segunda-feira, 23 dezembro, 2024
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Dead Ringers | Crítica: Mesmo com ótima Rachel Weisz, série parece confusa sobre o que quer contar

Antes de tudo, vou dizer que eu amo produções que utilizam o artifício de gêmeos, gêmeas e etc e acho que são um recurso narrativo muito interessante quando usado de maneira correta. E em Dead Ringers (no Brasil você poderá encontrar no catálogo do Prime Video como Gêmeas: Mórbida Semelhança) os produtores tem seus acertos e erros com a questão e com a história que quer ser contada aqui.

Rachel Weisz em cena de Dead Ringers
Foto: Credit: Niko Tavernise/Prime Video

Claro, o principal acerto, e o que basicamente quase se sobrepõe aos demais erros, é o fato da produção ser protagonizada pela vencedora do Oscar Rachel Weisz que realmente se mostra grande talento, mais uma vez, de se assistir em tela (depois de sua performance carismática em A Favorita e ter dado uma maior credibilidade para Viúva Negra na Marvel Studios). Aqui temos Weisz, em dose dupla, onde a atriz consegue capturar a atenção do espectador logo de cara, como as gêmeas Elliot e Beverly Mantle, duas médicas de sucesso que compartilham tudo na vida, desde da profissão, do apartamento luxuoso em Manhattan, casinhos amorosos, decepções e tudo mais. 

Weisz é o principal motivo para dar play em Dead Ringers, sem dúvidas. A atriz é uma mestre em conseguir entregar personagens idênticas, mas com personalidades tão opostas que parece realmente que são interpretadas por pessoas diferentes. Weisz dá vida para elas como ninguém, onde aqui temos Elliot, a irmã mais debochada, falante, e ácida, quase uma versão médica de Regina George, e Beverly, o oposto, a irmã mais calada, centrada, e introspectiva, mas que realmente é uma profissional extremamente humana mesmo com todos os seus traquejos sociais.

E Weisz realmente segura as pontas aqui, por que como falamos, Dead Ringers tem seus erros que fundamentalmente afetam a experiência de assistir os episódios, são 6 que compõem a temporada, e que são baseados no livro Twins de Bari Wood.

Ao assistir os episódios eu ficava por pensar: nossa que série doida né? Afinal, a história talvez seja mais conhecida por conta do longa dos anos 80 com o mesmo nome, comandada por diretor cult David Cronenberg, mas aqui as coisas mudam de lugar e a criadora e roteirista Alice Birch foca em uma trama mais feminista. Com a história comandada por uma mulher, Birch consegue com o seu olhar feminino, contar essa história à sua própria maneira, onde aqui a trama foca agora em duas mulheres e fica claro os motivos de por que Birch conta essa história, afinal, ela possui lugar de fala para conta-la.

E sem dúvidas que Dead Ringers entrega, sim, uma trama intrigante, e de aguçar a curiosidade por conta dos acontecimentos que surgem nos primeiros episódios e que desencadeiam as tramas ao longo da temporada. Mas ao mesmo tempo sinto que a atração patina um pouco ao entregar uma série confusa sobre o que quer ser e o que quer focar.

Extremamente conceitual, cheia de simbolismos que pouco agregam para como essa história é contada, e uma aura de pretensão muito grande, Dead Ringers se apoia em muitas cenas feitas para chocar apenas por chocar, sem muito desenvolvimento narrativo de por que estão ali, e que no final fica claro que estão ali apenas porque estão?

Seja nas viscerais, desconfortáveis, cenas dos primeiros episódios que apenas são gráficas por serem, enquanto a atração tenta contextualizar o dia-a-dia das gêmeas Mantle na clínica neonatal que trabalham, ou até mesmo nos diálogos sem pé nem cabeça que acontecem toda a vez que a ricaça Rebecca (Jennifer Ehle) abre a boca, ou a governanta da casa das gêmeas, a misteriosa Greta (Poppy Liu) que sempre aparece de surpresa como se fosse o Tropeço da Família Addams, ou até mesmo quando Tom (Michael Chernus), um colega de profissão das gêmeas, aparece em tela. 

Sim, claro, maternidade e ter filhos não é uma coisa fácil, e só bonita ou limpa, mas acho que Birch usa essas questões para outras funções, além de estarem ali para desviarem nossa atenção de outros problemas com o seriado. A série vai por se encaminhar para uma piração gigante, e sem tamanho, cada vez que as gêmeas trocam de lugar, uma personifica a outra, e essa relação de codependência é colocada em xeque. 

É um bom jogo de gato e rato entre elas, e criado por Weisz, e que os diretores da série conseguem usar a questão esteticamente bem para contar essa história de reflexão e espelhos, mas que acho que acaba por ser uma desculpa para um roteiro fraco e que deixa a desejar para contar essa história hiper focada em como as mulheres grávidas dentro da indústria médica e de fertilidade são tratadas, os sonhos da maternidade, a busca por ter filhos e tudo mais.

Britne Oldford e Rachel Weisz em cena de Dead Ringers
Foto: Credit: Niko Tavernise/Prime Video

E na medida que as Mentle precisam bajular a endinheirada Rebecca, e sua esposa Susan (Emily Meade), para conseguirem um investimento para seus projetos, que cada uma tem um foco diferente sobre o que esses projetos médicos deveriam ser e que variam entre serem éticos ou não. Temos também na trama, a entrada de uma atriz de um seriado de TV chamada Genevieve (a também ótima Britne Oldford) para ter um relacionamento com Beverly, onde esse arco é fundamental para a história, afinal muda a dinâmica entre essas irmãs, e que também faz com que a série pareça que atira para todos os lados e realmente esquece sobre o que quer falar.

Assim, a Dead Ringers caminha para momentos dos mais surreais possíveis e que realmente não parecem ser bem desenvolvidos para nos fazer acreditar neles. Oldford em dupla com Weisz também atua muito bem, seja lá com quais das gêmeas ela contracena, e Weisz, como falamos está divina aqui, e luta para dar para cada uma das gêmeas seus melhores momentos, mesmo que o time de efeitos especiais do seriado deixe muitas das cenas a desejar nessa questão.

Eu diria que a série se agarra nisso, na atuação de sua protagonista, quer dizer de suas protagonistas, para darem vida para fiapo de história que foi criada, e no sentimento de curiosidade despertado para saber o que vai acontecer, ou qual das gêmeas que sobreviveu no gancho deixado pela atração logo no seu começo. 

Para 6 horas de história, mesmo com episódios bem distintos no formato de estética visual e narrativa, e com o que é apresentado aqui em Dead Ringers, fica claro, que essa nova versão deveria ter sido mesmo um novo filme de 2 horas. Pouparia a Amazon de gastar dinheiro, do espectador do tempo gasto aqui, e tudo mais. Mas ei, talvez, se eu tivesse um gêmeo, talvez, ele tivesse passado bons momentos com a atração, o que não foi o meu caso, infelizmente.

Dead Ringers (Gêmeas: Mórbida Semelhança) chega em 21 de abril no Prime Video.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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