Não dá para negar que ao entrar no mundo criado por Gareth Edwards para Resistência (The Creator, 2023) o espectador vai ser inundado com visuais belíssimos, um escopo cinematográfico gigante, uma história até que instigante e liderada por um carismático John David Washington num novo papel em um filme de ficção científica depois do divisivo e pandêmico Tenet (2020).
Mas ao mesmo tempo, particularmente achei Resistência um filme meio chatola de se ver. E nem tanto por conta do final, ou das diversas semelhanças narrativas com outros filmes do gênero, e sim por que ao longo da exibição senti que não me importava com nenhum dos personagens, nem do lado humano, nem do lado da resistência robótica, nem o soldado de Washington em sua busca pela ex-esposa, ou da criança que representava o futuro na guerra entre a humanidade e a inteligência artificial.
Claro, não queria que a criança robô (Madeleine Yuna Voyles) morresse, mas também dado o histórico de Edwards para esses filmes de proporções épicas, no currículo o diretor tem Rogue One: Uma História Star Wars (2016) e o primeiro Godzilla (2014), já estava me preparando para o pior na medida que a personagem não tinha um destino muito favorável enquanto corria pelo mundo ao lado do soldado que a resgatou/sequestrou, e os dois precisavam enfrentar diversos obstáculos por aí.
E sim, fica claro que Resistência bebeu da fonte de diversos outros filmes do gênero para contar essa história, mas Edwards capricha e muito, no visual, para contar ela. Talvez, daqui uns 10, 15 anos, o longa vire cult como Blade Runner e Exterminador do Futuro viraram? É possível, mas para agora e para esse contexto social e cultural que o filme foi lançado parece que Resistência vai sofrer um pouco de resistência do público, vai passar meio batido e empolgar somente as poucas pessoas que foram efetivamente ver o filme nos cinemas.
Visualmente, Resistência entrega um filme primoroso de ver na telona. As cenas na futurista Nova Ásia são extremamente caprichadas e Edwards acerta a mão na criação desse mundo onde a tecnologia e a humanidade estão cada vez mais concertadas e interligadas. É tudo muito bonito de ser, sem dúvidas.
O longa se apoia nessa história onde temos o banimento da inteligência artificial no Ocidente, e por Ocidente, o filme deixa claro, os EUA, após uma ogiva nuclear ser detonada em Los Angeles. E esse é o ponto de partida para a criação de uma mega espaçonave/centro de comando (Estrela da Morte, Star Wars, alguém?) para monitorar a região do Oriente que serve de refúgio para os robôs.
Assim, o longa acompanha o soldado do exército americano Joshua (Washington) infiltrado na organização que lidera o grupo de resistência robótica e que vê um ataque o fazer perder sua esposa Maya (Gemma Chan) no conflito.
Claro, Resistência pode soar mais simplista no começo, e a divisão por capítulos do longa pode ser um pouco irritante, mas o filme acaba por ser um pouco mais complexo e robusto do que é, e não quero dar muitos spoilers para não afetar a experiência de se assistir.
E mesmo com altos e baixos o roteiro de Edwards ao lado de Chris Weitz consegue colocar algumas reviravoltas aqui e ali e salpicar alguns momentos interessantes ao longo das mais de 2 horas de duração que o filme tem.
E diferente de Tenet, Washington consegue aqui mostrar um personagem extremamente humano na medida que a esperança da esposa ter sobrevivido é o que guia o personagem que parece esquecer o grande conflito em escala global que está inserido.
E mesmo com um trabalho excelente do ator, Resistência ainda parece que não engrena em boa parte. Claro, a relação entre Joshua e a inteligência artificial apelidada por ele de Alphie é divertida de se acompanhar e meio que encaixa no modus operandis de Hollywood nos últimos tempos ao apresentar soldados durões que tem bom coração em missão ao lado de uma criança, ou adolescente espirituoso. Foi assim em The Mandalorian, depois em The Last Of Us e por aí vai.
Ao mesmo tempo que o texto de Edwards e Weitz discutem, e debatem questões morais, interessantes (a parte se que a criança robô afirma que não vai para o céu por que não é uma pessoa é uma reflexão interessante, por exemplo), o espectador que lute para resistir como a dupla trabalha para desenrolar a trama, na medida que o filme mostra seus acontecimentos de forma lenta, intercalado por diversos bombardeios e algumas reviravoltas já esperadas e anunciadas com bastante antecedência pela história.
Nem o final, que se passa dentro da versão da Estrela da Morte do filme, onde a trama ganha um certo fôlego, compensa a espera por esses 15 bons, sólidos, e angustiantes minutos finais. Quando a última cena acontece, os destino dos personagens é selado, e assim o futuro da humanidade do filme é definido, a sensação que fica é que a possibilidade de uma nova franquia ter surgido parece só ter ficado na mente dos executivos do estúdio, na medida que as pessoas levantam e saem calmamente dos seus acentos com foco nas preocupações mundanas que as aguardam após a sessão.
É quase um sentimento catártico de vimos uma coisa bacana que durou ali as duas 2 horas, mas não mudou nada a relação com o cinema, ou com as questões debatidas, não é um filme que fica com você quando acaba. Talvez, seja que para nós, espectadores, o futuro do filme ainda esteja muito longe de acontecer. No final, fica claro que saímos de Resistência com o botão de repouso, não de ligar, ativado.
Onde assistir Resistência?
Resistência está em cartaz nos cinemas nacionais.