segunda-feira, 25 novembro, 2024
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O que tem rolado com a Greve dos Roteiristas e como isso afeta o espectador?

Episódio 4x01 - Season 4 da série 30 Rock Foto: NBC/Comcast

Ela está de volta! Depois de acontecer em 2007 e dar uma sacudida em Hollywood, a greve dos roteiristas acontece mais uma vez nos EUA, onde os trabalhadores que fazem parte do sindicato dos Roteiristas (WGA, a Writers Guild of America) entraram em pausa até suas demandas serem atendidas pelos principais estúdios de entretenimento do mundo.

Assim, nenhum novo roteiro, ou acordo para novos roteiros, serão feitos até uma nova negociação acontecer entre as partes envolvidas.

“Nós não fechamos um acordo com os estúdios e plataformas de streaming. Nós vamos entrar em greve quando o contrato vencer às 00h. do dia 2 de maio” afirmou a organização em comunicado.

A organização dos roteiristas já vem há 6 semanas em negociações com a Association of Motion Picture and Television Producers que representa empresas como Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner Bros. Discovery, NBC Universal, Paramount e Sony Pictures para uma questão que tem dado dor de cabeça para todos algum tempo e que se agravou durante a pandemia: os serviços de streaming.

Mas o que tem rolado nesse arranca rabo entre os roteiristas e os principais serviços de streaming e estúdios?

Separamos alguns tópicos para ficar de olho:

É TUDO SOBRE O DINHEIRO

Foto: Warner Bros. Discovery

Anteriormente os roteiristas eram contratados para cuidar dos roteiros de uma série de TV, que por exemplo, ia ao ar em algum canal de TV aberta nos EUA (ABC, FOX, NBC, CBS e The CW).

A temporada começava tradicionalmente em Setembro/Outubro, a chamada Fall Season, e ia até meados de Maio do outro ano. E claro, tínhamos ainda o período da Mid-Season que começava perto de Março, e também a temporada de verão, logo após a temporada oficial terminar. Era um calendário bem divididinho. Ou seja, as atrações iam ao ar durante esse tempo, com algumas pausas, estratégicas, e as temporadas eram desenvolvidos para durarem todo esse período, então os seriados tinham aproximadamente uns 22 episódios por temporada.

E o que sempre valia a pena, financeiramente, para os envolvidos eram as reprises e o chamado Syndication. Ou seja, ao atingir a marca de 100 episódios (5 temporadas completas), a atração era “revendida” para outros canais, diferentes do canal original que a atração passava. Então os roteiristas (os atores, os produtores, e todos envolvidos) ganhavam um certo valor cada vez que a série era vendida e é exibida fora da sua exibição original, afinal, tínhamos novos comerciais vendidos e tudo mais.

Essa era a meta a ser conquistada e os chamados “residuais financeiros” que essa galera ganhava, é que é o foco dessa nova greve dos roteiristas. Ou seja, o quanto eles, a cada trimestre, ganham a mais depois que os episódios vão ao ar.

São as mesmas condições que rolaram na chamada Greve dos Roteiristas de 2007, onde segundo informações, a pausa deu prejuízo de mais de US$2.1 bilhões para a indústria.  

COMO O STREAMING ESTÁ NO CENTRO DE TUDO!

Foto: Disney. All Rights Reserved

E com a chegada do streaming, e a popularização das plataformas, e as coisas mudaram um pouco para os roteiristas ganharem seus residuais. Afinal, só foi agora que as plataformas começaram a colocar “anúncios”, mas o foco no streaming sempre foi aumentar a base de assinantes que pagam suas assinaturas (seja mensalmente ou anualmente) e permanecem na plataformas.

E na medida que muitos artistas tem preferido ir para o streaming onde podem contar histórias, e interpretar personagens, mais complexos, e sem as amarras da classificação indicativa da TV aberta, o streaming substituiu a TV a cabo como um lugar para contar novas e interessantes narrativas.

É só vermos a quantidade de séries nas principais premiações que vem de plataformas de streaming vs a de TV aberta.

