sexta-feira, 22 novembro, 2024
InícioSéries e TVReviewsThe Crown | Crítica 5ª Temporada: Monarquia à beira do colapso em...

The Crown | Crítica 5ª Temporada: Monarquia à beira do colapso em impecáveis episódios

Não dá para negar que a temporada cinco de The Crown é uma de transição e de significativas mudanças. É o começo do final para a série, e por isso, nos entrega algumas modificações do que vimos nas temporadas anteriores, sem dúvidas. Mas mudanças podem ser boas? Pergunte isso para a líder de uma das instituições mais antigas do mundo.

E os novos episódios de The Crown chegam com novos atores, com a trama mais próxima dos dias atuais, e com o tema constante sobre a necessidade de uma modernização da monarquia que à beira de um colapso que apenas entregam uma nova safra de novos episódios dos mais impecáveis possíveis e dentro do padrão que a série vem, ano após ano, a entregar desde de sua estreia lá 2016.

Imelda Staunton em cena de The Crown temporada 5
Foto: Netflix/Divulgação

E desde de então, The Crown nos entrega essa novelização da história dos anos do Reinado de Elizabeth II e mostrou de forma ficcional altos e baixos (do ponto de vista de Sua Majestade, claro), com uma grande dose de realidade, eventos que realmente aconteceram aos olhos do público e da grande mídia. São fatos, as coisas aconteceram, e estão amplamente documentadas para qualquer um procurar. Mas o mais interessante é que The Crown nunca foi 100% uma série wikipédia, a graça e onde a atração criada por Peter Morgan sempre triunfou, ao lado de lado estético visual e ótimas atuações, foi em recriar cenas fora dos holofotes, de como esses personagens, e as pessoas reais que eles representam, intimamente viveram os momentos chaves que são retratados.

Morgan acerta novamente ao criar uma dramatização para momentos as portas fechadas, onde que no final, o que foi dito, o que levou as coisas a serem ditas, e suas consequências, afetaram não só quem estava presente ali, mas também a vida de outras pessoas. O que realmente foi dito, na vida real, só as pessoas que estavam lá sabem. 

E a palavra chave em The Crown temporada 5 é realmente transição. A atração voltou magnífica e realmente é a joia da coroa da Netflix por 5 temporadas e não poderia ter voltado em melhor hora, aqui no mundo real, com nos primeiros meses do reinado do Rei Charles III. E a forma como a atração espelha seus eventos com metáforas é muito bem vista em termos narrativos e deixa a atuação desse novo elenco muito mais interessante de se acompanhar.

Nova temporada, nova década, e uma nova velha Rainha. A atriz britânica Imelda Staunton assume como Rainha Elizabeth II deixando claro como o peso da Coroa nesta temporada a afetou. E Staunton consegue majestosamente passar esse semblante cansado para a monarca na medida que os anos 90 avançam e seus 40 e poucos anos de reinado, e de casamento, são refletidos em boa parte dos episódios dessa nova safra de The Crown.

Staunton, como suas antecessoras, tem ótimos momentos ao longo da temporada com discussões interessantes sobre a questão do seu dever com a instituição que ela representa, que ela é a figura principal, e que se vê na mira para mudanças.

Ao longo dos episódios, Staunton dá para a Rainha momentos de reflexão sobre seu papel como a monarca com paralelos importantes sobre a rápida modernização do mundo ao seu redor. Aqui The Crown deixa claro que a Rainha parece não querer ou se importar em acompanhar e fica presa no passado, é a chamada Síndrome da Rainha Vitória que incrivelmente abre o quinto ano ao ser o título do 5×01, onde a atração se passa durante o período conhecido como Annus Horribilis (Ano Horrível e que dá o título para o episódio 4).

Se a monarquia representa o ideal máximo da família ideal, o que significa quando todos os relacionamentos da família real estão desmoronando? A monarquia, em si, como instituição, também está à beira de ruir. E não só em termos de casamentos que são destituídos, mas também do questionamento que algumas pessoas têm sobre a verdadeira função da família real em um mundo moderno.

E The Crown acerta, ao dar um sentimento de urgência para o tema, e trabalhar essas questões e suas indagações. Politicamente, The Crown se passa nos últimos anos do governo do partido conservador representados pelo primeiro ministro da vez, aqui John Major (Johhny Lee Miller), e no final do novo ano da atração vemos a chegada do Partido Trabalhador depois de anos fora da liderança, e também como a Rússia partiu de ser uma ditadura comunista para uma tentativa de democracia (vista lá no ótimo 5×06 – Ipatiev House).

