se decida e muito e estava sob nossa responsabilidade por era a primeira vez dele e nós queríamos que ele tivesse certeza que essa primeira experiência dele fosse maravilhosa. E ele perguntava muitas coisas, e nós estamos muito felizes em ajudar no melhor que nossas habilidades pudessem o ajudar. Paul e eu nós tivemos muita sorte por que frequentamos o mesmo programa.
Você tem sido indicada e ganhado vários pelo filme nesse começo de temporada de premiação. Como você tem lidado com isso?
Da’Vine Joy Randolph: Nossa, eu fico…. uau. Sem palavras e eu gaguejo toda vez que falo sobre isso. Quando eu crio, ou quando eu estou criando, eu sempre penso nas pessoas que eu me espelho para fazer isso, nos indivíduos que estão assistindo. Eu só quero que as pessoas sejam impactadas por isso. Que elas aprendam alguma coisa, que elas tirem alguma coisa disso, se reconectem com alguma coisa.
É muito tocante pensar de onde você vem, o que você passou, o que você lutou para chegar até aqui. Significa muito para mim estar nesse espaço, ser vista e reconhecida nesse nível que para a nossa indústria é o ponto alto de reconhecimento.
Eu digo para todo mundo que trabalha comigo. Não quero saber, não quero ler críticas, eu falei para meu time de relações públicas, não quero saber quando as indicações sairem, não quero saber, não vou conseguir lidar.
Eu estava fazendo entrevistas ao longo do dia e só foram e contar no final do dia. E eu: Ok, tudo bem. Eu não ia conseguir dormir, seria muito para mim. Eu ligo muito para isso e todo mundo colocou muita coisa nisso.
Como tem sido a experiência de voltar a divulgar o filme agora que a greve dos atores em Hollywood acabou? (O bate-papo aconteceu em Dezembro de 2023, algumas semanas depois do final da greve do sindicato ter terminado)
Da’Vine Joy Randolph: Eu vou te falar, eu dei instruções bem claras para todo mundo no meu time. Não me falem, eu não quero saber sobre críticas, e eles provavelmente ficaram muito frustados. Eles ficaram frutados por que eles queriam [celebrar] e eu: Não, não, não.
Não foi tão frustrante para mim [não divulgar o longa antes]. Por que na minha cabeça tudo isso seria resolvido antes da temporada de premiações começar. Ou pelo menos na minha cabeça era um pensamento positivo que as coisas iam se resolver.
Mas eu só fui por ficar um pouco ansiosa quando uma semana antes ou na semana que foi divulgado que eles [o sindicado dos atores e a organização que representava os estúdios] estavam em conversações sérias. Eu acreditava no por que estávamos em greve, e estou feliz que decisões foram tomadas e as coisas mudaram.
Mas tivemos muita sorte que nós tínhamos um diretor como Alexander Payne que ainda estava por liderar esse show [de divulgar o filme]. Eu acho que se estivéssemos em uma situação diferente com um diretor desconhecido, eu acho que teríamos problema, mas ajudou termos alguém conhecido.
Os Rejeitados está em cartaz nos cinemas nacionais.