Em um dos momentos de Os Estranhos: Capítulo 1 (The Strangers: Chapter 1, 2024) a personagem da atriz Madelaine Petsch diz “que tá tudo muito estranho aqui” quando o que deveria ser uma noite tranquila, numa cabana no meio da floresta, se torna uma alucinante batalha de sobrevivência para o casal de protagonistas do longa.
E realmente, descrever nesse texto o que vocês podem esperar de Os Estranhos: Capítulo 1 é isso: o que temos aqui é um filme estranho de se assistir. Estranho pelo fato que a dupla de roteiristas Alan R. Cohen e Alan Freedland (mais conhecidos por cuidarem do script da comédia Parto de Viagem em 2010) apresentam para o longa, e para esse começo de uma nova franquia, dois dos personagens mais burros dos filmes de terror dos últimos tempos. Sorte de todos os envolvidos que a parte 2 e 3 já foram gravadas.
E não só isso, também pela forma estranha, nada natural ou orgânica, de como as coisas acontecem aqui em Os Estranhos: Capítulo 1, seja pelos diálogos duros, seja pelas atuações bem qualquer coisa de todos os envolvidos. Parece que nem Petsch, vinda do sucesso de Riverdale e aqui também com crédito de produtora, e nem Froy Gutierrez (de Cruel Summer) conseguiram fazer a transição da TV para o cinema como esse casal que se vê perdido no meio de uma cidadezinha remota quando fazem um desvio no meio da viagem de carro que eles estão e precisam encarrar assassinos mascarados.
Assim, logo no começo do filme, a relação de Maya (Petsch) e Ryan (Gutierrez) é apresentada quando vemos a dupla fofocarem amenidades no carro enquanto estão a caminho de uma entrevista que a personagem da ruiva vai fazer para uma vaga em outra cidade. Eles parecem ser um casal perfeito, mas assim como o filme, alguma coisa “estranha” transparece nesse relacionamento. Mas meio que o longa também nunca trabalha nisso, e acho que seria pedir muito do texto de Os Estranhos: Capítulo 1 se esses protagonistas tivessem mais coisas por trás do que aparentam ter do que nesse primeiro momento, afinal, quando o casal chega para fazer uma paradinha num restaurante de beira de estrada, numa cidade com pouco menos de 500 habitantes, fica claro que a situação não vai acabar bem para eles de qualquer forma.
E a recepção da dupla no lugar também é estranha. Ao mesmo tempo que o casal ganha os holofotes por serem forasteiros, os moradores da cidade também não parecem muito confortáveis com a presença deles e essa estranha sensação é o que gera todo o arco narrativo do longa, afinal, logo depois de comerem no lugar, o carro de Maya e Ryan quebra e eles são obrigados a passar a noite na cidade.
“É um golpe!” afirma Ryan para Maya. E sim, é um golpe na medida que a tarde do casal não começa bem e eles precisam passar a noite na cabana alugada no meio do nada depois que o mecânico Rudy (Ben Cartwright) e a garçonete Sally (Ema Horvath) indicam o local para a dupla. E nem quando a ação começa o diretor finlandês Renny Harlin consegue usar os espaços fechados da casa isolada que o casal vai para criar tensão. As cenas em que os mascarados (um com uma máscara tipo do espantalho, outra com pin-up e outro com doll-face) estão na casa, e ainda não revelaram sua presença para os hóspedes, não causam nenhum tipo de susto ou jump scare.
Os Estranhos: Capítulo 1 não sabe assustar e não se preocupa em tentar usar os artifícios típicos de filmes do gênero para te fazer isso. Abigail, outro filme de terror que se passava num lugar fechado, por exemplo, acertou muito nesse quesito e em criar uma ambientação mais sombria para contar essa história. E também, como falamos, Petsch e Gutierrez não ajudam em nada aqui.
Das cenas desses dois atores juntos, enquanto no meio da noite eles são interrompidos por batidas na porta, e visita inesperadas, até mesmo nas cenas quando os dois estão separados, principalmente enquanto Maya fica sozinha no chalé, enquanto Ryan vai atrás da bombinha de oxigênio para asma que é deixada no carro que ficou na oficina, ou até mesmo depois quando a ação começa e os dois ficam separados. Infelizmente, os dois não convencem aqui de nenhuma forma. Ninguém eleva ninguém, ninguém se sai bem, ninguém entrega alguma coisa boa de se assistir. E fica claro que é o roteiro que os faz tomar as atitudes das mais sem pé nem cabeça possível.
De Maya que sente a presença de alguém no lugar e mesmo assim resolve usar drogas recreativas, tomar um banho, secar os cabelos para Ryan que vê sua asma não atrapalhar em quase nenhum momento, e que também não consegue usar direito nem um machado e nem uma espingarda lá para os momentos finais do filme. São um casal adorável sim, mas também um casal burro.
Assim, ao assistir o filme, eu ficava como pode esse casal não ter tomado quase nenhuma decisão boa ao longo dessa história? Acho que isso só acontece uma vez, quando eles estão fora da casa depois de terem conseguido espantar as figuras mascaradas do chalé, e estão prestes a fugir e a jovem fala: pega a espingarda! E só isso, por que não é possível que as coisas se desenrolem daquela forma quando você está na busca desenfreada para salvar sua vida.
E o roteiro do longa também não se preocupa em explicar nada, nem sobre a identidade dos mascarados e nem sobre suas motivações, onde também falha ao tentar criar uma mitologia para essa história, afinal, sabemos que estamos no capítulo 1 e que teremos um novo capítulo pela frente. Então tirando a cena final e a cena pós-crédito que tenta acabar o filme com uma boa nota, tudo soa muito estranho. É como se estivéssemos vendo um grande capítulo de uma série de TV, só que no cinema, e o próximo não está ali disponível para continuar com essa história.
No final, Os Estranhos: Capítulo 1, nem funciona bem como suspense, nem funciona bem como terror e somente entrega um show de horrores. Aliás, pouca coisa realmente funciona aqui, onde nem mesmo ter 1h30 ajuda, afinal, poderia até ter menos tempo de duração.
Os Estranhos: Capítulo 1 chega em 30 de maio nos cinemas nacionais.