Pinóquio, sem dúvidas, e absolutamente, é um clássico Disney. É inegável a importância para a animação na história da Walt Disney Company, e pelo amor do seu falecido uma das maiores provas disso é que o instrumental de When You Wish Upon a Star (a principal música do longa de 1940) é a marca registrada das aberturas do filme do estúdio até hoje.
Mas temos que pensar que o longa foi lançado nos anos 40, no meio de um contexto histórico complicado, e que entregou uma história simples e para um momento bem específico que o mundo e os EUA viviam. E aqui na sua versão live-action, sinto que Pinóquio (2022) não poderia fugir muito da regra e mudar demais a versão dos anos 1940 do estúdio do Mickey.
Pinóquio é uma obra que é de domínio público mesmo que uma das suas mais famosas adaptações seja pela Disney, então fica claro, a ideia do estúdio querer optar por transformar a versão animada em um filme em live-action como aconteceu com diversas outras adaptações ao longo dos últimos anos. O catálogo é vasto e as produções, como falamos, são clássicos que fazem parte do imaginário popular e da história do cinema. Algumas tem mais apelos, outras nem tanto.
E fica claro que para Pinóquio, o cuidado que o estúdio teve para tentar trazer essa história para os tempos atuais. A escolha de um diretor de prestígio como Robert Zemeckis, a escolha de Tom Hanks como Gepeto, uma atriz de calibre musical como Cynthia Erivo para ser a fada Azul… em resumo, temos aqui, um elenco de grandes nomes para os restantes dos personagens.
Mas assim como Dumbo, ou até mesmo Peter Pan (a versão em live-action do estúdio chega em 2023 vamos ver como vai se sair), sinto que o live-action de Pinóquio é mais um filme requintado de uma boa história. Claro, é emocionante ver Erivo como a Fada Azul a cantar When You Wish Upon a Star, ou o carisma de Hanks como o velho carpinteiro que cria esse menino de madeira que ganha vida, mas sinto que falta algum tipo de mágica maior nessa história adaptada para fazer o longa se destacar frente às outras adaptações do estúdio.
É tudo muito bacana de se acompanhar, a caracterização via efeitos visuais do boneco Pinóquio (voz de Benjamin Evan Ainsworth) está até que boa, o Grilo Falante (voz de Joseph Gordon-Levitt) tem um carisma cativante, e a produção tem essa aura infantil e colorida, que garante estarmos dentro do filme quando assistimos. Mas mesmo assim, talvez, para não fugir da temática, e das questões que o filme pondera, o live-action cai na simplicidade e no preto no branco que a obra original se moldou na medida que discute as questões e ações que Pinóquio faz.
A passagem pelo circo do assustador Signore Stromboli (Giuseppe Battiston), as tentações que João Honesto (voz de Keegan-Michael Key) oferece, e até mesmo a ida para a Terra dos Prazeres dominada por Cocheiro (Luke Evans) acabam por entregar a apresentação de Pinóquio para o mundo e suas ameaças de uma forma muito rápida para o tipo de mensagem que o longa deveria contar.
E até mesmo a introdução da boneca marionete Sabina, e a adoração que Pinóquio tem pela colega, e o arco narrativo que envolve a jovem Fabiana (Kyanne Lamaya) é interessante, foge da obra original, mesmo que rapidamente apresentada e desenvolvida.
Como falamos, os momentos eram outros, em termos de narrativa e debates que o filme propunha naquela época também e tudo isso já mudou, as conversas são outras, o cinema mudou, e a visão de mundo é outra. Colocar as mesmas questões da época nos dias de hoje é um trabalho arriscado e que prejudica e muito o desenrolar do longa.
Claro, no final, Pinóquio é um acerto visual incrível da Disney mais uma vez, e o longa se aproxima de acertar e muito, em tudo que pode, como os cenários, o humor, os momentos icônicos do longa, mas é preciso de muito mais para realmente empolgar e não ser uma obra que ficará esquecida no catálogo do Disney+ como uma nota no rodapé da história da Disney.