Todo canal, e serviço de streaming, está na busca por um Game of Thrones para chamar de seu. Aquele hit global que une diversas pessoas no mesmo assunto. Aquele seriado que chama a atenção do público e movimenta a conversa toda a semana. Para a Apple, até agora, tem sido uma comédia sobre um time de futebol britânico, e um drama sobre o ambiente de trabalho.
Mas talvez as coisas estejam finalmente de mudança com a chegada da série Silo, agora em maio, no Apple TV+.
Com 10 episódios, a atração é baseada na série de livros de mesmo nome que compõe uma trilogia, e faz um daqueles dramas distópicos que foram impulsionados pelo fenômeno Jogos Vorazes na década passada. E Silo tem esse jeitão de Jogos Vorazes, com Lost, com Snowpiercer, que deve agradar o espectador na medida que conhecemos esses personagens que vivem em um bunker subterrâneo gigantesco e fechados sem contato exterior.
Por conta de uma revolução há vários anos, essas pessoas, 10 mil, vivem lá há gerações, e não comentam sobre a vida de antes, afinal, algumas pessoas já nasceram lá e só conhecem a vida no Silo. E o seriado é construído para nos mostrar a vida nesse lugar, num trabalho impecável de cenários, de efeitos especiais, e de locação. A atração é bem imersiva para nos deixar realmente dentro desse local, fechado, escuro e sem ventilação, na medida que a história deixa claro algumas das regras desse bunker entre as diversas que são apresentadas.
Por exemplo, você até pode sair do bunker, no procedimento chamado de Limpeza, mas as condições climáticas fora do Silo não são nada favoráveis, e isso acaba por ser como se fosse uma punição para deixar os moradores em linha. E vimos isso, logo nos primeiros capítulos, quando um dos personagens sai do bunker, limpa a janela, dá dois passos e cai, e seu corpo fica ali para sempre. Mas será que aquilo que esses moradores viram é real? Essa é a grande pergunta que Silo, a série, debate.
Assim, a atração mescla a introdução dessa mitologia que se apresenta para o espectador nos primeiros episódios, e acaba por ser o gás que a série tem para nos cativar e empolgar logo no começo. Afinal, nessa utopia, após uma grande revolução, que prendeu os sobreviventes nesse lugar há anos, as coisas parecem funcionar perfeitamente desde de então, numa sociedade regrada, que soube por anos se adaptar a essas novas condições.
Mas claro, que a atração segura os mistérios, na medida que conhecemos mais do dia-a-dia desse local, e seus moradores, onde o texto nos dá pequenas pistas de que alguma coisa está errada, mas nunca fala isso com todas as palavras. Será que eles tão no caminho certo? Será que tudo não passa de uma grande piração, afinal, a população vive sob a vigilância da organização Judicial que serve como se fosse uma polícia federal do lugar?
O mais interessante de Silo é que junto com esses questionamentos, o seriado nos apresenta também para diversos personagens interessantíssimos, cheio de camadas, com personalidades complexas e que entregam uma história única a cada um deles. Seja o xerife Holston (David Oyelowo, ótimo) e sua esposa Alison (Rashida Jones) que querem engravidar e seguem o procedimento imposto pelo governo do Silo, o técnico de informática George (Ferdinand Kingsley) que tem tem um hobby perigoso em coletar objetos antigos e da vida fora do Silo (o que é proibido pelas leis), Bernard, o chefe de TI com cara de vilão de Bond interpretado por um ótimo Tim Robbins, o chefe da Judicial, o misterioso Sims (Common), a prefeita da grande cidade subterrânea Ruth (Geraldine James), e até mesmo, uma engenheira mecânica Juliette (Rebecca Ferguson) que vive no final desse bunker e comanda a casa de máquinas.
Silo então apresenta esses personagens que vemos começar a se perguntarem as perguntas que nós espectadores temos: por que eles estão ali? Eles sabem o que tem lá fora? E o que acontece se eles forem lá fora?
A série coloca todas essas questões para serem debatidas na medida que a narrativa do seriado começa a fazer esses personagens se indagarem sobre essas questões. Como falamos, é a busca da verdade por conta de uma parcela insatisfeita sobre como as coisas andam e a outra parte que vive comodamente com o status quo. É Snowpiercer, é Ruptura, é Andor, tudo no mesmo projeto, e que consegue se destacar desses outros, e que nos entrega pequenas reviravoltas e pedaços desse quebra cabeça a cada episódio para contar essa história.
Silo entrega pistas a rodo, e cabe a nós observar com cuidado tudo que o seriado oferece, afinal, muita coisa que acontece nos primeiros episódios só são resolvidas lá para o final da temporada.
E para isso Silo não se apoia só no mistério, pelo mistério, para ser o grande fio condutor da atração, e sim em apresentar a relação desses personagens e como eles burlam o sistema opressor e começam a imaginar que o local onde eles vivem, talvez, não seja a única coisa que exista por aí.
É uma grande história contada em 10 horas e que demora para finalmente fazer sentido, mas quando faz, Silo garante que vale a pena ter caído de cabeça nessa narrativa tão intrigante, tão intrinsecamente bem amarrada, que a vontade de voltar e assistir tudo novamente sabendo o desenrolar da trama é muito tentador. E para um algoritmo baseado em horas assistidas, talvez Silo tenha sido construída e desenvolvida para isso, assim como foi Ruptura, um dos melhores drama da atualidade. E, então, você vai querer sair do Silo?
Silo chega com 2 primeiros episódios no dia 5 de maio no AppleTV+ e exibe toda sexta-feira um novo episódio. Serão 10 no total para a primeira temporada.