Desde que Norma Desmond falou que “sem ela não teria os estúdios Paramount” em Crepúsculo dos Deuses, lá em 1950, a ideia que Hollywood é mais do que apenas um lugar onde as pessoas trabalham desde de artistas, diretores, roteiristas e tudo mais e sim “uma entidade” própria. E com O Estúdio, os bastidores da Tinseltown nunca foram tão auto referenciados e tratados com tanto humor e fidelidade.

Afinal, se o que a icônica Gloria Swanson diz em Crepúsculo dos Deuses, talvez, seja mais conhecida por a citação “Então tá certo, Sr. DeMille, eu estou pronta para meu close-up!” ambas não deixam de representar o que era, e o que é, Hollywood atualmente. E o time de roteiristas formado por Seth Rogen, Evan Goldberg, Alex Gregory e Peter Heck parecem que entendem muito bem como a banda toca na cidade e conseguem colocar diversas situações, questões, frases, momentos e diálogos extremamente inspirados e que devem fazer a festa de quem está minimamente conectado com que, e como, as coisas acontecem em Hollywood.
Das festas, dos acordos milionários, das dinâmicas nos sets, das disputas de egos, das premiações. O Estúdio vai lá e faz tudo como é, e como quem está de fora imagina que é como as coisas andam. Sinto que Rogen e companhia realmente quiserem contar diversos casos, acasos e história que passaram pela cidade e usam esse estúdio de cinema fictício, o Continental, para contar essa história.
E acertam muito. É como se estivéssemos vendo as doideiras políticas da vice-presidente Selina Meyer em VEEP só no que no mundinho de Hollywood. Afinal Rogen e seus parceiros colocam um humor e uma dose extremamente non-sense nessas cenas na medida que entramos de cabeça nesse mundo quando o executivo Matt Remick (Rogen, no ápice da sua carreira) assume como chefe da divisão de estúdios no Continental e que ele considera ser agora “o mais amigável chefe de estúdio quando se trata da relação talento-estúdio.”
É o cargo que ele sempre quis, como um amante de filmes, assumir depois de anos respondendo para sua antiga chefe Patty (Catherine O’Hara numa vibe meio Amy Pascal que trabalhou com Rogen na Sony Pictures anos atrás) que é demitida do cargo pelo dono do Continental (Bryan Cranston), um executivo raiz e que ao trabalhar com filmes só quer aumentar seus lucros e suas receitas. Ela ganhou a oportunidade de se tornar produtora, e não saiu de mãos abanando, mas também não vai ser uma figura totalmente aliada para o executivo recém empossado.
E O Estúdio não poupa nada e nem ninguém. “SuperMario não ganhou o Oscar, mas fez o que? US$ 1,3 bilhão.” é dito em uma das reuniões, onde a série se aproxima tanto da realidade que chega a assustar o quanto eles conseguiram fazer isso e aprovar esses textos. Assim, Matt vai precisar navegar nesse mundo com muito mais cuidado agora que ele é o big boss e que aprova todo tipo de filme, dos filmes de arte, dos de médio orçamento, dos blockbusters e dos que dependem de outras propriedades intelectuais, as chamadas IPs.
Assim, juntamente com o colega Sal (Ike Barinholtz), o outro vice-presidente de Produção, que meio que disputava o cargo com ele, a sua ex-assistente Quinn (Chase Sui Wonders) que foi promovida para diretora criativa depois que ele assumiu, e a chefe de Marketing, e acelerada e estilosa Maya (Kathryn Hahn, ótima em pequenas doses) eles vão precisar para por esse período de transição e claro num momento crucial da indústria.

Assim, O Estúdio a cada episódio vai colocar Matt em rota de colisão com diretores, roteiristas e outros profissionais. E muitos deles são pessoas reais que estão no seriado interpretando eles mesmos.
Dos diretores que dão as caras no começo da atração como Martin Scorsese (que vai dirigir um filme até que descobre que não vai mais) para Ron Howard que comanda um longa que Matt e o time acham que precisam de uma redução na duração e que ninguém tem a coragem para falar com ele, para Sarah Polley que comanda um filme com grandes chances de Oscar estrelado por Greta Lee (que precisa andar de jatinho já que a divulgação de Vidas Passadas ela voou de comercial).
E diversos outros que vão dar as caras na atração (veja o vídeo abaixo).
No final, O Estúdio acaba por ser um olhar divertido, às vezes absurdo, mas perspicaz sobre Hollywood, feito por quem está no olho do furação em Hollywood, estrelado por quem está em Hollywood. Ao mesmo tempo que a atração acerta em cheio em auto-homenagear e se referencia o tempo todo, consegue também contar a história de um personagem no ambiente de trabalho extremamente dinâmico e maluco e que acaba por gerar as situações mais engraçadas e surreais possíveis. Talvez, não seja um humor para o público geral, mas para quem gosta de saber os comos e porquês dessa indústria multi-bilionária, acaba por já ser uma das melhores produções do ano até agora.
A série chega com dois episódios inicias no dia 26 de março e depois exibe episódios semanais todas as quartas no AppleTV+. Serão 10 no total.