Sherlock Holmes, Enola Homes, Hercule Poirot, Benoit Blanc todos eles tiveram a oportunidade de desvendar casos, tramas de conspirações e assassinatos ao longo dos últimos anos. E eles até conseguiram chamar atenção do público em diversos projetos que pipocaram tanto no streaming quanto nos cinemas. Mas se não fosse por um bando de adolescentes bêbados enxeridos que passavam férias em uma ilha, esse grupo seria os únicos a se manterem na lembrança do público.
Mas, o que esses personagens não contavam, era com a chegada de uma atração brasileira sobre o tema, que vem como uma grande onda e para ficar. Afinal, o que temos com Últimas Férias não é somente uma das melhores atrações sobre tema, o whodunnit?, (o famoso quem matou?), mas também uma boa produção brasileira que por acaso fala sobre o assunto.
E olha que o brasileiro gosta do tema, consome o tema há bastante tempo, e não é a primeira viagem com esse tipo de produção. Nas novelas, por exemplo, o Brasil parou para saber quem tinha matado a lendária personagem de Beatriz Segall, a vilã Odete Roitman lá no final dos anos 80 em Vale Tudo, já nos anos 90, o país também ficou investido para saber o desfecho de A Próxima Vítima e a identidade de quem pilotava o Opala Preto, e nos anos 2000, a novela Celebridade também investiu no tema já com menos força do que antes.
Assim, a popularização do streaming e da forma de consumo de assistir vários episódios de uma vez, fez com que o tema voltasse com tudo. Então Santiago Gardinetti (da Pampa Filmes) juntou uma equipe de roteiristas para criar com Últimas Férias uma instigante série brasileira “quem matou?” que particularmente acho que funciona por dois motivos: o primeiro pelo roteiro escrito para a atração, onde o time de roteiristas liderado por José Francisco Tapajós acerta em criar primeiro uma boa história, e depois abrasileirar o tema, e também, claro, pelo elenco aqui escolhido e formado por nomes de atores jovens e bastante conhecidos de produções nacionais mais recentes.
O toque brasileiro, sem deixar de seguir a fórmula americana do gênero, é que faz da produção ser um dos grandes destaques do Star+ no ano. Últimas Férias faz um quebra-cabeça envolvente, que te faz mergulhar de cabeça nessa história e nas motivações de cada um dos personagens na medida que um corpo é encontrado boiando na praia quando um grupo de jovens sai de férias.
O que era para ser um encontro de amigos na casa de um deles, ao longo de alguns dias, cercado de bebidas, festas, e tudo mais, se torna uma coisa bem mais complicada na medida que a introvertida Malu (Lara Tremouroux), o extrovertido e brincalhão Luiz (Filipe Bragança), o capitão do time de polo aquático e líder informal do grupo Bruno (Ronald Sotto), o paz e amor Marcos (João Oliveira), o aluno modelo Eric (Michel Joelsas), a namorada dele Ana (Luana Nastas) e também a jovem Inês (Julianna Gerais) veem seus segredos espalhados pela praia.
Assim, ao longo de episódios de 30 minutos, a série apresenta flashbacks e flashforwards dos eventos aconteceram com esse grupo de jovens atletas e as situações que eles se meteram que os levaram a serem investigados pela detetive Vera (Bella Camero), dias depois de voltaram do passeio.
Com ares de Elite e How To Get Away With Murder, a atração é uma que faz o espectador querer continuar e continuar na maratona depois que é fisgado pela trama nos primeiros episódios.
E acho que para falar mais da série em si, precisamos entrar na parte de spoilers…. então abaixo nesse texto, spoilers de Últimas Férias.
ALERTA DE SPOILER!
Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos da série/filme.
Continue a ler por sua conta e risco.
Antes de mais nada, a conclusão que fica ao longo dos episódios de Últimas Férias é que Malu, num trabalho fenomenal de Lara Tremouroux, morreu por ser fofoqueira, né? E na medida que a série trabalha em mostrar os acontecimentos dos dias que o grupo ficou hospedado na ilha, na casa dos pais da personagens, Últimas Férias, aproveita esse elenco para eles entregarem boas atuações na medida que destrincham o passado, os segredos, as relações, e as conexões um com outros que estão escondidas e que esses personagens lutam para deixarem escondidas.
