Are you talking to me? Robert De Niro e filmes de máfia são basicamente duas palavras que vivem juntas na mesma frase. E aqui em The Alto Knights: Máfia e Poder (The Alto Knights, 2025) é mais um caso que De Niro interpreta um gangster, envolvido com máfia, e atividades criminosas em uma Nova York da época.
Sim, toda a trama de The Alto Knights: Máfia E Poder pode soar batida, e até é de certa forma, mas o que o longa do diretor Barry Levinson (que trabalhou com DeNiro no telefilme O Mago das Mentiras estrelado pelo ator ao lado de Michelle Pfeiffer para HBO lá em 2017) tem de especial e de novo, é que o veterano de Hollywood interpreta dois personagens diferentes e ambos são os protagonistas do filme.
O ator tem variado entre fazer comédias pastelões e esses filmes mais sérios nessa etapa da sua carreira, e com The Alto Knights: Máfia E Poder até que ele tá bem de volta para os holofotes por conta deste projeto que foi adiado pelo estúdio, ficou no limbo por um tempo, então foi que foi jogado para Março com pouca divulgação, e também da série Zero Day (que foi lançada na Netflix meio de que qualquer jeito também).
Dito isso, é sempre bom ver o ator atuando, independente do projeto. Mesmo que baseado numa história real, com figuras reais que existiram e brigaram de verdade, e que geraram um certo tipo de curiosidade, e até mesmo por conta de um texto cheio de pequenas reviravoltas na trama escrito por Nicholas Pileggi (que trabalhou com DeNiro em Os Bons Companheiros) e costura para esses personagens, The Alto Knights: Máfia E Poder acaba por entregar alguma coisa mais do mesmo, sabe?
Digo por que essa história de dois amigos que frequentavam o mesmo clube (chamado Alto Knights e que dá o título para o filme) quando jovens, fizeram fortuna com atividades ilegais, e depois de anos começaram a lutar pelo controle das atividades criminosas de Nova York soa tão batido e foi muito mais bem contada em outros momentos, e alguns nem tão recentes como é o caso da série Pinguim e até mesmo o novo Demolidor, por exemplo.
E nesse conto de “adoro ser seu amigo!” e “amigos & rivais” que é apresentado por Pileggi, o longa tenta criar certos recursos narrativos para prender a atenção do espectador para essa trama de golpes, traições e amizades abaladas que se desenvolvem ao longo dos anos na medida que vemos Vito Genovese (De Niro) voltar para os EUA depois de anos exilado, e querer um pedaço, ou melhor, a torta toda, que representava o sindicato de crime que Frank Costello (também De Niro) tinha cultivado desde da época da Lei Seca americana, passando pelo final de 2ª Guerra e início dos anos 60.
Assim, a relação entre esses dois amigos, imigrantes, e que se tornaram membros extremamente poderosos e influentes, mesmo que completamente diferentes em termos de personalidades e tato se vem novamente no mesmo lugar, depois de anos separados e que retornam a se encontrar e partem para negociar esse grande bolo é que acaba por ser o fio condutor que reage o longa.
Claro, se De Niro é muito bom de assistir, imagina assistir De Niro, colocado digitalmente ao lado de outro De Niro? Mas mesmo assim ainda falta alguma coisa que faça o longa engrenar e empolgar. Afinal, quanto mais o roteiro de Pileggi se apoia em construir a narrativa baseado nas diferenças entre os dois, e as personalidades dos dois, e o que um faz, mais tudo isso é apenas um guia para a trama avançar e principalmente para desenrolar os eventos e nos mostrar as consequências que essa rixa tive nos negócios ilegais que eles conduziam e por tabela acabou por efetivamente expôr os sindicatos mafiosos de todos os cantos do país, e seus líderes, para o governo americano e para um recém FBI que fazia vista grossa para a situação.
Acho que De Niro está muito bem e extremamente competente aqui e segura bem o desafio de interpretar dois personagens completamente diferentes, e que ao mesmo tempo, quando estão em tela, você fica aí o Robert De Niro!
Mas, talvez, o elenco que cerca o veterano não esteja na mesma sintonia. É o caso de Debra Messing (atriz mais conhecida pelo seu lado cômico por conta da série Will & Grace) que interpreta a esposa de Frank, a socialite Bobbie Costello, e também de Cosmo Jarvis (vindo do mega sucesso que foi a série Xógum) que aqui interpreta, e está basicamente irreconhecível, como Vincent ‘The Chin’ Gigante, um mafioso de baixo escalão que trabalhava para Genovese que teve a missão de matar Frank, uma noite que o mesmo voltava para casa, e que errou o tiro.
E boa parte do elenco dá esse sentimento de filme de streaming (esse aqui particularmente deve ir muito bem na Max daqui alguns meses) e para essa história. Mas, é meio que isso né? Mesmo com esse jeitão de série HBO de domingo à noite, The Alto Knights: Máfia E Poder tem o nome de De Niro no pôster, e não só uma, mas, duas vezes.
Então é claro, que é compreensível entender porque tivemos um lançamento nos cinemas para The Alto Knights: Máfia E Poder, já que Levinson consegue de certa forma dar um ar um pouco mais cinematográfico para o longa. E não só nas escolhas e ângulos para como essa história vai ser contada, e sim, por conta de diversas outras pequenas questões técnicas.
Os figurinos dos anos 30, 40 e 50 são extremamente bem feitos e que chamam a atenção pela fidelidade e pelo nível de cuidado das vestimentas e que ajudam a contar a história entre esses dois amigos, um mais polido, que frequentava a alta sociedade, os políticos, empresários e tudo mais que bebiam as bebidas ilegais e que tinham sua rede de contatos entre si, e outro mais grosseiro que resolvia tudo na base no grito e na bala.
Na medida que uma situação matrimonial entre Vito e a esposa Anna (Kathrine Narducci que trabalhou com De Niro em O Irlandês) leva os dois para o julgamento, os nomes que antes ficavam nos bastidores e nos acordos informais entre cavalheiros ganhavam a luz do dia, numa época, onde a TV ainda engatinhava e o jornal era um dos principais meio de comunicação. E enquanto Frank e Vito dão seus socos invisíveis, The Alto Knights: Máfia E Poder avança pela trama com depoimentos de Castello em tela como se estivéssemos o personagem contando sua história.
Como falamos, são esses poucos recursos narrativos que dão um toque e uma diferença para The Alto Knights: Máfia E Poder, onde depois de quase 2 horas pareceu que já tínhamos visto aquilo em diversas outras oportunidades. E como diz um dos personagens ao longo do filme: “Ou você está dentro… ou está fora.” você não precisa reinventar a roda, mas tenha certeza que a roda está girando pelo menos. Mesmo que você tenha Robert De Niro em dose dupla no seu projeto. Ainda assim não é garantia.
The Alto Knights: Máfia e Poder chega em 20 de março nos cinemas nacionais.