Um dos últimos hits da TV aberta americana é a comédia Abott Elementary que vamos usar de exemplo aqui para ilustrar o problema que os roteiristas tem passado. Segundo uma dos roteiristas do programa, Brittani Nichols, o valor que ela recebe do canal ABC toda vez que o seriado é reexibido é de US$ 13.500/por episódio. Mas a comédia tem um acordo de passar no dia seguinte no Hulu e depois na HBO Max e em alguns mercados no Disney+ e no Star+. Segundo Nichols, a quantidade que ela recebe é de apenas US$ 700.

E é esse dos motivos que os roteiristas tem lutado durante as negociações com os estúdios nos últimos meses.

E é por isso que temos visto muitos seriados sairem das plataformas de streaming, afinal, os estúdios não querem ter que pagar novas licenças e consequentemente as pessoas envolvidas.

O QUE A GREVE DOS ROTEIRISTAS PREJUDICA O CONSUMIDOR?

Foto: Netflix

Em diversas partes. Como falamos na medida que os serviços de streaming decidem não renovar os contratos das pessoas envolvidas, diversas séries não estão mais disponíveis nas plataformas. O erro comum era achar que os serviços de streaming seriam “cofres para sempre” e que “poderíamos encontrar tudo lá”. Não! Cada série (filme e etc) custa um valor para estar no catálogo, e se uma sala de executivos olharem suas planilhas e decidirem que aquele projeto não atraí uma quantidade de assinantes para sua base, é capaz de não termos o seriado (ou projeto) lá.

Foi assim que aconteceu com diversos programas ao longo dos últimos meses que desapareceram das plataformas. E também é o caso que muitas séries não estão disponíveis em plataforma de streaming. Por exemplo, aqui no Brasil, séries como 30 rock, Parks & Recreation, e produções mais antigas não são encontradas no streaming.

Os estúdios e os serviços de streaming não querem colocar esses programas em suas plataforma para não terem que pagar pelas licenças, e também pelos residuais, devidos para todos os envolvidos.

Isso é uma das partes que te afeta consumidor nessa greve dos roteiristas.

A outra, claro, é que com a grave, novos roteiros, e novos projetos não vão sair do papel, ou seja, teremos em algum momento, uma pausa na chegada de novos conteúdos. Claro isso normalmente leva um tempo, afinal, até decidirem fechar as salas de roteiristas, aprovarem os projetos, escreverem os roteiros, fecharem os nomes no elenco, e gravar, leva um tempo. Mas é uma cadeia de produção, se você para, uma hora não chega novos projetos, certo?

Em 2022, foram feitos/exibidos 599 seriados com roteiros entre drama, comédia e minisséries nos EUA. E claro que programas como os talk-shows noturnos, o Saturday Night Live e outros programas também já serão impactados pois os roteiristas se reúnem muito próximo de quando os programas vão ao ar.

Talvez para 2023, por conta da greve, menos programas vão ser encomendados, escritos, e gravados. Segundo informações, a greve já pode afetar a próxima temporada, afinal, os roteiristas começam a trabalhar nos roteiros das séries que estreiam em Setembro e Outubro, em Maio e Junho.

“A escrita para várias séries de streaming também está em andamento ou está prevista para começar nos próximos meses. Qualquer atraso no início do trabalho tem o potencial de adiar as estreias da temporada da Fall Season e pode reduzir a quantidade de nova programação produzida para a temporada 2023-2024 dos canais de TV aberta” afirma um reporte do sindicato.

A qualidade pode melhorar? Sim, mas também podemos ter o contrário, a qualidade pode cair e a proliferação de programas não roteirizados (os reality shows) podem aumentar.

Os acordos são renovados a cada três anos entre o sindicado e os estúdios, que agora sofrem um empasse. A WGA tem outras questões que estão na pauta, como o estabelecimento de salas de roteiristas com número mínimo de profissionais, e tudo mais, apenas separamos as mais importantes. Você pode conferir tudo que foi pedido aqui no documento liberado pela organização.

A Greve dos Roteiristas de 2023 começou e não tem prazo para terminar. Fiquem ligados aqui para novas informações.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

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