A união pouco improvável de dois nomes conhecidos do cinema, o lançamento no festival de Toronto com toda a pompa, e a tentativa de pincelar diversos temas que estão tendo seus momentos de destaque nas produções de maneira em geral, marcam a chegada do drama Obsessão (Greta, 2018) nos cinemas nacionais.
O talento da veterana Isabelle Huppert, que cada vez mais tenta galgar um espaço maior em produções americanas, após ser indicada ao Oscar pelo ótimo Elle (2016), acaba por ser a principal força da produção. Em Obsessão, a atriz se destaca e realmente se mostra um patamar acima de seus colegas e consegue entregar bem mais do que roteiro da dupla Neil Jordan (que também dirige) e Ray Wright oferece.
Greta tem uma profundidade como personagem gigantesca, onde Huppert consegue colocar uma atuação minuciosa e precisa para a figura da senhora aparentemente normal que vive em Nova York. Assim, uma bolsa perdida no metrô da cidade, é o mote para o espectador entrar de cabeça na trama de suspense, com uma dose um pouco macabra e algumas situações inesperadas.
Assim, tudo no roteiro de Obsessão acaba por ser bem conveniente para o desenrolar da trama, onde levamos um tempo precioso para nos ambientar com os dois lados do filme, de um lado temos a doce e inocente Frances (Chloë Grace Moretz sempre esforçada) que vive com sua amiga Erica (Maika Monroe), e do outro, temos a senhora solitária que vive nos fundos de um conjunto de prédios num bairro da movimentada Nova York.
Obsessão tem uma forte problema de ritmo, onde parece vermos dois filmes diferentes na mesma produção, o que deixa o longa com um ar extremamente pesado de se acompanhar. Mas, quando as ações de Greta começam a ficar mais psicóticas e perigosas, e seu eu verdadeiro problemático acaba por surgir, parece que o roteiro de Obsessão tem um estalo e dá uma volta por cima. Então, somos apresentados para uma complexa relação de jogos mentais perturbadores, monólogos interessantes e que desbravam um pouco da personalidade doente de Greta que dão, enfim, um sentimento de propósito para o filme e para as ações da instável senhora.
Talvez em Obsessão falte um foco maior para a trama, e como falamos, vemos o filme tenta ser tudo, desde um retrato psicológico sobre solidão, perda e síndrome de Borderline, mas é entregue de uma forma muito rasa, e acaba por diminuir a complexidade dessas questões ao tentar ir para um lado mais fácil, quase slasher da situação, onde por pouco Greta não é um assassino mascarado que ao ser morto aparece novamente para tentar matar a protagonista.
Como drama, Obsessão até faz um bom suspense, mesmo que se apoie em diversas situações e momentos clichês, mas que nos garante novamente, pelo menos, uma impressionante atuação de Isabelle Huppert. A atriz parece querer perder o selo de ser apenas “aquela atriz francesa” e chegar em Hollywood de vez e pela porta da frente.
Obesessão chega em 13 de junho nos cinemas.