sábado, 21 dezembro, 2024
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Pisque Duas Vezes | Crítica: Piscou e temos um dos melhores do ano

É curioso pensarmos que Pisque Duas Vezes (Blink Twice, 2024) é apenas o primeiro projeto que Zöe Kravitz atua na direção. Não é que a atriz seja relativamente nova em Hollywood, afinal, veio aí de sucessos como a série Big Little Lies lá da HBO, onde atuou ao lado de nomes consagrados da indútria como Nicole Kidman, Reese Witherspoon e Laura Dern e também deu as caras no mundinho dos super-heróis quando trabalhou em Batman (2022), ao lado de Robert Pattinson, e trouxe para as telas novamente a moralmente ambígua Selina Kyle, a Mulher-Gato.

Naomi Ackie e Adria Arjona em cena de Pisque Duas Vezes. Foto: Courtesy of Amazon MGM Studios- © MGM. All Rights Reserved.

Mas é agora com o suspense Pisque Duas Vezes que Kravitz mostra realmente uma nova, e empolgante, faceta, ao entrar em um novo território e aqui, magistralmente entrega, não só um dos melhores filmes de gênero do ano, mas também um projeto com uma sólida estreia por trás das câmeras. Com uma mistura de corra! (2017), Saltburn (2023), e O Menu (2022), Pisque Duas Vezes acaba por fazer um filme que abusa do sensorial para contar essa história maluca, e ao mesmo tempo, que poderia acontecer, sim, no futuro, num futuro próximo, sem dúvidas.

Ao caprichar no uso de cores e sons, Kravitz entrega esse suspense sobre uma jovem garçonete, um bilionário e uma ilha isolada no meio do nada. Anteriormente chamado de Pussy Island, Pisque Duas Vezes não está ali para te entregar um mistério complexo e que demora para ser revelado, e sim, uma história de alerta, com uma pitada de um humor extremamente sombrio e também com excelentes atuações.

De Naomi Ackie que deixa o sabor agridoce de lado depois de encarnar Whitney Houston nos cinemas (mesmo que tenha sido a melhor coisa do longa), para Adria Arjona que finalmente mostra para que veio depois de ter se saído muito bem em Hitman – Assassino Por Acaso com Glen Powell alguns meses atrás para Channing Tatum (parceiro de Kravitz na vida real) que realmente consegue entregar um papel bom em que temos um personagem aí desenvolvido e que não é apenas Channing Tatum fazendo ele mesmo ao lado de alguma atriz famosa como co-protagonista.

E de maneira geral, Kravitz consegue reunir um bom elenco de certa forma, mesmo que os nomes mais conhecidos como Simon Rex, Christian Slater, Kyle MacLachlan e Geena Davis acabam por ter papéis secundários na trama e aparecem num piscar de olhos em poucas cenas. Mas junto com o trio principal, esse grupo de atores formam o elenco de Pisque Duas Vezes, onde realmente a presença de cada um ajuda, e muito, a contar essa trama. 

Ao nos apresentar para garçonete, e amante de colocar desenhos de animais na unha, Frida (Ackie) e sua melhor amiga Jess (Alia Shawkat), o longa já estabelece quem são essas personagens logo de cara, mesmo que uma forma um pouco estranha, onde as peças parecem não se encaixar direito (mas que tem um propósito narrativo já aviso). Assim, vemos a dupla se preparar para trabalhar num evento realizado pelo magnata Slater King (Tatum), e ver que elas estão prestes a vivem uma história de Cinderela, na medida que logo depois, vemos elas serem convidadas para a área VIP e cruzam com o empresário de olhos bonitos para a empolgação de Frida.

O longa também estabelece logo de cara a figura de King como o CEO de uma mega companhia que acabou de passar para uma dessas tour de desculpas por conta do que fica claro ser mais caso #MeToo, deixou de ser a figura pública da mega companhia que ele fundou, e retorna para o holofotes depois de uma tempo afastado do olhar do público. E é assim que nossa história começa rapidamente, num piscar de olhos.

“Eu mereço a porra de umas férias!” Então, Frida e Jess partem para a ilha (lembram do antigo título certo?) e conhecem as figuras excêntricas que andam com esse bilionário excêntrico que elas conheceram na festa e que tiveram bons momentos. Dos puxa-sacos como Cody (Rex), Tom (Haley Joel Osment) e Lucas (Levon Hawke) para os funcionários como Vic (Christian Slater), o segurança Stan (Cris Costa) e assistente pessoal Stacy (Geena Davis) para as jovens que os acompanham, o trio formado por Sarah (Arjona), Camille (Liz Caribel) e Heather (Trew Mullen). Assim, todos eles estão ali para se divertirem e passarem bons momentos na ilha. São cinco da tarde em algum lugar do mundo, certo? Mas o quão esses bons momentos vão durar para essas personagens?

Haley Joel Osment, Simon Rex, Alia Shawkat, Liz Caribel, Channing Tatum, Levon Hawke, Adria Arjona, Trew Mullen, e Naomi Ackie. Foto: Courtesy of Amazon MGM Studios- © MGM. All Rights Reserved.

No meio do cenário paradisíaco, das bebidas, das roupas feitas medidas, do sol, do clima de azaração, Kravitz aproveita da narrativa ambígua que o roteiro (escrito por ela e por E.T. Feigenbaum) para criar visualmente um sentimento, que, sim, alguma coisa está bastante errada. 

Pisque Duas Vezes pode até querer segurar essa resposta por um tempo que passa um pouco do esperado, com flashes de pistas do que podem ter acontecido, mas que sabe construir esse caminho até essa revelação. Principalmente quando vemos que elas não lembram de algumas coisas, tem terra nas unhas delas, manchas de vinho em vestido desaparecem, e do nada Jess some, e Frida parece ser a única que lembra da amiga e a presença dela na ilha.

Ao percorrer as opções do que poderia estar acontecendo neste lugar e por que, Pisque Duas Vezes começa a se encaminhar para um frenético e alucinante final. Ackie segura as pontas desse suspense e ao lado de Arjona, entregam bons momentos (principalmente a cena de discussão com uma faca, sem spoilers aqui) onde as duas realmente entregam excelentes passagens quando vemos suas personagens oscilarem entre serem as garotas baladeiras felizes, com sorrisos na cara, e que estão se divertindo de montão para também garotas que vem o choque das realidades que vivem e que lutam para conseguirem colocar as peças do quebra cabeça em ordem. 

E na medida que tudo se encaixa e, tanto nós, os espectadores, e as personagens, descobrem para onde foram se meter, Kravitz não economiza nas cenas mais brutais, nos closes com a câmera fechada, e na sufocante tensão que Pisque Duas Vezes entrega. 

Definitivamente é um filme que deve pegar mais o público feminino, como foi com o subversivo Bela Vingança (2020) de Emerald Fennell, mas Pisque Duas Vezes não deixa de entregar uma brilhante estreia na direção e ainda um dos mais divertidos e interessantes longas do ano. No meio de cenas gráficas, da doideira e da confusão, tenho certeza que você vai passar bons momentos com o filme. Não esqueça de pegar seu drink verde e posar para as fotos polaroides. 

Nota:

Pisque Duas Vezes chega em 22 de agosto nos cinemas nacionais.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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