E quem diria que um filme sobre tênis conseguiria ser tão bacana e sexy de se assistir? Mas Rivais (Challengers, 2024) é bem mais do que apenas isso. Começando que aqui o diretor Luca Guadagnino consegue manter sua assinatura tradicional vista em outras produções e também trabalha com atores super em alta em Hollywood para entregar um filme que acaba por ser o match point na carreira de todos eles. E como esse elenco tem química!
Da carismática Zendaya (vinda de Euphoria, de Duna: Parte 2) que consegue mostrar mais vez uma versatilidade gigante nesse novo papel, e agora como uma protagonista nos cinemas, para Josh O’Connor (vindo de The Crown) e Mike Fiest (vindo do novo Amor, Sublime Amor) que incendeiam a tela em cenas para lá de quentes e até mesmo para o próprio Guadagnino que entrega um dos filmes mais diretos de sua carreira até o momento num saque perfeito e extremamente bem executado.
E Rivais, antes de ser um filme sobre tênis, é um filme sobre sentimentos e como eles moldam as decisões desses personagens extremamente humanos e complexos. É sobre amor, sobre tesão, sobre inveja, é sobre raiva, sobre precisão e obsessão. Tudo isso envelopado com partidas de tênis, idas a sauna, treinos e mais treinos, e claro festas.
E mesmo com o ziguezague narrativo que o roteirista de primeira viagem Justin Kuritzkes apresenta, o filme consegue entregar uma boa história, onde a bola que está no presente, fica indo e voltando para o passado para vermos como a partida entre os jogadores profissionais Patrick (O’Connor) e Art (Faist) é muito mais importante, e pessoal, do que apenas ganhar alguns sets. E com o olhar fixo e compenetrado da treinadora Tashi (Zendaya) na partida, o roteiro afiado, cheio de diálogos interessantes, rápidos, sarcásticos e cheio de segundas intenções de Kuritzkes desvenda essa complexa relação entre esses três personagens e os eventos que os levaram para esse jogo em especial e o que significa para cada um deles em particular.
E se o roteiro dá sustância para boa parte do filme, visualmente, Guadagnino nos apresenta para essa história, para esses personagens, da forma mais bonita e convidativa possível. Entre batidas de raquete na bola, suor pingando na tela, gritos primitivos, shorts curtos, e olhares trocados que dizem muito mais que o texto do filme, Rivais faz o espectador cair de cabeça nessa história, com esses personagens, onde basicamente somos uma mosquinha, no sentido mais sensual possível, quase como voyagers, na vida desse trio. Aqui, vemos e conhecemos a intimidade e os momentos privados desses três personagens na medida que voltamos no passado (para 2006) para conhecer os adolescentes jogadores de tênis que tentam se profissionalizar, e amigos de infância, Patrick e Art que conhecem Tashi, mesmo que jovem, já é uma lenda do esporte que trilha seu caminho a grandes sacadas.
A Tashi de Zendaya, na versão mais jovem, impõe sua presença logo de cara no filme e chama atenção logo quando aparece. É magnética a presença de Zendaya como a personagem, ao longo do filme, sem dúvidas, mas a versão adolescente tem um algo a mais. Ela é jovem, ela é bonita, e antes de tudo ela é muito boa no que faz: jogar tênis. E claramente isso atrai, principalmente fisicamente, os dois rapazes que começam a competir indiretamente, e silenciosamente por ela e sua atenção.
E aqui, Rivais entrega uma das cenas mais importantes do longa (de fato uma das melhores) e que serve como base para tudo que vemos em seguida, seja nos momentos no passado após a passagem acontecer, ou no presente quanto o jogo entre Art e Patrick acontece. É ali que Guadagnino, e o trio de atores, constroem a base para o filme e para a relação entre esses personagens. E puxa como Zendaya, Faist e O’Connor estão bem nesses minutos. Guadagnino cria a ambientação perfeita para esse trio nos entregar não só uma das cenas mais interessantes do ano, como também uma que é uma aula de carisma, sexualidade e como gravar uma cena íntima de relacionamento. E se com duas pessoas já é complicado, aqui em Rivais é entre três pessoas.
