sábado, 21 dezembro, 2024
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The Consultant | Crítica: O diabo está nos detalhes em intrigante série

The Consultant é uma série que vai te deixar intrigado ao mesmo tempo que com raiva. Já aviso. Com um bom elenco, e liderados por um carismático Christoph Waltz, a atração é curtinha, tem 8 episódios de 30 minutos que parecem formar um grande filme sobre a chegada de um consultor em uma empresa de games que vê sua rotina ser alterada depois que o CEO, o jovem prodígio Sang (Brian Yoon), morre de uma forma assustadoramente bizarra e inesperada.

O que se desenrola depois disso, são reviravoltas, plot twists e questionamentos do tipo “o que tá acontecendo aqui?” onde o sentimento de buscar alguma resposta lógica, ou não lógica, para tudo que acontece na trama, e com esses personagens é o que dá o gás para a atração baseada no livro de mesmo nome do autor Bentley Little.

 Christoph Waltz em cena de The Consultant
Foto: Credit: Andrew Casey/Prime Video

E The Consultant é mestre em navegar nessa linha tênue em nos dar respostas, na medida, que também, faz novas perguntas. Mas em muitos momentos parece que a série nunca é tão clara quanto deveria. Sim, é legal, ficar criando teorias mirabolantes aqui e ali, mas, às vezes, parece que a atração não quer se comprometer com nenhuma resposta importante, e sim, deixar o público vagar em seus questionamentos. 

A chegada do metódico, e quase robótico, e excentricamente sorridente, Regus Patoff (Waltz, incrível e que sustenta o seriado) na CompWare, uma startup de games, cheio de jovens desenvolvedores millenium no meio de Los Angeles, promete chacoalhar o dia-a-dia desses funcionários na medida que o Sr. Patoff meio que assume a empresa do dia para a noite.

E parece que ninguém vai muito que questionar a presença do executivo de voz calma, terno e gravata, e que se destoa do resto da empresa, além de Elaine (Brittany O’Grady, ótima), a ex-assistente do falecido CEO, uma jovem cheia de ideias e que acha que está pronta para alçar novos voos, e do desenvolvedor Craig (Nat Wolff) que trabalha na empresa há anos, está em busca de fazer acontecer no mundo de games, e está prestes a se casar com a jovem Patti (Aimee Carrero).

The Consultant apresenta esse jogo de xadrez cheio de suspense com um tom um pouco cômico, sem deixar de ser mórbido em sua concepção. Não tem o mesmo nível de refinamento de Ruptura (uma outra excelente série mais recente sobre o ambiente de trabalho), mas chega a empolgar se você embarcar logo de cara em tentar desvendar seus mistérios. E que são muitos.

Logo nos seus primeiros episódios, The Consultant nos apresenta para uma trama super intrigante e que nos faz questionar quem é, o que faz, consultor Patoff na empresa e quais são suas reais motivações. Os primeiros 4 episódios são construídos de uma forma extremamente viciante, onde as pistas são dadas, e você fica, “Ah tá entendi o que é isso, mas é isso mesmo né? Será que não vai ter uma reviravolta aí?” ao mesmo tempo que a série nunca é explícita o suficiente para nos dar respostas claras, ou certezas universais sobre os temas que apresenta. 

Ao longo dos episódios, a série vai por nos dar pistas aqui e ali, onde descobrimos então que Patoff fez um tipo de acordo com o antigo CEO (no gancho mais impactante que vi numa série nos últimos meses), e vemos que Elaine e Craig tentam descobrir mais sobre o consultor, e também a dupla fica naquele lenga-lenga clássico de será que eles vão ficar juntos ou não?, na medida que os dois começam a investigar esse figura, ao mesmo tempo que também começam a se beneficiarem dessa nova gestão que Patoff impõe para esses funcionários já que o barco ficou sem seu capitão.

Elaine deixa de ser uma mera assistente, e aproveita a vacância para meio que se promover na empresa e começa a lidar diretamente com Pattoff nas decisões mais estratégicas do dia-a-dia corporativo, onde ela aproveita a situação e começa a observar o consultor de perto, e Craig, que depois de anos com ideias ignoradas pelo antigo chefe, se aproveita para vender um ideia de um novo jogo para o consultor que envolve animais gigantes como elefantes e pisos de vidro.

Brittany O’Gray e Nat Wolff em cena de The Consultant
Foto: Credit: Michael Desmond/Prime Video

Assim, os dois sentem que alguma coisa está errada com ele e começam a investigar essa figura estranha e curiosa. Mesma curtinha, o seriado sofre um pouco com altos e baixos, afinal, os episódios do meio da temporada decaem de ritmo, quando o tema central de “quem é Regus Patoff?” é deixado um pouco de lado.

Por exemplo, lá para a metade da temporada, quando investigação de Craig nos leva para uma loja super suspeita e um pouco do passado de Patoff é revelado, é onde fica claro que era para ser um ponto de virada para a trama, sem dúvida, mas como falei, o seriado nunca deixa 100% claro algumas coisas e sinto que essa questão é deixada totalmente de lado e a história parte para outros arcos narrativos que se desenvolvem na segunda parte da temporada, onde vemos os funcionários da empresa precisarem focar no lançamento de um novo jogo para salvar a companhia. 

Assim, a cultura corporativa é minuciosamente discutida em diversas passagens que colocam esse grupo de funcionários na tentativa de salvarem seus empregos mesmo que eles joguem as éticas e tudo mais para o alto. Alianças são formadas, inimizades são criadas e o ambiente na CompWare se mostra um reflexo interessante das relações humanas e da sociedade.

E tudo em The Consultant é feito para embarcarmos nessa história cheia de paranoias, e questionamentos. O trabalho de ambientação que os diretores dos episódios fazem, um deles Matt Shakman que cuidou de WandaVision, é muito interessante, seja ao dar vida para escritório físico, seja em mostrar como personagens que andam de forma suspeita pelos corredores da empresa, ou até mesmo os diálogos ambíguos mostram que o diabo está mesmo nos detalhes e que precisamos prestar atenção em todas as pistas que o time de roteiristas nos apresentam mesmo que em sua maior parte do tempo elas não dão em lugar em nenhum. 

Ao se apoiar nas relações entre esses personagens, e o quão a figura desse consultor vai alterar suas vidas, seja de forma direta ou indiretamente, The Consultant mostra que as vezes para mudar alguma coisa, é preciso apenas um pequeno empurrão, e que apenas uma pequena coisinha, pode gerar o caos e consequências com proporções gigantes para nós, e para os outros. E isso desde que o mundo é mundo, vide Adão e Eva: só bastou uma cobra e uma maçã para mudar tudo.  

The Consultant chega em 24 de fevereiro no Prime Video.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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