Fica claro que Operação Vingança (The Amateur, 2025) é meio que um círculo que se completa e fecha para o talentoso Rami Malek. O ator estourou em Hollywood na série Mr. Robot, lá em 2015, onde interpretava um hacker, um cara que era um gênio nos computadores que sofria com problemas mentais e tinha como missão acabar com a ganância corporativa. Logo depois, Malek foi interpretar Freddie Mercury nos cinemas, ganhou o Oscar, foi para a franquia James Bond ser o vilão e depois meio que desapareceu?
Com todo o capital social em Hollywood que aparentemente sobrou, agora Malek volta em grande estilo com um drama de espionagem com D e E maiúsculo, onde além de estrelar, também produz e dá as cartas por aqui. Coisa que é sentida em Operação Vingança. A jornada do filme começou aqui no Brasil, na D23, em novembro do ano passado, onde Malek veio pessoalmente divulgar o filme e ainda apresentar o primeiro trailer do projeto na convenção. A relação com o país tenha começado a fazer sentido quando o ator desembarcou meses antes para acompanhar a pessoa com que ele se relaciona na sua vida pessoal, Emma Corrin (que esteve no país para divulgar Deadpool & Wolverine), e, talvez, Malek tenha percebido o quão vocal é o país nas redes sociais e para a divulgação necessária que o longa precisava.

Afinal, Operação Vingança é sobre a relação da humanidade com a tecnologia, onde, se hoje em dia o mundo parece mais fácil, menor, conectado e disponível a um clique, ao mesmo tempo as questões de geopolítica e de inteligência também precisaram se adaptar aos novos tempos. E, talvez, Malek, na função de produtor do filme, tenha pensado que Operação Vingança talvez precisasse desse empurrão digital nas redes para conseguir se destacar. E precisa, afinal, o longa parece que foi meio esquecido no calendário da Disney no meio do furação que foi Branca de Neve e do próximo lançamento da Marvel Studios, Thunderbolts*.
Vai ser o brasileiro que vai ser o responsável por isso? Não. Operação Vingança deve se sustentar sozinho por ser um bom filme, sem dúvidas, e um que sim, vai depender do boca-a-boca, principalmente online para se destacar na semana competitiva que foi colocado. Operação Vingança acerta ao entregar uma trama que parece recém-saída de um episódio da mesma Mr. Robot que alçou Malek para o estrelato com uma mistura de John Wick.
Afinal, o estopim que faz o analista da CIA, o introspectivo, mas extremamente inteligente, Charlie Heller ir em busca de sua vingança (tá aí o título nacional completamente diferente do americano se fosse traduzido de forma literal) é a morte de sua esposa Sarah (Rachel Brosnahan no início de um excelente ano com esse e Superman) durante um atentado terrorista em Londres.
Num primeiro momento, até era esperado que o longa fosse por cair naquela fórmula do “homem comum” que se envolve em conspirações, assassinatos e uma rede de mentiras para honrar a mulher que ama. Mas Operação Vingança, mesmo que acabe por ser uma história de luto, é mais do que isso, onde, além de vermos Heller caminhar por todas as etapas dele (negação, barganha, aceitação e tudo mais), temos também uma trama de espionagem bastante interessante. É uma mistura de Mr. Robot, como falamos, com Jack Ryan com John Wick, mas aqui, uma bem mais realista, e que no final, entrega alguma coisa bem mais atualizada, já que o longa de Keanu Reeves querendo ou não tem mais de 10 anos, mas mesmo assim ainda pauta a cultura pop e os filmes de ação que foram desenvolvidos e aprovados de lá para cá.
Ao mesmo tempo que Heller começa a cavucar nas outras operações que a CIA realiza, ele percebe um certo receio de seus superiores em continuar a procurar mais sobre o que aconteceu em Londres naquele dia. Liderados pelo Diretor Moore (Holt McCallany) e por Caleb (Danny Sapani), que são figuras importantes na CIA, os dois meio que decidem que não vão continuar a se empenhar na investigação, coisa que leva Heller a procurar as pistas e informações por conta própria. E ele acha, claro.
