Do que se trata Violet:
A estreia na direção e no cargo de roteirista da atriz Justine Bateman imediatamente a imediatamente a distingue como uma autora independente com uma visão original. E com Violet, o filme é extremamente pessoal para Bateman e também profundamente relacionável: o retrato de uma mulher em uma encruzilhada.
No filme, acompanhamos uma executiva de filmes que mora em Los Angeles chamada Violet (Olivia Munn) que trabalha arduamente para garantir seu status na indústria, ainda dominada por homens brancos e mais velhos, onde muitas vezes ela vê situações que ultrapassam sua dignidade e seu gosto para filmes. E nada é mais difícil do que seu relacionamento com seu chefe (Dennis Boutsikaris) que vive exercendo seu poder ao humilhar regularmente na frente dos clientes. Violet se apresenta como uma pessoa confiante, fria, e até mesmo insensível, mas dentro dela existe um caldeirão de ansiedades desesperadas e prestes a explodir.
A diretora então mostra o dia-a-dia de Violet com ousadas opções cinematográficas como o uso de frases em tela que mostram as angústias da personagens, a tela se torna vermelha na medida que as emoções de Violet se amplificam, o uso do som para demostrar desconforto e claro, uma voz presente e irritante (Justin Theroux) que sempre coloca a protagonista para baixo. A Voz é o verdadeiro antagonista do filme.
O que achamos:
A grande surpresa do festival até agora onde Olivia Munn entrega um trabalho fenomenal em Violet.
A diretora Justine Bateman nos joga para dentro da mente dessa produtora de filmes que vive uma constante batalha para superar seus medos e ansiedades representados por uma voz interior que realmente é uma presença super irritante tanto como “personagem” como efeito visual e técnico. Em Violet, a diretora entrega um longa extremamente sensorial na medida que nós, como expectadores, sentimos boa parte dos sentimentos que a nossa protagonista sente, afinal, ouvimos (e lemos nos letreiros que pipocam em tela), vemos as cenas misturadas que representam tudo que de negativo e depreciativo que ela pensa sobre si, e temos também a tal Voz dizer tudo de “errado” que a jovem faz, seja na sua vida pessoal, ou na sua vida profissional.
E fora a tela vermelha que surge quando Violet começa a se irritar com alguma coisa.
E olha que existe muita coisa para se irritar aqui. É o chefe escroto que tenta sempre a diminuir, roubar suas ideias, ou não apostar em seus projetos (Eu quero o FoxRun sim!), os colegas de trabalho irritantes que parecem que não sabem que Violet é a chefe do departamento e não a melhor amiga deles, os parceiros de trabalho de um grande estúdio em Hollywood que querem sempre cruzar alguma linha, o ex-namorado na qual a jovem tem um passado tumultuado, e a amiga que parece mais querer se intrometer do que realmente ajudar e compreender o que Violet passa.
E Munn realmente parece se entregar no papel, um dos melhores de sua carreira até aqui, para contar essa história.
Em Violet, vemos a personagem precisar deixar de lado tudo aquilo que ela sabe que a faz mal, mas mantém em sua vida por manter. É um trabalho de desconstrução e de terapia com si mesma para evoluir como pessoa e deixar pessoas e comportamentos tóxicos de lado. Seja aceitar que realmente ela é boa no seu trabalho (coisa que ela é sim e o filme não deixa margem para dúvida, se você está dentro do mercado de cinema), eventuais acontecimentos ruins podem acontecer sim, e que às vezes um amigo (Luke Bacey) pode ser mais do que apenas um amigo e sim um companheiro para vida.
As opções estéticas e visuais que Bateman escolhe em Violet realmente dão o tom para o longa, mas é com a cativante e magnética presença de Munn que realmente faz do longa um dos grandes destaques da edição 2021 do TIFF depois de ter passado no começo do ano por outros festivais. Violet entrega o filme sobre o poder da nossa mente e dos nossos próprios julgamentos, e como a régua sempre está mais alta para algumas pessoas e situações. E ao mesmo tempo, Bateman entrega um longa completamente realista sobre tentar dar o seu melhor no mercado de trabalho e que são muitos fatores que indicam o sucesso ou não.
No final, Violet é um filme para assistir e se identificar com aquilo que a diretora e a atriz principal querem contar. Fico na torcida para algum estúdio comprar e distribuir o projeto para que mais pessoas poderem assistir Violet, um dos mais interessantes filmes de 2021, sem dúvidas.
Visto em sessão digital da edição 2021 do Festival de Toronto.
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