Bem, realmente não dá para negar que a veia cômica de Ryan Reynolds é um dos seus principais trunfos como ator. E em O Projeto Adam (The Adam Project, 2022) isso fica muito claro na medida que o ator precisa contracenar com uma versão de si mesmo só que do passado. Um pouco confuso? Espera só até você saber que Jennifer Garner e Mark Ruffalo interpretam os pais dele. O quê? Isso, mesmo.
O Projeto Adam é isso, um filme de ficção científica com cara de Sessão da Tarde, sabe? Sinto que o diretor Shawn Levy (que trabalha com Ryan Reynolds novamente depois de Free Guy – Assumindo o Controle) e o time de roteiristas formado pelo trio Jonathan Tropper, T.S. Nowlin, e Jennifer Flackett quiseram prestar uma grande homenagem para os filmes do gênero que foram pipocando no final dos anos 80 e começo dos anos 90 após o sucesso de De Volta Para O Futuro (1985). Um filme nessa mesma pegada mas com os efeitos visuais dos dias de hoje. Para mim funcionou.
E aqui O Projeto Adam entrega um simples, mas divertido filme de ficção científica. Particularmente eu acredito que o projeto só deu certo por conta dos nomes envolvidos, e super conhecidos em Hollywood, e do texto que garante algumas boas sacadas e que prendem nossa atenção ao longo de suas quase 2 horas. E isso já é um grande passo para a humanidade … quer dizer para o tipo de conteúdo que a Netflix oferta.
O Projeto Adam pode ser considerado um desses blockbusters que a plataforma tem apostado como Mistério no Mediterrâneo, Bird Box, e Alerta Vermelho. É trazer grandes nomes para um tipo de filme com um tipo de fórmula pronta para agradar e claro fazer com que o espectador assista e assista o longa várias vezes. E aqui, com O Projeto Adam, a Netflix mira seu principal concorrente na guerra dos streamings e aposta num longa família que tem também robôs malvados que atiram nos protagonistas, um vilão caricato, e claro um protagonista desbocado e que sofre com um arco narrativo de amadurecimento.
Amadurecimento para Adam, 13 anos (Walker Scobel um achado e totalmente carismático) e para Adam 30 anos no futuro (Reynolds, tão bem aqui) na medida que a versão mais velha de Adam acaba por voltar ao passado, em 2022, e encontrar seu eu criança que sofre com a morte do seu pai (Ruffalo) e vive metido em encrencas no colégio e não está numa boa fase com a mãe (Garner). O Projeto Adam entrega um filme de etapas, arcos narrativos a serem ultrapassados para chegarmos em outros, quase como um videogame (ah lá Free Guy), onde temos certas passagens que precisamos assistir para chegar em outros momentos, e nas respostas para as perguntas que o longa levanta.
E para isso, é primordial a interação de Scobell com Reynolds nas primeiras horas do longa. As cenas que os dois se encontram pela primeira vez são muito bem agradáveis e gostosinhas de se ver. É ver como a porta de geladeira se fecha, é como fazer com que o cachorro da família se comporta, e principalmente, notar que outro também usa um relógio muito especial para eles. É como vimos um espelho onde lá na essência esses atores (um veterano em Hollywood e outro em início de carreira) se completam e criam essa versão de Adam. Saudades quando o longa tinha o nome Nosso Nome é Adam (Our Name is Adam no original).
Assim, na medida que o Adam Mais Velho de Reynolds precisa tentar usar todos os seus truques para desviar as inúmeras perguntas que o Adam Mais Novo tem, mesmo que no fundo eles são a mesma pessoa e pensem praticamente igual, o longa acaba por desenvolver sua trama e apresentar a tal missão que a versão do futuro que tem cumprir e o grande motivo para todo esse auê. Explicações sobre linhas do tempo, sobre a esposa desaparecida (Zoe Saldana em uma participação super rápida) um possível multiverso (com piadas sobre os filmes atuais em Hollywood), e sobre as regras de viagem no tempo são incluídas na trama na medida que vemos os Adams precisarem lidar com isso somado com seus problemas paternais.
Assim, os dois precisam voltar ainda mais no tempo em busca de seu pai (Ruffalo), um estudioso que foi o precursor da viagem no tempo, onde a tecnologia e o modelo matemático criado por ele foi usado por uma grande corporação liderada pela implacável Maya Sorian (Catherine Keener).
A entrada de Ruffalo na equação dá um gás para o longa na medida que vemos o personagem interagir com seus filhos em diferentes momentos da vida dele. Afinal, estamos em 2018 e Adam, e a esposa Ellie (Garner, adotando o papel de mãe mais uma vez), são outras pessoas em outro momento da vida deles. Ruffalo também realmente se mostra extremamente confortável no papel do estudioso Lois Reed, uma versão menos nervosa de Hulk, e realmente consegue somar para a boa dinâmica que Scobell e Reynolds já tinham estabelecido na história nos minutos anteriores a sua entrada na trama.
Particularmente, a cena que os personagens dos atores estão em um elevador do trabalho de Lois e Adam (o mais velho) diz para o pai: Levou apenas 44 anos para você me trazer aqui! é realmente muito boa. Simples mas eficaz. E acho que é isso que define O Projeto Adam, o longa não se enrola para ir direto no que importa, não tem desvios, e reviravoltas complexas e segue a trajetória que é esperado para esse filme. Agradar com efeitos visuais (ok que alguns não muito bons, com um que rejuvenesce um personagem que fica horrível de se ver), lutas contra robôs usando um “sabre de luz” super bacana, piadas e sacadinhas divertidas, e atores conhecidos que fazem aqui o feijão com arroz que os trailers e o material promocional prometem.
Ao vermos o personagem de Ryan Reynolds precisar lidar com seus problemas familiares ao mesmo tempo que precisa salvar o mundo com a ajuda de si mesmo, é isso que dá uma certa encorpada para O Projeto Adam que faz sim uma grata surpresa e que totalmente vale dar seu play lá na Netflix. Melhor que isso só se tivemos um novo filme do Deadpool.
O Projeto Adam chega em 11 de março na Netflix.