domingo, 24 novembro, 2024
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Tempo | Crítica: M. Night Shyamalan aposta num filme claro e praiano sem deixar de entregar uma boa dose de suspense

M. Night Shyamalan é um daqueles diretores que são o famoso caso do ame ou o odeie, e um dos profissionais mais 8 ou 80 em Hollywood que temos atualmente. E mesmo assim, as pessoas sempre estão na expectativa para assistirem seus próximos filmes e o que ele vai fazer em seguida, mesmo que leve um tempo para o diretor embarcar em novas empreitadas.

E com Tempo (Old, 2021) não foi diferente.

Cercado de mistério, desde do título, até o que seria propriamente dito a trama, Shyamalan foi ao longo dos últimos tempos construindo um certo hype para o projeto. Com o anúncio do elenco com nomes que vem ganhando destaque em Hollywood em outras produções de terror, um grande mistério foi criado e cercou Tempo, onde ficou claro que só o tempo diria se o filme cairia na graça do público, e iria para qual lado dentre a vasta cinematografia do diretor: do lado daqueles que gostaram ou daqueles que não gostaram de seu filme.

Tempo – Crítica
Foto: Universal Pictures

E no final, Tempo faz (para mim!) um dos filmes mais pé no chão do diretor e que também não deixa de ser divisível ou polêmico em sua proposta. Tempo faz também um dos filmes mais cabeça e filosófico do diretor, onde o que temos aqui é o puro conceito do que é debatido. Enquanto vemos os personagens nessa misteriosa praia, a trama deve tocar individualmente cada um dos espectadores e nos fazer indagar o que acontece em paralelo as mesmas coisas para nossas vidas, onde nos fazemos as mesmas perguntas que os personagens do filme se perguntam ao longo dele. Com uma estética totalmente clara, e um ambiente solar e com cores pastéis, Tempo não chega a ser propriamente um filme de terror (como o diretor mesmo afirma em bate-papo com o site), mas sim uma produção que brinca com suspense, as incertezas, e com um sentimento angustiante que tudo vai dar errado para os personagens em algum momento. Bem e dá.

E Tempo tem as famosas viradas no roteiro, e um gancho que você espera acontecer algo que mudará toda sua visão da história, sim. Uma característica clássica de Shaymalan para seus projetos, e que aqui, certo como o relógio vai chegar no número 12 de tempo em tempo, pelo menos duas vezes ao dia, acontece também. Mas com Tempo parece que o diretor e roteirista se preocupa mais em dar a chance para esses personagens desabrocharem em tela, e dá tempo, para vermos como eles lidam com essa situação no mínimo caótica. Um dos méritos de Shyamalan é que Tempo não te dá tempo para sentir nada além de ansiedade e angústia para sabermos o que, e como coisas que acontecem, afinal, elas são muitas, e que se desenrolam numa velocidade tão grande, e basicamente o tempo todo.

Seja a chegada da família Capa ao resort, onde eles acham que vão ter dias relaxantes de férias, até mesmo a ida para a tal praia misteriosa. Desde do começo em Tempo, tudo é muito estranho naquele local – ah lá The White Lotus (a nova série da HBO) ou até mesmo qualquer encarnação de A Ilha da Fantasia – desde da forma como tudo se apresenta pelas mãos do funcionário (Gustaf Hammarsten) que lidera o local que parece tão perfeito e idílico, como se os personagens estiverem em um sonho. Mas ao assistirmos o filme, sabemos que lá no fundo, alguma coisa está errada e ficamos na expectativa de qualquer coisa acontecer com esses personagens que pouco sabemos quem são, ou seus passados, e que são revelados quando eles se encontram presos na praia que os fazem envelhecer rapidamente.