E se achava que Guadagnino tinha entregado tudo em Me Chame Pelo Seu Nome, aqui em Rivais bem ele se supera. Você segura a respiração, se sente invadindo a privacidade dessas pessoas, e ao mesmo tempo é jogado para aquele quarto junto com eles. Antes de ser apenas uma cena que leva aos personagens a transarem, esse momento contribui para a definição da balança do poder entre esses personagens na medida que Tashi é colocada nesse pedestal e como essa figura troféu que esses amigos cobiçam, ao mesmo tempo, que Tashi também manipula os dois a sua própria maneira.
“She’s a maneater, a maneater” Acho muito interessante a forma como Zendaya cria essa figura que impiedosamente vá atrás do quer sem muito se preocupar com o que as outras pessoas pensam dela. No longa, Zendaya dá o seu melhor, num papel adulto, e cheio de camadas e que deixa os dilemas de Rue de Euphoria para a televisão. Treino é treino e jogo é jogo, e cara aqui Zendaya compete pelo US Open. E sua personagem, ela não é uma mocinha indefesa, nem mesmo depois que vê seu joelho estourar no meio de uma importante partida de tênis e vê sua carreira implodir no mesmo instante. Pelo contrário, a Tashi de Zendaya parece trabalhar dobrado para garantir seu lugar no mundo do tênis. E se usar o marido Art para isso vencer e o transformar em um dos melhores jogadores da atualidade é o que ela ganha em troca, para a personagem é um caminho válido.
E meio que é isso que está em jogo durante a partida de Art e Patrick que retorna para a vida do casal que agora, anos depois está em crise. Para Patrick, é a chance de não só vencer o amigo que ficou com a garota, mas também ganhar um bom dinheiro e continuar no esporte. E também fica claro que para eles, não é só o campeonato, é a promessa que um dia eles iriam jogar juntos e um deles vencer. São os anos de camaradagem que foram deixados de lado quando Tashi entrou na vida dos dois, são as conversas de sonhos e tudo mais. E O’ Connor e Faist jogam esse jogo como ninguém e estão excelentes. Do sorriso maroto que O’Connor bota na cara o filme todo para o olhar perdido que Faist imprime para Art, os dois constroem esses personagens de uma forma excelente de assistir.
E com a ajuda deles, Guadagnino conta essa história da forma mais sexy possível. É impressionante como em toda cena de Rivais você sente um teor sexual pulsando em todos os ângulos possíveis que o diretor escolhe colocar a câmera: seja em um movimento de perna embaixo bancada de um refeitório, ou uma mordida em uma banana no intervalo do jogo, ou de corpos desnudos envolvidos apenas numa toalha em uma sauna vazia.
Com Rivais, Guadagnino extrapola a máxima do sexy sem ser vulgar, onde o jogo da sedução é muito mais interessante do que o ponto final dessa partida entre esse trio. E nesse jogo atrás do jogo, o longa entrega três dos personagens mais interessantes do ano, cheios de virilidade, complexidade e humanidade. Quem diria que ver partidas de tênis por quase 2 horas seria tão interessante e tão intoxicante de se assistir?
No final, fica claro que Rivais redefine a relação do cinema com o esporte, você nunca mais vai olhar para uma partida de tênis sem pensar no filme na medida que entrega aquela bola Winner, aquela indefensável, que termina o set, e dá o ponto para quem sacou. E aqui, nessa disputa entre Zendaya, O’Connor e Faist quem ganha é o espectador no drama mais atmosférico, envolvente, sexy, e delicioso de se assistir do ano, até agora.
Rivais chega em 25 de abril nos cinemas.