terça-feira, 05 novembro, 2024
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Spencer | Crítica: Artístico, Spencer expõe medos e angústias de Diana através da atuação poderosa de Kristen Stewart

A morte de Diana, a Princesa de Gales completa 25 anos em 2022. E no aniversário de um quarto de século que uma das figuras mais icônicas da História nos deixou, o frenesi para celebrar e honrar a Princesa do Povo é lembrado com diversas adaptações. Temos peça na Broadway, e por exemplo, a série The Crown que trouxe de volta à tona a lupa que a família Real inglesa sempre teve aos olhos do público chegou em sua temporada anterior no momento em que Diana adentra na toca dos leões, conhece e se casa com Charles. O casamento de conto de fadas.

Mas aqui no longa de Pablo Larraín, rumo a sua trilogia de contar histórias sobre mulheres importantes para a História do mundo, faz o contrário. Larraín desmistifica o “E eles viveram para sempre” e o casamento de conto de fadas vira do avesso e resolve focar no desmoronamento da relação entre Charles e Diana, e na fragilidade que o casamento estava nos últimos momentos, e dando seus últimos suspiros.

Kristen Stewart, Jack Nielen e Freddie Spry em cena de Spencer
Foto: NEON/Diamond Films.

Com uma forte ambientação fantasmagórica e completamente angustiante de se assistir, o Spencer de Larraín e o roteiro de Steven Knight, expõe medos e angústias de Diana, aqui uma que pende entre ser apenas Diana Spencer, uma aristocrata como várias que a Inglaterra teve, e Diana, a Princesa de Wales e membro da família real britânica. E essa oscilação entre esses dois  mundos, essa dualidade gigante que a Diana sofria, é criada, apresentada, e construída formidavelmente pela jovem atriz Kristen Stewart.

Não tem para ninguém, Stewart é um dos nomes que mais se destacam na temporada, mesmo esnobada pelo Sag Awards.

Spencer faz um filme todo criado e executado pela atuação de Stewart que aqui reluz mais que as jóias cintilantes, os vestidos pomposos, e o castelo suntuoso que o filme a envolve. Stewart ultrapassa todo esse cenário monumental que Larraín coloca para contar essa história e faz o melhor papel de sua carreira que ultrapassou em muito o seu começo no polêmico Crepúsculo. A atuação de Stewart é calor, é vida, no meio desse castelo frio, claustrofóbico, e gelado que representa as amarras da Família Real em Diana.

Na trama, vemos a família Real se reunir em uma de  suas diversas propriedades para comemorar as festas de final de ano. O que parecia mais um evento qualquer na abarrotada agenda de compromissos dos membros da realeza se tornará alguma coisa que logo após essa época colocaria todos eles no olho do furacão. Durante esses dias, é quando alguma coisa clica dentro de Diana que faz não querer mais  “se comportar” como era esperado dela. Afinal, os filhos já estão mais crescidos, o relacionamento com Charles chega a beira do insuportável e as esperanças que ela tinha do seu casamento de conto de fadas continuar é sempre minado pela presença de outra pessoa, sempre ali à espera, e sempre à vista.

Claro, esse é o resumo do que sabemos. E Larraín nos coloca para dentro das imponentes paredes desse castelo para vermos uma versão do que poderia ter acontecido nesses dias. A precisão histórica é deixada para os estudiosos da monarquia, a trama mais dramática para a série The Crown, e aqui Larraín aposta em uma visão quase única, num olhar um pouco mais fantasmagórico e que apela para o estado mental que Diana vivia. Larraín desconstrói ainda mais a figura perfeita de Diana que era vista pelo público. A bulimia (um assunto polêmico até os dias de hoje), os surtos de emoção, e a fragilidade emocional que Diana passava, sem contar a aterrorizante sensação de estar sendo vigiada tanto pelos paparazzi, pelos outros membros da família real, e pelos serviçais aqui representado pelo ótimo Timothy Spall.

Kristen Stewart em cena de Spencer
Foto: NEON/Diamond Films.

E para isso Stewart tem o papel que marca  sua carreira aqui com Spencer. Desde da cena inicial que ela, dirigindo sozinha em seu conversível, para numa lanchonete no meio do nada para pedir informação, ou na cena em que é obrigada a se pesar numa “tradição da monarquia” logo quando chega, até ainda nas suas duas melhores cenas do longa Stewart personifica Diana, não pela semelhança física, mas pelo tom de voz, pelas expressões faciais. Aqui, os destaques realmente ficam com a passagem do jantar em que Diana sente o peso do colar de pérolas e do vestido escolhido a dedo para ela e claro, a cena com Charles (Jack Farthing) na sala de jogos, onde as cartas são colocadas na mesa e o sentimento de tensão emana durante os minutos que vemos o casal real discutir e ferir um ao outro com palavras duras e afiadas. 

Spencer é marcado pela sutileza de como essa  história é contada, numa forma onde tanto Larrain quanto Stewart colocam suas marcas em como contar essa história de uma forma única e em sua própria maneira. Uma combinação belíssima de se assistir, sem dúvidas nenhuma, num dos filmes mais bonitos da temporada.

Avaliação: 4 de 5.

Spencer chega nos cinemas nacionais em 27 de janeiro.


Miguel Morales
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