A estreia tímida de The Capture não tira o peso ou a importância que a série britânica tem, nem a qualidade que é entregue aqui, onde apenas vemos que ela está realmente acima da média de outras produções do gênero. O suspense estreou seus 6 primeiros episódios na StarzPlay, e não fica aquém de nenhuma outra série de qualquer outra plataforma de streaming maior e mais robusta.
Exibida primeiramente no canal BBC, The Capture funciona muito bem como uma série semanal quanto em formato de maratona, afinal entrega episódios com ganchos insanamente viciantes de um para o outro. Tensa e cheia de reviravoltas, The Capture faz uma série em que nada é o que parecer ser e que às vezes encontrar a verdade é apenas uma questão de olhar a situação com outros olhos.
Os paralelos com a ótima Bodyguard, ou como chegou aqui no Brasil, Segurança em Jogo são gigantes, onde The Capture poderíamos dizer ser uma prima do drama estrelado pelo ator Richard Madden. Essa nova série, também é britânica, tem o mesmo jeitão misterioso, e ainda nos entrega uma trama que envolve teoria da conspiração e personagens super ambíguos. E esse é o principal trunfo da série, bem mais que nomes conhecidos no elenco principal.
Liderados pelo ator Callum Turner, mais conhecido pelos fãs por participar da franquia Animais Fantásticos, temos aqui um personagem complexo e cheio de pequenas nuances que são desvendadas ao longo da temporada, onde Turner está muito bem no papel. Já sua colega Holliday Grainger, que interpreta a detetive Rachel Carey, também está bem, mas convence pouco como a funcionária rebelde, mas extremamente inteligente do governo britânico que recebe um caso de uma mulher (Laura Haddock) que foi agredida por um soldado (Turner) em um ponto de ônibus, onde o evento foi gravado nas câmeras de tráfego da cidade.
Claro esse é o ponto de partida da trama, e para isso The Capture gasta boa parte do seu primeiro episódio para ambientar o espectador na história, em dar uma contextualização de quem são os personagens, e como eles foram parar nessa situação chave que move a série.
Num primeiro momento, em The Capture somos apresentados apenas para um trecho da foto, onde, aos poucos, a série amplia nossa visão para outros lados dessa imagem, em que conseguimos vemos a figura em sua totalidade, e é possível conectar os pontos dessa trama ousada que se apresenta para nós. E claro, isso leva um tempo. Como falamos, The Capture, assim como, em Bodyguard, brinca durante boa parte dos episódios com as dualidades dos personagens, e de qual lado da história cada um deles está.
O roteiro da série se garante em apresentar os personagens e ainda brincar com cada uma de suas motivações, e que claro, mostrar que todos eles escondem mais do que apresentam num primeiro momento. E isso vai do soldado Shaun Emery (Turner), que voltou da guerra há pouco tempo e já havia sido julgado por crimes de guerra, pela detetive Carey (Grainger) que acaba de assumir um novo posto na polícia inglesa e precisa se provar para seus superiores, até mesmo pela advogada Hannah Roberts (Laura Haddock) que já havia defendido Emery e parecia que iria dar uma chance para o rapaz deles se envolverem romanticamente, mas o que acontece é que some lá nos primeiros episódios.
Assim, a teia de mistérios e conspirações só cresce quando o vídeo, que é a única prova que poderia comprovar o desaparecimento da jovem, é classificado como um vídeo de interesse do governo sobre segurança nacional. Até ele aparecer on-line e causar uma verdadeira caçada contra o soldado.
The Capture abre uma caixa de pandora onde a série fala sobre privacidade nos tempos atuais, corrupção, manipulação, e claro o poder das fake news. A chegada da dupla de personagens, a investigadora Gemma Garland (Lia Williams) e do misterioso Frank (Ron Perlman) no caso movimenta a trama, onde o espectador deverá ficar na ponta do sofá para saber o que acontece com o Shaun Emery, como o soldado irá provar sua inocência, isso se ele mesmo for inocente, e não o responsável por aquilo que é mostrado no vídeo, mas que ele alega não ter feito.
Ao longo da temporada, The Capture se preocupa em contar sua história aos poucos, mas sem enrolação nenhuma, claro, por conta da temporada curta, em que isso acaba por ser extremamente benéfico para a série que não enrola, vai direto ao ponto, e ainda, consegue garantir diversas reviravoltas ao longo dos episódios.
O destaque fica para o trio de episódios 1×03 – A Caçada em que Shaun tenta limpar seu nome, 1×04 – Pontos Cegos em que as linhas entre quem é aliado ou inimigo são de determinadas, e no ótimo 1×05 – Peregrina da justiça que conta a história que vimos nos primeiros episódios só que com um outro olhar e um outro ponto de vista.
O final da temporada por mais intenso que seja acaba apenas por deixar a trama em aberto para ser concluída na próxima temporada, por mais que para quem os escreve a série poderia finalizar sua história nesse último episódio.
Com todas as cartas na mesa, alianças inesperadas, e um sentimento de o que pode vir por ai, The Capture termina seu primeiro ano em um alto e bom tom e consegue capturar a atenção do espectador em uma produção cuidadosa em seus detalhes, sua história e em desenvolver seus personagens. Um acerto para o modesto catálogo da StarzPlay no Brasil que cresce a cada dia e merece sua atenção.