E já do ponto de vista da sociedade, The Crown navega pela modernização dos meios de comunicação, a TV como o principal ponto de contato das massas, com novos canais que se proliferavam com uma presença mundial, onde temos um paralelo maravilhoso sobre a chegada da TV via satélite no palácio real, e a opção de vários canais, e não só da BBC, e também da agressividade maior dos tabloides, e claro, das tecnologias de captura de frequência de transmissão. 

Elizabeth Debicki, Will Powell, Senan West e Dominic West em cena de The Crown temporada 5
Foto: Keith Bernstein para a Netflix/Divulgação

Essas últimas estão intrinsecamente ligadas para a parte onde The Crown ganha seu fôlego lá para seu meio, onde temos episódios totalmente focados no divórcio de Charles (Dominic West) e Diana (Elizabeth Debicki) que voltam a ganhar o destaque na trama, igual foi na temporada anterior. O combo de episódios 5×07- No Woman’s Land, 5×08 – Gunpowder, 5×09 – Couple 31 foca na dupla, e garante ótimas passagens para eles, principalmente para Debicki que realmente personifica Diana e continua o trabalho excelente que Emma Corrin fez na temporada anterior ao entregar uma Diana mais madura, menos contos de fadas, e mais calejada.

A doçura, o olhar melancólico, e o sentimento de caos interno que se passa com Diana já nessa altura da sua relação com o agora ex-marido é mostrado por Debicki em uma atuação que nos prende a atenção. Debicki flutua (mesmo com uma altura maior do que a Princesa na vida real e de seus colegas de elenco) em tela e toda vez que surge é uma coisa alucinante de se assistir. Desde dos momentos mais combativos, a cena do vestido da vingança, a preparação para a polêmica entrevista para a BBC, ou até mesmo uma conversa com Charles após o divórcio, Debicki garante ótimas passagens. E até mesmo os momentos mais reflexivos, mais tristes e melancólicos, afinal, o quinto ano de The Crown expõe sem escolher muito lado, a parte mais feia que existe em todo divórcio, e a tentativa de recolher os cacos e seguir a vida.

O mesmo vale para West que por mais bom ator que seja, parece que não consegue emular a figura de Charles como seu antecessor Josh O’ Connor conseguiu. Claro, o episódio dos telefonemas vazados entre ele e Camilla Parker Bowles (Olivia Williams) dá a chance de West ter um pouco de destaque na temporada, mas sinto que a personalidade mais carrancuda, mais introspectiva que o agora Rei passa para o público foi transformada para um personagem energético e cheio de vida. Talvez, anos de espera para ascender ao trono tenham dado essa impressão pública para o nobre, mas aqui em The Crown, a atração parece ter dado uma dose de maquiagem para o agora Rei. 

Estruturalmente, The Crown segue o mesmo caminho de sempre, seu combo inicial foca na Rainha de Staunton com toda a questão do mega iate Britannia (outro paralelo bacana que Morgan faz na medida que temos a discussão sobre a embarcação ser aposentada), e nos apresenta também para todos as novas versões outros membros da família, e mais uma vez seus conflitos, como o Príncipe Consorte Phillip (um ótimo Jonathan Pryce), a excelente Lesley Manville assume como Princesa Margaret com um arco bem interessante no 5×04, temos também os jovens Príncipes William (Senan West) e Harry (Will Powell) já na adolescência e no meio do combate da Guerra entre o divórcio dos Wales e claro, a introdução de uma figura importante para a trama com a chegada na Inglaterra do egípcio Mohamed Al Fayed (Salim Daw) e seu filho Dodi Al Fayed (Khalid Abdalla) no ótimo 5×03 – Mou Mou que apenas reafirma a o sentimento de mudança que a sociedade inglesa passava na época.

No final, The Crown retorna com o mesmo charme de antes, onde figurinos, cenários, e a escolha de um elenco de peso, mostra que a atração ainda não perdeu seu fôlego e sua relevância no cenário pop das séries de TV, e assim como a Rainha, deve aguentar mais uma leva de episódios antes de chegar ao seu final que promete na próxima temporada passagens das mais trágicas possíveis na medida que agora chegamos em 1997 e a morte de Diana será um dos grandes temas do sexto e último ano da atração.

As cinco temporadas de The Crown estão disponíveis na Netflix.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

Artigos Relacionados

Deixe uma resposta

Newsletter

Assine nossa Newsletter e receba todas as principais notícias e informações em seu email.

Mais Lidas

Sutura | Primeiras Impressões: Série nacional costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas

Nova série médica nacional do Prime Video costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas. Nossa crítica de Sutura.

Últimas

“Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (…) melhor.” afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a...

"Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (...) melhor" afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a série médica Sutura