sexta-feira, 15 novembro, 2024
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Tetris | Crítica: Longa sobre o famoso jogo encaixa todas as peças e consegue fazer um bom filme

Sem dúvidas que o jogo Tetris é um dos mais conhecidos do mundo. Impossível não saber o que é, ou como que funciona sua dinâmica de colocar blocos nos lugares certos, até completar uma linha e eles desaparecerem. O que talvez não seja tão conhecido é a história de como esse viciante, e relativamente simples, game foi parar nos principais consoles do mundo e virou a febre que foi, e ainda é, por aí.

E essa é a premissa do divertido e espirituoso longa Tetris (2023): contar a maluca, e cheia de reviravoltas, história de como um jogo criado por um russo em plena Era da União Soviética, conseguiu chegar no ocidente e vender milhões de cópias.

Taron Egerton, Sofia Lebedeva e Nikita Efremov em cena do filme Tetris.
Foto: Courtesy Of Apple Studios. All Rights Reserved.

E igual ao jogo, Tetris, o filme, consegue nos fazer ficar obcecado com essa história, e seu desenrolar, onde o roteiro de Noah Pink (responsável pelo longa Esta é a sua Morte de 2017) consegue encaixar todas as peças e nos entregar, surpreendentemente, um bom filme.

Bem mais do que apenas ser um filme biográfico, wikipédia, sobre uma empresa, e seu produto, Tetris, se apoia na natureza competitiva de seus personagens, para nos entregar um drama de espionagem corporativa no meio do caos da Guerra Fria, onde União Soviética era estritamente rigorosa com o que, e quem, entrava no país, e também o que saia dele.

É como se Pink pegasse literalmente as partes mais caóticas, e também mais surreais dessa história, e colocasse num molde de um longa de suspense em que nunca sabemos para onde essa trama vai e o que poderá acontecer com esses personagens.

Tetris é uma mistura de Ruptura (também da AppleTV+) com as séries The Americans e Halt And Catch Fire e encaixa tudo isso perfeitamente com o excelente texto de Pink, a atuação carismática de Taron Egerton e a edição divertida e espirituosa que o diretor Jon S. Baird coloca para o longa.

Para os fãs de videogame, o longa é uma grande aula sobre a história de um dos maiores jogos de todos os tempos, cheio de easter-eggs, e fases que esses personagens precisam vencer na medida que boa parte estão em busca pelos direitos do jogo criado pelo russo Alexey Pajitnov (Nikita Efremov, muito bem). 

Assim, Tetris faz uma corrida maluca oitentista, com uma trilha sonora de época muito bacana, e com uns visuais super interessantes (animações em 8 bits que ajudam a contar a trama e a quebrar um pouco a seriedade do longa) para contar essa história de quem tem a melhor lábia e quem vai se dar bem com a expansão do jogo para ocidente. Bem mais preocupado com a estética visual, e contar essa história como se fosse um tipo de fábula, em vez de se preocupar com datas, e locais, e pessoas, Tetris consegue fugir de ser um filme propaganda.

O longa foca no personagem de Egerton, um programador carismático que atua na área de vendas chamado Hank Rogers que um dia cruza caminho com um jogo que vai mudar sua vida. Altamente viciante e com um potencial comercial enorme, Rogers vê em Tetris (o jogo) uma oportunidade de ouro, e única, conforme ele fala para o gerente do banco (Rick Yune) que ele deve rios de dinheiro, na medida que ele vende o jogo e pede mais dinheiro emprestado e hipoteca a própria casa. Ele precisa dos direitos de Tetris, e principalmente, os direitos para lançar o jogo juntamente com a grande novidade que a Nintendo preparava, secretamente, na época: o aparelho de Game Boy. 

Esqueça a disputada EUA X União Soviética marcada pela corrida espacial alguns anos antes, o que temos aqui é a corrida pela dominação do mundo dos games. É interessante como o filme leva um tempo para compreendermos como funciona a mente do protagonista de Egerton que o cria cheio de camadas e complexidades para depois chegar efetivamente na parte um pouco mais dinâmica do filme.

A ida para a União Soviética, a ilusão de que seria apenas chegar e pedir para dar uma oferta pelos direitos dos jogos para o responsável local Nikolai Belikov (Oleg Stefan), e o jogo de gato de rato com os oficiais da KGB, liderados pelo implacável chefão da organização de inteligência soviética Valentin Trifonov (Igor Grabuzov), dão para o longa um sentimento de paranóia muito bacana, e de que tudo pode dar errado, para todo mundo. 

Nikita Efremov em cena de Tetris.
Foto: Courtesy Of Apple Studios. All Rights Reserved.

E na medida que fica claro que não é só Rogers que quer os direitos dos jogos, e vemos que Tetris é cobiçado por mais outras pessoas, como o 171 vendedor Robert Stain (Toby Jones, ótimo aqui), e ainda um magnata russo que mora na Inglaterra e domina um império de Mídia chamado Robert Maxell (Roger Allan) e seu filho Kevin (Anthony Boyle), quer dizer, o Sr. Maxell, o longa coloca todas essas figuras na mira do exército soviético e que como falamos, o longa cria um sentimento de mistério para sabermos o que vai acontecer, e quem vai levar a melhor. Isso claro, se você não souber nada da disputa dos direitos de Tetris, claro. 

O filme dá suas voltas em suas quase 2 horas, para as peças caírem no lugar certo, mas nada que prejudique a experiência, afinal, o longa compensa o espectador de outras formas. Egerton lidera o elenco aqui, e mais uma vez, se mostra um excelente ator que merecia mais destaque em Hollywood e Baird sabe usar, e destacar, o carisma de Egerton por trás do bigode marcante.

No final, Tetris consegue transformar uma história um pouco complexa, e embolada, num filme divertido e que garante bons momentos. A cada minuto, a cada bloco e a cada fase, o longa entrega passagens muito bem feitas e que contextualizam a época que passa e que nos deixa vidrados para sabermos o que vai acontecer, assim, como é quando jogamos Tetris, o jogo, hoje em dia, nos celulares, tablets e tudo mais. 

Avaliação: 3.5 de 5.

Onde assistir Tetris?

O longa estará disponível no AppleTV+ em 31 de março.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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