Nada mais brasileiro que cachaça, não é mesmo? E histórias de brigas de família, né? E o nacional Saideira (2024) junta tudo isso e entrega uma união perfeita num filme de road trip movie estrelado por duas ótimas atrizes que aqui garantem diversão adoidada.
Não é preciso ser um especialista em bebida, uma cachaçólogo, como classuda Penélope de Luciana Paes e ou conhecer as ruas de Paraty como ninguém igual a avoada Joana, a Jo de Thati Lopes para saber que juntar essas duas, nessa história que se passa nas principais cidades do interior da Brasil, seria uma receita para o sucesso.
E acho que esses são os principais motivos que fazem Saideira dar certo ao contar essa amalucada trama que envolve essas duas irmãs que há anos não se falavam, mas que se encontram novamente, no enterro do avô Honório (Tonico Pereira) e descobrem que ganharam de herança uma cachaça valiosíssima chamada Saideira e que a mesma está desaparecida há anos.
Paes e Lopes dão o nome aqui, abusam de um humor um pouco mais físico, e montam no texto bastante inspirado que é apresentado e realmente se mostram donas do filme. Se Paes acaba por entregar uma personagem mais razão, objetiva e foco em resultados e tudo mais, Lopes segue a linha de suas últimas personagens e capricha no non-sente, no visual hiponga, e entrega uma personagem mais “deixa a vida me levar. E talvez, seja a união desses dois pólos, que dão esse gostinho diferente para Saideira.
Aliado a isso, essa comédia segue a cartilha de produções do gênero e coloca essas mulheres, essas irmãs, de personalidade completamente opostas, para cair na estrada, colocar as diferenças de lado, e partirem em busca dessa tal garrafa. E como de praxe em produções assim, no final das contas, fica claro que é a jornada e o percurso percorrido que vale a pena assistir e não o destino final, ou aqui no caso, o objeto que elas buscam.
Na medida que Joana e Penélope passam de cidade em cidade, seguindo pistas da caixa que receberam o avô, temos a possibilidade de vermos Paes e Lopes em situações das mais hilárias possíveis enquanto vivem as maiores peripécias ao longo da viagem. E como falamos, sozinhas elas estão bem, juntas ficam ótimas. Uma das melhores cenas do longa fica para quando as irmãs chegam em um boteco pé sujo de beira de estrada e cruzam com o dono do bar, interpretado Jackson Antunes, e rola uns trocadilhos com os nomes de algumas bebidas.
É combinação dessas atrizes com esse texto que dita o tom do filme. O mais interessante de notar é como o roteiro escrito a quatro mãos por Arthur Warren, Júlio Taubkin, Marina Morais e Pedro Arantes consegue apresentar diversas narrativas como obstáculos na jornada dessas mulheres. É como se a tal caixa que elas levam por aí, com as pistas da localização da Saideira, a bebida, fosse uma grande caixa de pandora, onde elas vão revirar o passado e as mágoas deixadas para trás, enquanto lidam com suas questões pessoais e focam em procurar essa valiosa recompensa.
Assim, ao longa da narrativa, a história apresenta mais do que rolou no passado dessas mulheres quando mais jovens, depois que os pais faleceram e elas foram morar com o avô, e até mesmo mais longe na história familiar com a história de como o avô delas conheceu a avó, Saideira dá a chance também dessas duas atrizes com uma pegada mais cômica entregarem bons momentos dramáticos. Na medida então que eles vão poder descobrir as pistas que encontram e que vão desde de fotos antigas em cachoeiras, para até mesmo fazendas isoladas no meio do nada e que são vigiadas, passando por endereços encontrados em fundos falsos pós viagem de ácido, Saideira nos deixa entretido com as estripulias dessas protagonistas e como elas conseguem colocar os pingos nos is de diversas questões.
E Arantes e Taubkin abusam dos cenários rurais para ajudar a contar essa história, onde no filme é como se a própria estrada em si fosse também um personagem em Saideira que está ali como se fosse mais um obstáculo para Penelope e Joana enfrentarem. Com boa parte das cenas focadas nas duas, seja no carro velho que elas herdam do avô que as acompanham, ou até mesmo quando elas gritam e discutem no meio do nada, Saideira dá certo pelo combo dessas duas atrizes. É um filme simples, com um valor de produção não tão elaborado, mas que funciona.
Afinal, quanto mais Penélope e Jo cruzam o interior, cruzam com as diversas figuras nessa viagem, de donos de bares, até seita em São Tomé das Letras, elas descobrem mais sobre elas mesmas, e a história complicada da família Caldas. E ao mesmo tempo, nós, os espectadores, também. E no final, pela forma como tudo se resolve em Saideira, fica claro dizer que você iria gostar de tomar uma dose com elas e ficar para uma saideira.
Saideira está em cartaz nos cinemas nacionais.