O trabalho, e o timing cômico, de Rose Byrne e Seth Rogen já eram conhecidos em diferentes projetos que eles trabalharam individualmente ao longo dos anos, mas também depois que os vimos no longa Vizinhos lançado nos cinemas lá em 2014.
E agora com Platonic, a nova série de comédia do AppleTV+, a dupla não só repete essa parceria, e estão tão bons aqui, como também voltam a trabalhar com o diretor Nicholas Stoller que comandou os dois na comédia há tantos anos atrás. E ao trazer os dois de volta para um novo projeto, realmente só comprova um tino para a comédia muito bom de todos os atores, mas também de Stoller, depois de ter dirigido o divertido e espirituoso longa Mais que Amigos no ano passado.
Então nada mais interessante que toda essa reunião de atores, diretores, em novos projetos fora das telas para contar a história dessa reunião de duas pessoas adultas, que pararam de se falar, e agora voltam a se encontrar depois de anos, dentro das telas. Platonic conta essa história de uma mulher chamada Sylvia (vocês vão querer lembrar o nome dela, com certeza), interpretada por Rose Byrne, uma advogada que passou os últimos 10 anos na função de mãe dos seus três filhos que teve com o também advogado Charlie (Luke Macfarlane que trabalhou com Stoller em Mais que Amigos no ano passado), e Will (Rogen), um hippie, dono de uma cervejaria que parece que ainda não passou para a fase adulta, que se conheceram quando eram crianças, foram amigos durante a vida toda, mas que não estavam se falando por um bom tempo.
Até que Sylvia e Will voltam a se falar, mesmo estando em momentos de vida completamente diferentes, e com personalidades completamente diferentes, eles voltam a colocarem um a presença do outro em suas vidas. Assim, fica claro que Platonic é como se fosse um Quando Sylvia (re) encontra Will, e que Sylvia e Will são Feitos Um para o Outro. Só de uma forma de amizade, mesmo, sem um envolvimento amoroso.
Stoller e Francesca Delbanco (casados na vida real) comandam o texto, onde Delbanco vem da série da Netflix Amigos da Faculdade que também tinha um elenco conhecido, também lidava com personagens e questões de 30 e pouco anos. E aqui com Platonic, essa dupla consegue acertar em cheio com um texto extremamente afiado, bem humorado, sarcástico e que apenas deixam Rogen e Bryne soltos para fazerem o que fazem de melhor: serem exageradamente, e deliciosamente, engraçados juntos.
Particularmente acho os dois atores bem talentosos para comédia, coisa que já ficou comprovada em diversos projetos que trabalharam separados, mas aqui em Platonic, talvez, seja pelo roteiro, pela intimidade que esses dois atores parecem ter, seja por esses personagens serem completamente bem desenvolvidos, e que tem suas vidas próprias, a dupla está ótima. E assim, ao trabalharem nessa amizade, esse laço inquebrável de amizade, mesmo que às vezes dizem umas verdades que machucam um para outro é que eles se saem melhor.
E ei, esse é o ponto de uma verdadeira amizade, certo? E acho que a série, pelo menos o texto, navega de uma forma extremamente interessante para nos contar como essa amizade pode ser benéfica para ambos, mas também como pode ser destrutiva para todos os envolvidos, não só particularmente Sylvia e Will.
E os episódios iniciais, de 30 minutos cada, meio que vão por criar essa bola de neve de decisões precipitadas, nada convencionais que eles tomam, seja quando Sylvia precisa abandonar a ideia de comprar uma casa muito maior do que a casa onde ela, o marido, e seus 3 filhos moram, e que acaba por visitar um antigo asilo desativado e caindo aos pedaços, ou Will que precisa finalmente deixar a ex-namorada e tentar alavancar seu estabelecimento em que ele é sócio com outras pessoas.
São nas questões do dia-a-dia que Sylvia e Will começam a pedir conselhos, às vezes nem pedir conselhos e já estão ali se metendo cada um na vida do outro, que é quando a série realmente engrena. E como o título já diz, a relação entre eles é extremamente platônica, eles são amigos, mesmo sendo homem e mulher, e isso que faz o texto ser tão interessante, tão moderno, e divertido.
A série realmente é sobre Sylvia e Will, onde Byrne realmente está muito bem, e que deixa um pouco de lado o sentimento agridoce deixado por Physical, mostra que com uma boa história, e um bom roteiro, a atriz vai longe. E em Platonic, mesmo que Will esteja assim em praticamente toda cena, dá para perceber que o trabalho de atuação de Rogen funciona pelos mesmos motivos de Byrne, com um bom texto e uma boa parceira.
Mas não só entre eles que Platonic empolga, os outros personagens também parecem combinar muito bem com o elenco, e novamente, acho que é por conta do texto que a série apresenta. Aqui a atriz Carla Gallo também tem cenas maravilhosas com Byrne como Katie, uma colega da personagem que leva os filhos no mesmo colégio, e o ator Tre Hale, como Andy, um dos funcionários do bar de Will, que tem cenas muito boas também com Rogen.
Mesmo com situações exageradas, algumas embaraçosas, e vergonhosas (as roupas do restaurante temático no estilo Outback? Passoooo), fica claro que essa dupla de amigos é uma que vamos querer passar mais momentos juntos vendo o que eles vão aprontar.
E no final, fica claro que a Apple realmente vai terminar esse primeiro semestre como a nova casa das comédias, não das bonachonas, das sitcom, mas daquelas que navegam entre serem engraçadas sim, mas que ao mesmo tempo tocam em temas sérios.
Foi assim como Shrinking – Falando a Real no começo do ano, com a queridinha e vencedora de muitos prêmios Ted Lasso, e agora com Platonic, que vem aí para coroar um bom 2023 para o serviço de streaming da gigante de tecnologia.
Quem diria que ter rios de dinheiro para investir seria atrativo e primordial para termos bons textos, e bons atores, e boas novas séries, não é mesmo?
Platonic chega em 24 de maio no AppleTV+ com três episódios iniciais e depois 1 novo episódio toda quarta-feira.