sexta-feira, 15 novembro, 2024
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Pam & Tommy | Crítica: Um olhar ousado sobre a cultura de celebridade com ótimas atuações de Lily James e Sebastian Stan

Um dos projetos mais ambiciosos a serem lançados em 2022 não se trata de um spin-off de uma série badalada, ou uma produção caríssima baseada em livros de sucessos, e sim uma, baseada em uma história real. E aqui uma minissérie, uma atração contada em 8 episódios. Pam & Tommy, Star+ no dia 2, chega para contar uma história em diversas etapas e se aprofundar em eventos que movimentaram os anos 90 quando uma tal fita – e as pessoas envolvidas nela – foi o assunto por meses e meses e mudou a forma como o culto a celebridades era encarado pela sociedade de forma geral.

Assim, o que temos aqui é a história de como Tommy Lee, o baterista de uma banda de rock, e Pamela Anderson, uma atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch (S.O.S Malibu no Brasil) se conheceram, até o momento em que tiveram suas vidas expostas no começo da Era da Internet.

E desde dos primeiros minutos da atração, quando o ator Sebastian Stan (dos filmes da Marvel Studios) aparece apenas de tanguinha dando ordens e gritando com os empreiteiros que estão para reformar sua mansão, até os primeiros glimpses de Lily James (do live-action de Cinderella) como a estonteante Anderson, fica claro que o maior trunfo dessa minissérie é quão precisa, e chocantemente incrível, é o seu trabalho de produção, caracterização e ambientação.

Sebastian Stan em cena de Pam & Tommy
Foto: Erin Simkin/ HULU 

Para uma história contada, recontada e espalhada por todos os cantos, o que mais impressiona em Pam & Tommy é esse trabalho minuciosamente preciso que o time liderado por D.V. DeVincentis entrega aqui. Ambos os atores principais estão irreconhecíveis e mergulham de cabeça nos papéis de Tommy Lee e Pamela Anderson. É essa caracterização que ajuda o espectador a ser catapultado para dentro da atração. O trabalho de Stan como Lee vem desde a perda de alguns quilos, o corpo todo tatuado (cenograficamente!), os brincos e as correntes, e o olhar perturbado que acompanha o personagem ao longo dos seus surtos tipicamente de um rock star. Já James tem toda sua fisionomia facial alterada e desaparece quando usa a voz fina e cantante de Anderson alinhada com implantes gigantes e um longo cabelo loiro.

O que poderia ser apenas uma caricatura se torna um trabalho de composição de personagem muito bem executado por ambos. São essas atuações transformativas e um apelo cinematográfico, principalmente nos capítulos dirigidos por Craig Gillespie, que trabalhou com Stan no longa Eu, Tonya, é que Pam & Tommy tem seus melhores episódios e os mais bacanas. Principalmente o combo inicial formado pelos três primeiros, aqueles em que a história, e os personagens, são introduzidos ao longo dos minutos iniciais e o sentimento de empolgação inunda a tela para sabermos como que tudo isso será abordado.

O começo? Pode sentar e esperar Stan e James aparecer já que os personagens aparecem pouco, o foco no início de Pam & Tommy é em mostrar como um empreiteiro qualquer, e que descola um trabalho na reforma da casa uma celebridade, consegue afetar o consumo da indústria sexual em apenas alguns meses e com apenas um clique. Assim, os roteiros de Robert Siegel e DeVincentis conseguem deixar que a série não seja aquele tipo de produção wikipédia em que os fatos são contados nas datas em que eles aconteceram certinho, pah e pum, e sim uma história que consegue mostrar para o espectador as motivações, o que causou o que, e principalmente as consequências após a fita caseira ser colocada na internet que ainda engatinhava para ser a internet que hoje conhecemos.

Seth Rogen e Nick Offerman em cena de Pam & Tommy
Foto: Kelsey McNeal/ HULU

Pam & Tommy usa em seu benefício ser uma série e não um filme para fazer com que seus episódios sejam apresentados para desenvolver personagens, seja eles o empreiteiro Rand (Seth Rogen também muito bem) com suas “motivações” para fazer o que fez ao mostrar o como e por que ele fez isso (o cara roubou um cofre depois que foi demitido da obra), o produtor de conteúdo adulto conhecido como Uncle Miltie que entra no esquema de reprodução das fitas e aqui interpretado por Nick Offerman, e claro, o casal de protagonistas que veem sua relação intensa ser atropelada por paparazzis, pela mídia que começa a sentir o cheiro de escândalo no ar e por esse início de uma Era em que celebridades começaram a se verem expostas ainda mais por conta dos avanços tecnológicos.

Cada episódio é um tipo diferente de episódio, o começo é mais frenético, literalmente estamos dentro de um filme de assalto, onde tudo é mais divertidinho, com uma trilha sonora maravilhosa deliciosa e ágil, e depois passamos a ver os personagens lidaram com as consequências de tudo que acontece e como tudo de uma forma muito interessante para cada um deles.

Um dos melhores momentos da atração é quando temos Tommy e Pam em busca de um computador com acesso à internet e os dois partem para uma biblioteca pública para acessar o tal site. Temos também, por exemplo, um episódio inteiro dedicado para como tudo isso particularmente afetou Anderson, onde James realmente se entrega e realmente faz acontecer. É como a personagem fala: “Para mim é diferente, Tommy. Para mim é diferente porque sou mulher.”

Lily James em cena de Pam & Tommy
Foto:  Erica Parise/ HULU

Ao longo da temporada vemos como as consequências da fita afetam eles, com um processo judicial que ajuda o boca a boca sobre ela se espalhar, e ainda a aparição de diversas outras figuras como o apresentador do talk show Jay Leno, o lendário dona da revista Playboy Hugh Heffner e muito mais… mas realmente o que temos aqui é desconstrução da figura de Anderson como uma sex symbol para uma mulher que realmente foi a parte mais afetada nessa história toda. É sem dúvidas, o melhor trabalho da carreira de James e por tabela de Stan. Juntos os dois estão ótimos e explosivos, e separados entregam boas passagens. Pam & Tommy é sobre uma sex tape, mas também entrega a Emmy Tape da dupla que tem de tudo para levar o prêmio, em suas respectivas categorias, para casa em Setembro. 

A primeira grande nova atração de 2022, aquela que deve movimentar as discussões on-line, Pam & Tommy faz um olhar ousado, oras polêmico (sim temos o membro de um dos personagens criado por computação gráfica e que fala com ele), sem freio nenhum para contar talvez um dos primeiros, e um dos mais interessantes, capítulos sobre a obsessão moderna ao culto de celebridades. 

Aqui, Pam & Tommy já é a nossa primeira grande obsessão do ano, num trabalho de atuação imperdível de Stan e James.

Pam & Tommy chega em 2 de fevereiro no Star+.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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