Alguns o conhecem por conta do personagem do Hot Priest em Fleabag ao lado de Phoebe Waller-Bridge e Olivia Colman, já outros por conta dele ser o grande antagonista da série Sherlock, o vilanesco Moriarty para o Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch, mas realmente o ator irlandês Andrew Scott esteve em diversas listas e na boca do povo nos últimos meses por conta do drama Todos Nós Desconhecidos que chega, finalmente, no streaming depois de uma passagem nos cinemas nacionais.
Scott estampou revistas, participou do tapetes vermelhos e entrevistas para divulgar o filme e ainda se manteve em alta pela estreia de Ripley, o seriado baseado no livro O Talentoso Ripley. Mas em Todos Nós Desconhecidos, o ator contracena com outro ator querdinho do público e de Hollywood, Paul Mescal (A Filha Perdida) e também com Claire Foy (The Crown) e Jamie Bell (Shining Girls).
O longa acompanha Adam (Scott), um escritor que em uma noite vagando pelo seu prédio na Londres contemporânea encontra com um vizinho misterioso chamado Harry (Mescal) que o tira do seu cotidiano. Na medida que Adam e Harry se aproximam e começam um relacionamento, Adam é puxado de volta para sua casa de infância onde ele encontra com seus pais (Foy e Bell) já falecidos há muito tempo e ambos estão com a mesma idade e aparência de quando eles morreram 30 anos antes.
Assim, em bate-papo com o site, Scott comenta sobre como foi trabalhar com os colegas, o que ele trouxe de experiências pessoais para o filme e outras curiosidades.
Muito dos motivos que Todos Nós Desconhecidos dá certo é por conta da relação entre você, o seu personagem e o diretor que acertam ao conseguirem mostrar as sutilezas dessa história. Você conhecia Andrew Haigh antes de começar as gravações?
Andrew Scott: De modo algum. Eu [apenas] conhecia o trabalho [que ele já fez] e sempre amei muito o trabalho dele. (…) É tão singular e sempre tão compassivo. Mas é compaixão sem sentimentalismo.
Então, não, ele me mandou o roteiro, e eu fiquei encantado em receber um roteiro dele. Foi assim que começou. Eu o li e simplesmente não conseguia acreditar o quão afetuoso era. Eu me via muito na história e sentia que me relacionava com tudo isso. Havia muito do personagem que parecia ter algo que eu podia entender e, esperançosamente, acrescentar. Eu mal podia esperar para me envolver.
E como foi a colaboração de vocês no set?
Andrew Scott: Foi extraordinário porque não me atingiu até eu estar lá que estava operando em algum outro nível. Filmamos na casa de infância do Andrew e, enquanto estávamos trabalhando, eu não conseguia parar de pensar nisso. “Andrew estaria chorando naquele banheiro, ou teria perdido um dente naquele quarto onde um membro da equipe está tirando uma soneca.”
Estávamos literalmente pisando no chão da casa dele, onde ele passou a infância dele. Foi uma coisa extraordinária oferecer, mas como ele ofereceu, me fez sentir que tinha que aceitar essa oferta. Não que eu não tivesse feito isso de qualquer maneira, mas certamente galvanizou meu sentimento de trazer meu próprio eu para o papel.
Eu sempre digo que atuar é fingir que você não sabe que falas você está prestes a dizer, quando na verdade você sabe. Mas a autenticidade do diálogo de Andrew é tamanha que tudo parecia a coisa certa a dizer. Já passei por situações parecidas com o meu personagem, Adam. Eu sabia tocar aquelas notas. O maior desafio passou a ser voltar a um sentimento de infantilidade; Como mapear isso e projetar a vulnerabilidade e a infantilidade sem dourar muito o lírio?
E como foi para você fazer isso?