O roteiro acerta e muito ao estabelecer as dinâmicas entre esses personagens e esse grupo em si, tanto das personalidades que se destacam, quanto das que ficam misturadas quando todos eles estão juntos. Desde de Bruno com os problemas com substâncias ilegais e que ajudaram o time a ganhar o campeonato, de Marcos com um traficante local, de Ana e sua conta secreta em um aplicativo 18+, e tudo mais. E isso tudo é apenas combustão para a trama, e para vermos, quais deles seriam capaz de acabar com a vida da amiga, e se manter seus segredos são o suficiente para isso.. É a famosa busca por motivação dessas produções do gênero.
Além de Tremouroux, os destaques também ficam para Bragança (talvez o nome mais conhecido do elenco) que realmente dá o tom para o seu personagem, um hétero top, o zoeiro sem noção do grupo e que se sente amparado pelos seus privilégios sociais. O ator realmente está muito bem na atração e aproveita o arco narrativo bastante pesado que é lhe dado, e que é tratado de uma forma cuidadosa pelo time de roteiro. Já avisamos que os episódios tem alertas de gatilho.
A dinâmica de Bragança com a atriz Julianna Gerais (também muito bem) é fundamental para a trama entre eles ser uma história que se destaca das demais ao longo da temporada de Últimas Férias. Bragança e Gerais estão muito bem e entregam atuações das mais bacanas de se assistir. O mesmo vale para Joelsas (tão melhor aqui do em que Boca A Boca) que tem dois arcos narrativos bem distintos, interessantes à sua própria maneira e que definitivamente depende dos seus parceiros de cena para funcionar.
Os momentos com, o sempre ótimo João Oliveira e com Luana Nastas também são das mais bacanas que a temporada oferece, principalmente quando o personagem do ator, o jogador/modelo Eric, ganha mais destaque lá para os episódios finais de Últimas Férias.
E na real, todos os atores estão bem em Últimas Férias. Afinal, eles ajudam a atração contar essa história embolada, e cheia de caminhos e nós, da melhor forma possível para uma produção do gênero. Últimas Férias apresenta suas pistas de maneira que faz com que os fãs de produções do gênero fiquem alucinados com a resolução da história, com o que realmente aconteceu naquela ilha e como foi que Malu encontrou seu destino.
E por mais que ache o trabalho de Camero fenomenal, foi difícil comprar em Últimas Férias a personagem da atriz como uma jovem detetive determinada. Senti que faltou alguma coisa, seja pela idade similar com o restante do elenco ou que muitas das revelações que a personagem tinha, e boa partes das conclusões do caso, ficaram como uma desculpa do time de roteiristas em fazer com que a personagem fosse uma gênio que resolvia tudo pela intuição. Mas pelo menos a atriz faz o melhor com o que tem, e o que recebe da produção da série, e realmente está infinitamente melhor que o colega Felipe Abib que foi completamente desperdiçado na atração.
O bom trabalho de produção, desde das partes no clube esportivo, até mesmo na casa de praia, ajudam a nos fazer cair de cabeça na trama. A cada reviravolta, a cada segredo dos colegas que Malu expõe (e que culminam no frenético 1×07 – Arrebentação) faz com que Últimas Férias estreite os caminhos, e as opções que temos para quem possa ter acabado com a vida da jovem.
No final, o combo final de Últimas Férias com os episódios 1×06 – À Deriva, 1×07 – Arrebentação e 1×08 – Naufrágio amarram a trama de uma forma tão bacana, tão interessante que não pude deixar de dar pulinhos de susto e soquinhos no ar de EU SABIA! ao assistir a resolução e as peças desse dominó caindo no lugar certo na medida que tudo se encaixava.
E talvez, seja isso que faça Últimas Férias ser tão boa, pois mantém o espectador na ponta do sofá até os últimos momentos, coisa que para quem é fã de reviravoltas, é um prato cheio. Uma maratona que vale à pena fazer.
Últimas Férias está disponível no Star+.