O conto de Peter Pan foi lançado tem mais de 1 século, e ao longo dos anos encanta diversas gerações ao contar a história desse jovem garoto que mora em uma Terra Mágica cercada de fadas, piratas, crocodilos e sereias.
E quase 50 anos depois do conto ser publicado, Walt Disney imortalizou o personagem com a animação Peter Pan que foi lançada em uma década onde a Disney capitalizou com diversos filmes baseados contos populares como Cinderela (1950), Alice no País das Maravilhas (1951) e A Bela Adormecida (1959).
E a animação marcou época por conta de entregar músicas cativantes, um dos vilões mais carismáticos do hall de vilões da Disney, e também, agora, quando revistada, por compreender a falha na representação sobre os povos indígenas.
E desde que a Disney começou a empreitada de transformar as principais animações do estúdio em live-action, lá nos anos 2010, Peter Pan esperava sua vez, assim como, o crocodilo esperava por encontrar o Capitão Gancho por aí. Tic Tac, Tic Tac.
E mais de 10 anos depois, aqui chegamos, bastou pegar a segunda estrela à direita, direto até o amanhecer para termos um live-action da Disney inspirado no conto original e na animação do próprio estúdio. Mas o que a Disney poderia entregar de diferente para essa história já contada e re-contada diversas vezes? Fica claro que junto com o live-action de Mulan (2020), Peter Pan & Wendy (2023), entrega um dos projetos que mais ousaram em mudar a história clássica animada que conhecemos para sua contrapartida com atores reais.
Peter Pan & Wendy muda bruscamente a forma como essa é a história é contada, sem deixar de nos agraciar com deslumbrantes cenas, e a mesma essência desses personagens e dessa história, que há anos marcam o imaginário popular. E também entrega um live-action sem as músicas marcantes da animação, claro. Mas essas mudanças são extremamente bem-vindas aqui, afinal, deixam o longa ter suas próprias pernas.
Assim, como Mulan, Peter Pan & Wendy entrega sua trama de uma maneira mais sóbria, realista (mesmo que a história seja cercada de fadas, pó mágico e tudo mais) e um pouco mais madura do que foi a animação dos anos 50. O mundo mudou, o público que a Disney mira também, então fica claro que Peter Pan & Wendy precisa se adaptar para os novos tempos, coisa que o diretor David Lowery consegue fazer ao entregar uma história em live-action que não só honra a animação, o legado do conto, mas também expande a história dessa contextualização da rixa Peter Pan e Capitão Gancho.
O longa ainda dá para o espectador uma trama com uma narrativa empolgante de se assistir para vermos o que muda aqui. E fica claro que Peter Pan & Wendy já dá indícios que será uma adaptação diferente da animação quando conhecemos o Senhor (Alan Tudyk) e a Senhora (Molly Parker) Darling e seus três filhos Wendy (Ever Anderson), João (Joshua Pickering) e Miguel (Jacobi Jupe) em uma noite agitada em que a jovem primogênita está prestes a deixar o lar e ir para um colégio interno.
Tradicionalmente o papel do Sr. Darling é interpretado pelo mesmo ator que faz o Capitão Gancho, mas aqui fica claro que Lowery já quis mudar um pouco as coisas em sua versão logo nos primeiros momentos de Peter Pan & Wendy.
Afinal, o Capitão Gancho é interpretado aqui por Jude Law e que acaba por ser o grande chamariz para Peter Pan & Wendy. Law abusa da teatralidade que o Capitão Gancho tinha na animação, mas entrega uma versão muito mais intensa, perigosa e imprevisível. É o que realmente dá o tom para o live-action, onde parece que tudo se encaixa ao redor da presença do ator que realmente está muito bem no filme e é o ponto alto do longa, sem dúvidas, em todas as cenas que aparece.
E Peter & Wendy é extremamente ágil para contar essa história na medida que vemos Peter (Alexander Molony) e Tinker (Yara Shahidi, ótima e super expressiva) recrutar os irmãos Darling em uma Londres escura e pessimista e os oferece a oportunidade de embarcarem para a ilha da Terra do Nunca.
O texto do próprio David Lowery com Toby Halbrooks (onde repetem a parceria depois de A Lenda do Cavaleiro Verde) consegue, ao mesmo tempo, acenar para diversas cenas marcantes da animação (a busca pela sombra de Peter, o grupo parando no Big Ben e etc) logo no começo, onde a dupla já começa a acenar para as mudanças na narrativa que Peter Pan & Wendy entrega.
De mostrar mais da jovem Tigrinha (Alyssa Wapanatâhk), do passado de Peter, que se mescla com o do próprio Gancho, e do Sr. Smee (Jim Gaffigan), personagens e histórias que ganham destaques na narrativa na medida que Pan e Gancho lutam depois que o pirata sequestra os jovens Darling e os levam para a caverna assustadora que conhecemos na animação. E se lá essa passagem era o final do filme, aqui é o seu começo, onde o live-action muda algumas coisas e nos apresenta mais sobre a Terra do Nunca, dos Garotos perdidos, e dos piratas.
E assim, o ar mais teatral, a qualidade visual que o longa apresenta em suas cenas, e o trabalho impecável de Law, servem para amaciar as bruscas mudanças que Peter Pan & Wendy apresenta em sua história.
Boa parte das cenas que amamos da animação estão ali, os chiliques de Tinker, a cena de pular na prancha, e o embate Gancho vs o Crocodilo, onde tudo apenas é envelopado em uma história um pouco mais adulta, menos fantasiosa e mais a cara do padrão dos live-action do estúdio.
No final, fica claro, mais uma vez, que nada substitui o clássico animado, mas Peter Pan & Wendy magicamente agrega para a família de produções Peter Pan que ao longo dos anos vem aparecendo por aí na medida que a história se torna domínio público, e aqui, bastou um pouco do pózinho mágico que só a Disney tem para fazer acontecer.
Peter Pan & Wendy disponível no Disney+.