Os Fantasmas Se Divertem, talvez, esteja na lista de filmes dos anos 80 e 90 que passaram a rodo na Sessão da Tarde e era meio um dos que lideravam o pacotão de produções que foram se tornando clássicos ao longo dos anos por conta dessas transmissão na TV aberta e numa época onde tínhamos poucas opções de escolha do que assistir, e principalmente quando assistir.
Seja por conta das atuações de Michael Keaton e Winona Ryder que estavam com tudo na época, pelo humor um pouco mais afiado, e adulto, e que realmente, hoje vendo a versão legendada e com outros olhos, fica claro que foi um pouco diluído pela dublagem brasileiro, e até mesmo pelas peripécias e os efeitos práticos que ajudavam a dar para o filme aquele sentimento de excentricidade e de ser alguma coisa única dentro do mar de reprises na TV aberta.
E nessa onda de nostalgia que tomou conta de Hollywood nos últimos anos, na tentativa de marcar presença com propriedades intelectuais que deram certo no passado, temos aí de volta o Besouro Suco, a família Deetz e o mundo além mais uma vez e pelas mãos de Tim Burton.
Mas trazer esse time de volta com Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice (Beetlejuice, Beetlejuice, 2024), dá certo?
Olha, vou dizer que sim e também que não. Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice faz sim um agradável retorno para essa história, para esse Universo, e para esses personagens. É muito bom estar de volta, principalmente, depois de tantos anos, e logo no começo do longa ver a abertura desse filme fazer um paralelo com o longa dos anos 80, onde, novamente, a câmera percorre a cidade, através da maquete e com a trilha Danny Elfman no talo.
A sensação de conforto e de estar num lugar conhecido já é sentida desde do começo, onde querendo ou não, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice diverte e mantém a marca registrada espirituosa e meio amalucada do primeiro filme.
E ao mesmo tempo que segue a cartilha que deu certo no filme original por ser, como falamos, divertido, bem humorado e com boas atuações, e principalmente referenciar o primeiro filme, devemos encarrar e entender que sim Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice tem algumas ressalvas sim. Essa “sequência legado/reboot” soa muito mais como espécie de grande homenagem do que efetivamente conseguir contar uma boa nova história.
Digo isso, por que Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice tem muitos caminhos para percorrer, muitos personagens novos para apresentar, e no final, se embola um pouco nos diversos arcos narrativos que precisa resolver, e que são resolvidos, diga-se de passagem, só que de uma maneira tão rápida quanto vemos Beetlejuice surgir quando alguém fala seu nome 3 vezes.
Acho que Keaton e Winona estão realmente muito bem e voltam para seus personagens como se não tivessem se passado 30 anos, seja na vida real, ou com esses personagens dentro do universo do personagem. As caras e bocas de Keaton com a maquiagem super carregada, os figurinos, o humor extremamente afiado e sarcástico que vem do roteiro e que fica claro que o ator improvisou demais, o tom alucinante do personagem ligado nos 220v.
Fica claro que a situação de Beetlejuice não está das melhores o Mundo do Além quando uma figura do passado surge para trazer mais confusão para o lado do personagem. E na medida que ainda vemos o personagem do Besouro Suco com seu cabelo verde e seu terno listrado tentando bolar novos planos de voltar para o mundo dos vivos, vemos também a relação conflituosa de uma adolescente e sua mãe, igual tivemos de certa forma em Os Fantasmas Se Divertem.
Tudo isso garante que a história empolgue na medida que a família Deetz retorna para a mansão na colina depois de muitos anos, só que agora sem a presença de Charles Deetz, que faleceu. (E o ator esteve envolvido em algumas paradas bem sinistras ao longo dos anos e aqui não dá as caras). Só que agora, anos mais tarde, é a vez Lydia (Ryder, muito bem) e sua filha Astrid (Jenna Ortega, bem também, mas totalmente no piloto automático de Wandinha) de terem problemas, quando descobrimos que Lydia é viúva e seu marido sofreu um acidente na Amazônia Brasileira.
Sinto que Ortega, é ao mesmo tempo uma excelente escolha para o papel, e ao mesmo tempo que esse papel seria um desafio grande para ela, Burton e os roteiristas por conta do envolvimento de todos com a série da Netflix. E ao introduzir o jovem Jeremy (Arthur Conti), um dos vizinhos dos Deetz na cidade, na história, por mais que ajude narrativamente o filme a contar essa história, as semelhanças com o seriado são gigantes e infelizmente prejudicam um pouco o fluir da trama.
Outra personagem do primeiro filme que também retorna, é a artista Delia Deetz que também está de volta com novas ideias artísticas piradas, e sinto que Catherine O’Hara aceitou o papel em Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice pela diversão. E mesmo sem um grande número musical como teve no primeiro filme, a atriz, está excelente. A personagem de O’Hora está mais sem noção, mas pirada e realmente cai como uma luva para o que podemos esperar do filme de maneira geral e pela atriz que tem retornado para os holofotes depois de anos e principalmente por conta da série Schitt ‘s Creek.
Quem também está bem e entrega seu melhor aqui, é Justin Theroux que dá uma de Ken e interpreta em Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice, Rory, um galanteador produtor que tem um casinho com Lydia e que é responsável pelo programa de TV que a personagem aparece e que tenta desvendar os mistérios do além.
E se o lado dos vivos, é marcado por novos personagens, e novidades, no lado dos mortos também podemos esperar a mesma coisa. Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice é um filme um pouco lotado sim. E assim, o mundo do além é mais explorado na sequência e meio que abre a porta para o inesperado na medida que uma demônia dá as caras e começa a perseguir Beetlejuice.
Com um visual ah lá Mortícia Adams (uma homenagem para os Addams já que o diretor, os roteiristas e Jenna Ortega trabalham na atração da Netflix como falamos), e com uma fome gigantesca por almas, a personagem de Monica Bellucci está ali apenas para dar para a atriz a chance de brilhar em tela. Mesmo que, narrativamente falando, o arco que a personagem está inserida, e ainda toda a subtrama que envolve o detetive interpretado por Willem Dafoe poderiam muito bem terem sido enxugados de alguma versão do roteiro.
Quando se trata de Tim Burton, menos nunca é mais, mais aqui, talvez, desse para darmos um apertada né? Afinal, ao apresentar todos personagens, tantas narrativas, e diversos vilões que pipocam ao longo do filme, faz com que a trama de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice soe episódica e que demora um cadinho para engrenar de vez. Mas quando alguém diz Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice pela primeira vez e o demônio de Keaton dá as caras no mundo real, o sentimento de empolgação, de caos, e imprevisibilidade é sentido e o longa serve como uma releitura, mais moderna sem dúvidas, da história clássica.
No final, a estranheza sentida com a sequência, fique, talvez, pelo fato que Os Fantasmas Se Divertem, acaba por ser um produto do seu tempo, da sua época, e que com a modernização do cinema, e das tecnologias usadas, faz com um pouco da graça tenha sido perdida quando vemos anos depois Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice.
Mesmo que Keaton seja incrível, Ryder também, e que Ortega se firme no campo do cinema de gênero em mais uma franquia, fica claro que Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice acaba por ser um capítulo (requentado) à parte e não uma verdadeira continuação propriamente para a história, mas isso também não impede de passarmos bons momentos com o filme. Afinal, eu já vi O Exorcista Beetlejuice quase umas 167 vezes e continua por ficar cada vez mais engraçado toda vez que eu vejo. Afinal, com o personagem sempre é hora do show!
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice chega nos cinemas nacionais em 5 de setembro.