E é muito bacana ver Heller usando seu conhecimento nos pontos cegos da CIA para tentar burlar a segurança de uns dos prédios mais bem vigiados no mundo. É como ver um quebra-cabeça se desenvolver em boa parte do filme. A busca em querer fazer justiça com as próprias mãos, e ir atrás dos criminosos que ele sabe quem são, onde estão, e tudo mais, é o que dá para Operação Vingança uma certa agilidade tanto para narrativa quanto para o filme de maneira geral.
Bem mais do que apenas esperamos ver Heller treinar com o oficial Henderson (Laurence Fishburne) para se transformar de um analista para um especialista em combate. Claro, as coisas tomam outro rumo quando a CIA torna Heller um alvo e a desculpa de o ajudar se torna uma para caçar o analista que foge para tentar completar sua missão. Assim, é divertido ver e acompanhar Heller planejar o que ele vai fazer com cada um dos envolvidos pela morte de sua esposa. E de ver como ele vai circular pela Europa para fazer na medida que bola seus planos e precisa também fugir da CIA. É quase como se estivéssemos em uma versão maior, em uma escala global, e hiper mega perigosa de Esqueceram de Mim, onde Heller cria planos e mais planos.
Afinal, como falamos é um homem comum com zero predisposição para ser um espião, mas que consegue ir atrás de pessoas que tem como profissão matar uns aos outros. Heller não se garante no soco ou na porrada, ele se garante na inteligência e usa isso ao seu favor para coletar pistas e ir atrás dos mercenários responsáveis por tirarem a vida de sua esposa. Com a ajuda de uma colega que ele só conhecia online, aqui interpretada pela atriz Caitríona Balfe, e de um colega da CIA interpretado por Jon Bernthal (no seu pós Emmy por O Urso e no primeiro filme que ele lança no mês junto com O Contador 2), eles bolam diversas formas de chegar nos nomes que ele quer.
Seja invadir uma clínica médica, uma balada underground no sul da França, ou até mesmo, um perseguição pelas ruas de Istambul, Heller também consegue invadir um hotel de luxo, com uma piscina de vidro que conecta os dois lados do prédio, e faz uma das melhores cenas do filme. É aqui que o filme ganha forma e ritmo, em todas os planos que Heller cria para chegar nos criminosos, que querendo ou não, acabam por serem um pouco esteriótipos de vilões que vemos em diversos outros filmes de ação.
E talvez, isso problema do roteiro de Operação Vingança, escrito por Ken Nolan e Gary Spinelli, e que é baseado no livro Robert LiSell, que apela um pouco para conveniências e coincidências, mas não deixa de entregar uma boa história de espionagem, sem dúvidas.

Fica claro então que Operação Vingança não tem a mesma classe ou sofistificação de Código Preto (outro longa do gênero que estreou nos cinemas algumas semanas atrás), mas é por conta de Malek que dá certo.
E também por conta da direção de James Hawes que conseguiu fazer a transição de contar uma história de espionagem na TV, com a série Slow Horses, para contar uma história de espionagem agora na telona. O diretor usa o melhor de Malek que pode, e o ator comanda presença em toda cena que está, e basicamente está quase 100% em todas elas e realmente vende a figura desse homem que depende de si mesmo para sobreviver àquilo que começou. Hawes usa também as diversas cidades e locações que a jornada de Heller o leva para contar essa história, num longa de espionagem enxuto, sem muita firula, e que vai ao ponto para contar essa história sem medo de se apoiar nos clichês e cacoetes do gênero.
É o que faz totalmente a diferença para Operação Vingança em ter algum tipo de diferencial e se sobressair das últimas apostas no gênero, seja se compararmos com a própria Slow Horses, ou até mesmo Black Doves, ou O Dia do Chacal, ambas no streaming, e do já citado Código Preto.
No final, Operação Vingança faz um filme de gênero bacanudo que foge um pouco do que já temos vistos por aí e dá para Malek a chance de mostrar que existe mais Malek, o ator, depois do Oscar. Um caminho que muitos de quem venceram o prêmio tem sofrido para continuarem nestes capítulos seguintes de suas carreiras. Assim, como vemos acontecer com Heller, para Malek, também ainda há luz no final do túnel.
Operação Vingança chega em 10 de abril nos cinemas nacionais.