Sombrio e com uma atmosfera super densa e pesada Sharp Objects nos entrega uma Amy Adams fantástica que brilha e faz uma personagem super complexa e cheia de nuances.
O seriado transmite uma sensação única, bastante cinematográfica e isso se dá graças ao trabalho de Jean Marc Vallée que conseguiu captar em tomadas com um enquadramento super fechado toda a essência dos moradores dessa cidade pequena que parece parada no tempo.
Vallée, que dirigiu também Big Little Lies (HBO), faz aqui novamente um ótimo trabalho ao destacar os medos e preocupações dos personagens, principalmente de sua protagonista.
As cenas na Casa dos Parkers são completamente angustiantes e tensas e acertam exatamente em conseguir transmitir o sentimento que Camille Parker (Adams) passa ao retornar para sua cidade natal depois de tantos anos. Agora adulta, a personagem consegue enxergar com novos olhos situações que quando criança eram diferentes para ela, principalmente, após a morte de sua irmã que acabou por estremeceu a relação com sua família.
E nos dois primeiros episódios liberados para a imprensa, vemos que tanto Vallée quando a equipe de roteiristas conseguem criar bem essa ambientação para o seriado, na trama vemos que ao retornar para investigar uma onda de assassinatos de jovens garotas para o jornal que trabalha, Camille precisa abrir feridas do passado e confortar coisas que estavam adormecidas e encobertas por uma quantidade enorme de álcool e outras substâncias.
Em Sharp Objects, assim como em Big Little Lies, talvez o mais o importante nem é de fato descobrir Quem matou? ou Quem é o assassino? e sim acompanharmos a jornada dos personagens, entrar de cabeça em suas vida e desbravar aqueles pequenos segredos ocultos.
E é isso o que a série faz de uma forma maravilhosamente empolgante, Sharp Objects faz com que o espectador sinta a mesma coisa que os personagens sentem. Além disso, a trama investigativa não é deixada de lado, e o seriado consegue deixar claro que todos na cidade de Wind Gap podem ser os culpados.
Os primeiros episódios 1×01 – Vanish e 1×02 – Dirt nos apresentam as cartas do baralho que vão da Rainha de Copas, a mãe de Camille, Adora (Patricia Clarkson sempre fenomenal), passando pelo Valete, o policial Richard Willis (Chris Messina, muito bem e fora da sua zona de conforto de comédias) e claro os outros moradores de uma típica cidade do sul os EUA, os conservadores, as fofoqueiras e aqueles que fazem de tudo para parecer aquilo que não são.
Produzida pela produtora Blumhouse, Sharp Objects tem um quê de terror psicológico envolvido em suas cenas e em muitas delas nos lembra ao elogiado filme corra! (Get Out, 2016). Como falamos, todas as passagens na casa dos Parkers são muito bem feitas, o seriado usa o som com os rangidos no assoalho para criar um sentimento de proibição gritante. As cenas são cercadas de simbolismos, onde vemos que Camille parece estar em um transe absoluto ao retornar para lá.
As passagens acabam sendo um pouco fantasmagóricas e nos mostram todo um jogo de troca de personagens com as cenas do passado envolvendo a personagem adulta com sua versão jovem. Vista por flashbacks, Camille também é interpretada por Sophia Lillis de It – A Coisa (It Movie, 2017) e a atriz também consegue nos mostrar um pouco mais sobre quem é a personagem e por que ela está nesse estado de espirito.
Serão 7 episódios para essa temporada, Sharp Objects é como olhar a imagem em um espelho quebrado, ela até é perfeita mas cheio de rachaduras. Os pequenos pedaços afiados de vidro parece que irão cair a cada cena, a cada momento e na série conseguimos ver que as coisas parecerem ser perfeitas mas que vão se desfazendo a cada episódio e claro Camille nos mostra que também não tem medo de se cortar.
Sharp Objects estreia no domingo, 8 de julho, às 22h.