Andrew Scott: Muito disso foi através da fisicalidade, que eu acho que não é necessariamente aparente no filme, mas é algo em que pensei muito. Como os filhos tocam seus pais e como eles se sentem pequenos? O toque da relação entre pais e filhos. Como é o cheiro do seu quarto de infância? (…) Quão frias são as escadas? Todas essas coisas ainda estão comigo muito. E depois, os aspectos mais sombrios da infância e as inseguranças mais vulneráveis que eu certamente estava passando quando menino.
E como foi trabalhar com Jamie Bell e Claire Foy que interpretam seus pais em Todos Nós Desconhecidos e já que ambos são uma geração mais nova do que você?
Andrew Scott: Não houve um dia em que eu não estivesse completamente convencido pelos dois. Sabe, nem parecia estranho. Era tipo, essa é a minha mãe, e esse é o meu pai. Imaginativamente, isso imediatamente me fez sentir mais jovem. Eu sempre digo que é o que você tem que possuir como ator, é a imaginação em primeiro lugar. Minha imaginação foi inflamada pelo fato de que estávamos nesta casa muito autêntica, e esses dois atores brilhantes estavam interpretando esses papéis com tanta habilidade nessas cenas extraordinariamente concebidas.
Nós filmamos as cenas com Jamie e Claire antes de qualquer outra coisa, e todos os dias eu pensava, “Uau, nós conseguimos algo mágico; não pode ficar melhor do que isso.” E todos os dias isso acontecia. Realmente aconteceu.
E então eu tive que me despedir de Jamie e Claire, e isso teve seu próprio impacto, porque é literalmente o que acontece com ele no filme. Tive que ir dessa infância, e desse amor carinhoso dos pais, para a vida adulta, e todo o amor, leveza e complexidade que vem de Mescal.
Falando em Mescal, Paul Mescal interpreta Harry em Todos Nós Desconhecidos. O que você achou do que ele trouxe para o papel?
Andrew Scott: Foi realmente uma das colaborações mais significativas que já tive com alguém. É difícil descrever, porque eu gosto muito o Paul, e crescemos juntos jogando essa relação maravilhosa, então é claro que somos colegas agora e há um nível incrível de confiança entre nós.
A nossa demanda no set era construir esse amor realmente terno, realmente profundo, incrivelmente rápido. Você não consegue trabalhar como faria em um relacionamento real. E isso exige um nível extra. Acho que nós dois só queríamos muito estar lá. Nós dois realmente amamos os personagens e suas histórias.
O que eu mais amo em Paul é que ele é capaz de ver algo no personagem, e o papel que ele serve na história, que eu acho que muitos atores não seriam capazes de ver. Ele foi capaz de entender que estava interpretando alguém que era um receptáculo de amor, e alguém que poderia ter mistério para ele que simbolizava algo. Poucos atores seriam capazes de realmente conseguir isso.
Ele também é muito divertido, e incrivelmente trabalhador, e apenas o colega mais incrível que você poderia esperar. Espero que a gente volte a trabalhar junto, porque acho que ele é um artista muito especial.
E como tem sido para você compartilhar Todos Nós Desconhecidos com o público?
Andrew Scott: Tem sido [uma experiência] notável. Abre as portas para tanta gente, e seu alcance é extraordinário. Um pouco da nossa preocupação em fazer, foi que é um filme tão único que é tão difícil de rotular. Tem esse aspecto metafísico, mas também é tão humano e emocional. É esperançoso, engraçado e onírico. Mas acho que o fato de ser tão terno e compassivo é o que diz muito do seu sucesso.
Não há nenhum ser humano no planeta que não tenha algum tipo de relação com seus pais, estejam eles por perto ou não, sejam eles próprios pais ou não, se se apaixonaram, se são gays ou héteros, ou quem quer que sejam. Realmente, tudo o que eles precisam ser está vivo.
Nossa crítica do longa aqui.
O diretor Andrew Haigh também cuidou do roteiro adaptado do livro do autor Taichi Yamada.
Assista o trailer:
Todos Nós Desconhecidos chega no streaming em 24 de abril, no Star+.
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