A forma como Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, 2022) se conecta com a frase “Na minha cultura, morte não é o fim. É mais como um ponto de partida.” é feita da mais respeitosa possível. A passagem dita por T’Challa de Chadwick Boseman em Capitão América: Guerra Civil lá em 2016 é uma das mais marcantes da primeira aparição do ator como o personagem em preparação para o lançamento de Pantera Negra alguns anos depois.
E a aguardada sequência chega nos cinemas após o longa lançado em 2018 ter se tornado um fenômeno cultural que marcou gerações e mudou a forma como histórias de pessoas negras eram contadas e representadas nas telonas. O único problema é que Boseman faleceu em 2020, o acontecimento deixou o mundo em choque e essa nova franquia dentro MCU, sem seu personagem principal.
E assim, o diretor Ryan Coogler precisou mudar algumas coisas para nos entregar uma nova etapa dessa história. E fica claro em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre que o foco é sim em honrar o ator que trabalhou para isso acontecer, o personagem que ele interpretou, mas mostrar também que a fictícia Wakanda é mais que uma nação, são suas pessoas, seus costumes, tradições e que o conceito do Pantera Negra é um que viverá para sempre. Coogler retorna para a direção e escreve o roteiro ao lado de Joe Robert Cole, onde a dupla encara essa perda de frente, e faz os personagens (e o atores que conheciam Boseman) encararem também essa perda de frente.
E então Pantera Negra: Wakanda Para Sempre nos mostra uma Wakanda, e principalmente uma família real, de luto mais uma vez. E como a Rainha Ramonda (Angela Bassett, ótima e uma das forças que movem o longa) diz em um dos determinados momentos do longa que não é porque Wakanda está de luto que eles não vão lutar, mesmo sem a presença do seu protetor.
Assim, o roteiro da dupla, e o filme propriamente dito, funciona por etapas, onde além da trama nos levar para Wakanda novamente, precisa introduzir novos personagens ao MCU para ajudarem a contar essa história. Pantera Negra: Wakanda Para Sempre faz então uma poderosa, e extremamente respeitosa, retratação de luto, perda, mas também da importância de legados, e uma dose de esperança. E isso da forma mais espectacular possível. É como se o filme passasse, e retratasse, todas as etapas do luto, e no final, Wakanda, a população, e os personagens chaves saíssem alterados emocionalmente dessa jornada.
E que bela jornada que Coogler nos entrega. Além de uma onde a cada frame, cada cena, seja nas grandiosas cenas de ação ou nas cenas mais íntimas onde os personagens trocam confidências em momentos variados, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega também uma, também super emotiva e que transborda sentimentos dos mais variados possíveis na medida que novos acontecimentos e eventos surgem na vida deles após os eventos traumáticos que a família real passou.
E para isso, Coogler, e seu time de produção, retorna a nos deslumbrar com os figurinos caprichados, a tecnologia de ponta, e um novo contexto político que Wakanda se encontra após a morte de T’Challa e todos os eventos que envolveram a chegada de Thanos na Terra nos filme anteriores. É o final de um capítulo e o começo de outro. E Pantera Negra: Wakanda Para Sempre se apoia nessa mitologia incrivelmente bem construída, seja para aprofundar as tradições de Wakanda, quanto para nos apresentar para civilização subaquática de Talokan, liderada pelo guerreiro Namor (Tenoch Huerta Mejía) e faz valer suas quase 3 horas de duração, por nos fazer voltar para esse canto do MCU e falar, “ainda temos muitas histórias para contar”, na medida que Coogler amplia o mundo apresentado no primeiro filme.
Tanto em termos de história contada, como é contada, e principalmente por nos entregar passagens tão bonitas de ser ver na telona, que afirmo dizer que a sequência, talvez, seja o mais cinematográfico que a Marvel Studios já foi, ou pelo menos dessa Fase 4 que é encerrada aqui com Pantera Negra: Wakanda Para Sempre.
E é isso que Pantera Negra: Wakanda Para Sempre faz, um encerramento de um ciclo no MCU, onde Coogler definiu um parâmetro para o que devemos esperar de uma produção do gênero lá em 2018, e aqui, ele mesmo muda a régua um pouco e mais para cima.
Em termos de representatividade, a sequência novamente se reafirma como um dos pontos fora da curva no MCU. Seja da forma como as cenas de ação são feitas, o escopo em que elas estão apresentadas (uma luta entre os Wakandianos e os Talokanianos lá nos momentos finais estão já na lista de melhores lutas do MCU) fazem de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre ser mais do que apenas um filme de super-heróis, e sim um longa sobre uma nação que luta para não deixar ser tomada por suas tragédias e como seu povo lida com essas adversidades.
E com isso, para a história dar certo, temos a introdução da figura de Namor (Huerta aqui fantástico e com uma presença intensa, ameaçadora e extremamente imponente), da jovem cientista/engenheira Riri Williams (Dominique Thorne, uma ótima adição ao MCU, numa personagem completamente carismática e que em breve estrelará sua série solo para o Disney+), da Dora Milaje Aneka (Michaela Coel) e todo um novo canto do MCU que Pantera Negra: Wakanda Para Sempre vai por explorar.
E entre figuras novas, o longa acerta em também retornar com os personagens antigos e mais coadjuvantes do primeiro filme, onde aqui, por conta dos acontecimentos, eles são colocados ainda mais no centro dessa história, o que dá margem para muito deles roubarem as atenções.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é de Basset que comanda a atenção em tela, e entrega poderosos e devastadores monólogos. Ao lado dela temos a figura polêmica de Letitia Wright que de todo modo também tem bons e importantes momentos na medida que vemos sua personagem ponderar algumas questões importantes, após anos de golpes pesados que a vida deu na viciada em tecnologia Shuri que ganha um bom destaque e Wright entrega uma comovente e cativante atuação.
E temos de volta também as atrizes Lupita Nyong’o como a espiã Nakia e Danai Gurira como a Dora Milage favorita dos fãs, a General Okoye, que tem muito que defender na medida que seu exército se vê como a linha de frente de proteção na medida que Wakanda está mais ameaçada do que nunca.
É um filme onde as figuras femininas se sobressaem na medida que Huerta e Winston Duke (como o guerreiro M’ Baku) apenas estão ali, em pequenas doses, mesmo que sejam ótimas doses na medida que Pantera Negra: Wakanda Para Sempre precisa lidar com essa gama de personagens, e vários arcos narrativos, que estão ali para se entrelaçarem com a história da busca de vibranium e da hegemonia de Wakanda no cenário mundial político.
Assim, a relação fragilizada de Wakanda, seja com os outros países, com a CIA e com Everett Ross (Martin Freeman), ou com o reino de Talokan é o que move narrativamente Pantera Negra: Wakanda Para Sempre e nos dá a chance de retornar para esse mundo, e esse canto do MCU menos cósmico, e menos hiper mega conectado com uma trama maior que o estúdio sempre criou.
No final, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega um caprichado e emotivo filme de transição e se coroa como o melhor, e maior, filme da fase 4, onde deixa o sentimento ruim da morte de seu protagonista, e da streamificação da Marvel Studios, de lado, e foca, e acerta, em contar uma boa, grandiosa, e bonita (mesmo que triste) história, onde independente de quem vai assumir o manto do Pantera Negra, o assume, sabendo que o que representa, a nação de Wakanda, é para sempre.
O filme tem 1 cena para ficar depois dos créditos e nenhuma após TODOS os créditos passarem.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre chega em 10 de novembro nos cinemas nacionais.