2023 tem se consagrado por entregar uma tendência bem específica em Hollywood: filmes sobre produtos. E principalmente produtos que marcaram épocas e gerações. Foi assim com o longa Air sobre o tênis Air Jordan no começo do ano, de uma certa forma com o mega sucesso Super Mario Bros, mas também Barbie, o longa do salgadinhos, e na Apple o longa de Tetris.
E a plataforma aqui lança mais um desses projetos com The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias (The Beanie Bubble, 2023) que acompanhou a trajetória das bonecas de pelúcia que foram febre nos EUA nos 90.
É um nicho bastante específico, um produto bem específico, lançado em um momento bem específico da história americana e no contexto social e político que a sociedade do país vivia. Mas graças ao roteiro, e de certa forma as atuações fenomenais, a história da ascensão e da queda do fenômeno cultural e empresarial que foi as bonecas Beanie entrega um bom e divertido filme.
E realmente o ator Zach Galifianakis (que eu particularmente nunca dei muita bola) está muito bem no papel como Ty Warner, o CEO da Ty, Inc que realmente abriu as portas para as empresas de brinquedo serem o grande conglomerado que são hoje em dia. Mas como vemos em The Beanie Bubble, por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. E aqui o longa apresenta 3 delas que passaram pela vida do empresário em momentos distintos de sua vida, onde a história conecta essas mulheres ao contar basicamente a mesma coisa: como elas influenciaram as ideias e as decisões que o empresário teve e o que o levaram a comandar uma empresa multibilionária durante quase duas décadas.
Cheio de reviravoltas corporativas, um humor afiado, e non-sense mas que combina com o que Hollywood tem debatido atualmente, The Beanie Bubble entrega um conto de empoderamento bastante interessante e extremamente atual para os dias de hoje, mesmo anos depois de ter acontecido realmente.
E se Galifianakis está bem, o mesmo dá para dizer das atrizes escolhidas para interpretar essas mulheres: Elizabeth Banks, Geraldine Viswanathan e Sarah Snook. Com personagens distintas entre si, e com as próprias atrizes por entregarem atuações bem diferentes, o trio dá o nome para The Beanie Bubble na medida que Robbie (Banks), Maya (Viswanathan) e Sheila (Snook) passam pela vida de Ty e o ajudam, direta ou indiretamente a tocar o negócio. O longa coroa o bom trabalho dessas atrizes no ano em outros projetos.
A decisão narrativa do roteiro de Kristin Gore (baseado no livro The Great Beanie Baby Bubble: Mass Delusion and the Dark Side of Curte) em contar a narrativa fragmentada, na visão individual das três protagonistas, no começo soa uma decisão que não parece ser muito interessante, mas quando as peças que Gore (que também dirige o longa) começam a se juntar para ajudar a mostrar onde o longa quer chegar e fazer sentido, fica claro que a escolha é a mais da acertada, para compreendermos tudo que envolve o que esses personagens passam e as relações que elas tiveram individualmente com Ty.
E assim, enquanto as trajetórias de Robbie, Maya e Snook não se cruzam, The Beanie Bubble segue por apresentar a história desde do começo, onde vemos Robbie e Ty criarem a empresa juntos, depois que o pai dele morre, e o marido dela fica extremamente doente e os dois não estão em uma boa fase.
O faro comercial de Robbie e as ideias, e design, de Ty criam um novo tipo de vertente para a indústria de brinquedos na medida que as pelúcias criadas por eles se tornam um sucesso monstruoso de vendas. E claro que durante os anos, a dupla começou um relacionamento, brigou, se acertou, gastou o dinheiro que receberam e tudo mais. E Banks e Galifianakis vendem essa parte mais “”bate e assopra” desses personagens, nesse momento, muito bem.
Até que a ideia de se expandir a empresa para fora dos EUA se mostrou um impasse no melhor estilo Eduardo Saverin e Mark Zuckerberg em A Rede Social, onde Robbie e Ty ensaiam um término corporativo. Mas é claro que tem mais coisa nessa história.
E o mesmo vale para a jovem Maya (Viswanathan, mais uma vez ótima) que começa a trabalhar na Ty, Inc “apenas para pagar as contas” e depois de anos assume a figura de “chefe informal” da empresa, mas nunca é recompensada financeiramente. O boom da tecnologia, e a chegada da internet nos anos 90, dá para a Ty, Inc a possibilidade de expandir os negócios de uma forma relativamente inédita para a época. E essa jornada pelo digital, pelas ideias de Maya ajudam a empresa a se tornar um fenômeno ainda maior na medida que as bonecas Beanie viram itens de colecionadores e a demanda é muito maior que a oferta que a empresa oferece e leva a empresa a faturar “de milhões para bilhões.”
E com a sociedade americana abraçando o capitalismo de uma forma sem precedentes no final dos anos 80 e começo dos anos 90, as pelúcias Beanie são uma febre. O momento que o caminhão cai e espalha as pelúcias pela rodovia é um dos pontos mais divertidos do filme (e isso aconteceu de verdade) e deixam Viswanathan e Galifianakis brilharem em diversas cenas.
E paralelamente vemos a personagem de Snook (ainda com alguns poucos vestígios de Shiv de Succession, afinal teve ter filmado o longa perto das gravações da temporada da atração) que entra na vida pessoal de Ty junto com as filhas e representa o lado não tão corporativo do empresário mas que também é fundamental para o sucesso da empresa, quando as garotinhas dão ideias sobre produtos e o que as crianças gostariam que a marca fosse.
Assim, o texto de The Beanie Bubble ao costurar todas essas narrativas vai por pintar um quadro sobre os relacionamentos abusivos, no sentido psicológico, que essas mulheres tinham com o empresário e como elas resolveram sair dele para melhor. Os momentos finais onde vemos os destinos de cada uma delas são muito interessantes e realmente empolgantes de se assistir e torcer e deixam o filme um sabor satisfatório de justiça.
No final, The Beanie Bubble pega essa história extremamente única, e peculiar, e entrega um filme de apelo universal marcado por atuações maravilhosas de quatro atores que estão muito bem. Uma boa aposta para se assistir no streaming sem dúvidas.
Onde assistir The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias?
The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias chega em 28 de julho no AppleTV+