Assim, o roteiro de Shaymalan instiga o espectador com os mistérios da trama, e por conta do ar mais teatral, e a locação quase única da praia, tudo tem um ar um pouco conspiratório e que nos faz criar diversas situações/cenários sobre o que é, o que significa aquilo, e o que realmente acontece com esses personagens. E para isso, Shaymalan se cercou de atores que realmente se garantem em transmitirem a angústia que seus personagens passam. Os talentosos Gael García Bernal como Guy e Vicky Krieps como Prispa, um casal que precisa colocar o seu relacionamento desgastado de lado e a beira de rompimento, precisam lidar com o fato que seus filhos crianças Maddox (​​Alexa Swinton) e Trent (Nolan River) agora são adolescentes, onde Maddox (Thomasin McKenzie) está com 16 anos e Trent (Alex Wolff) tem agora 15 anos, mudaram rapidamente de fisionomia e se tornaram figuras irreconhecíveis para eles em poucas horas. McKenzie e Wolff se destacam dos demais ao criarem personagens crianças nos corpos de adolescente que comprovam que a dupla é mesmo uma das grandes promessas para o futuro de Hollywood. Os dois estão bem o tempo todo.

Tempo
Tempo – Crítica
Foto: Universal Pictures

E o mesmo vale para todos os outros hóspedes que também foram na tal excursão para o local afastado em busca de curtirem uma tarde num paraíso tropical, mas acaba por se tornar um grande pesadelo. Como o casal formado pela instagramer Crystal (Abbey Lee) a esposa troféu do prepotente médico Charles (​​Rufus Sewell), a sogra, e a filha deles Kara (Kylie Begleye/Eliza Scanlen), o rapper Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre) que se vê envolvido com um dos acontecimentos estranhos que tomam conta do lugar, e ainda o casal Patricia (Nikki Amuka-Bird) e Jarin (Ken Leung), onde a primeira sofre de convulsões e que precisam ser observadas e que são importantes para o desenvolvimento da trama. 

Assim, ao nos apresentar esses personagens, Shaymalan usa sua câmera para nos posicionar nesse local, como se fossemos uma pessoa imaginária ao lado dessas pessoas, em que vemos a história quase como alguém que estivesse lá com eles. Ao ficarem presos na praia, o espectador também fica, onde o diretor consegue transmitir esse sentimento estranho de falta de ar, mesmo eles estando em céu aberto numa praia tropical. Em termos de história, o roteiro escrito por Shaymalan (baseado na graphic novel Sandcastle) coloca pistas ao longo de todo o filme, seja na primeira parte da estadia deles no resort, até mesmo nos eventos que acontecem na praia já com o tempo contra deles, e que, para nós espectadores, servem para tentarmos decifrar o que acontece nessa praia e como alguns detalhes desses acontecimentos que se desenvolvem na medida que a noite chega e eles vêm suas idades, corpo e mente mudarem para um estágio mais avançado de suas vidas e que levaria anos para eles atingissem, e servem para darmos um fecho nessa história.

Quando Tempo avança na história e realmente chega no ponto sem retorno que Shaymalan poderia encerrar o filme sem nenhuma explicação (como o seu habitual) ou colocar os pontos no is (e nos explicar o que realmente acontece por aqui), curiosamente o diretor opta pela segunda opção e como um bom episódio de Black Mirror ou de The Twiight Zone, o diretor resolve contar tintin por tintin tudo que realmente aconteceu na praia. Sem deixar a peteca cair e nos mantendo em nossos assentos para saber o que vai acontecer com esse grupo, Tempo definitivamente é um filme de Shaymalan com reviravoltas e um final divisivo.

Assim, Tempo entrega uma viagem por dentro de um conceito assustador, onde talvez é uma das poucas certezas que temos na vida: a que não dá para fugir de um dos maiores e mais assustadores antagonistas que existe, o tempo em si, e o medo das coisas que ele pode fazer. No final, com Tempo temos um filme para se fazer pensar e ficar com ele martelando em sua cabeça durante um bom tempo.

Avaliação: 3.5 de 5.

Tempo chega em 29 de julho nos cinemas nacionais pela Universal Pictures.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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