Entre os Chris de Hollywood, Chris Pine talvez seja o que seja mais versátil quando comparamos os diferentes projetos ao longo dos anos que o ator participou em relação aos outros. Ele já fez comédia romântica, já fez suspense, já deu voz para vilão em animação, filme ao lado de heroína dos quadrinhos, e herói de jogos de tabuleiro, mas agora com O Cara da Piscina (Poolman, 2024) esse Chris estreia na direção com um filme que, infelizmente, demora para engrenar.
Acho que a história que Pine apresenta aqui, junto com o roteirista de primeira viagem Ian Gotler, é até interessante quando vemos o trailer ou lemos a sinopse, mas realmente é uma que demora para fazer sentido e conseguir conectar todos os pontos dessa trama de mistério, com tons de comédia, que se passa meio de Los Angeles e é cheia de personagens excêntricos e caricatos. E nem mesmo mesmo o elenco cheio de nomes conhecidos em Hollywood, que talvez toparam participar do filme na camaradagem com o ator, ajudam a fazer esse filme, e sua história, mostrarem para que vieram e valer a pena passarmos o tempo com esses personagens.
Enquanto acompanhamos um limpador de piscinas e sua vidinha pacata, O Cara da Piscina e Pine abusam de cenas do cotidiano para mostrarem que o protagonista Darren (Pine) é apenas um cara comum e que vive uma vida comum enquanto limpa piscinas, bola planos de melhoria para a cidade enquanto frequenta reuniões na prefeitura para o terror dos funcionários públicos que trabalham por lá, vive um relacionamento conturbado com Susan (Jennifer Jason Leigh), uma mulher que quer ter seu estúdio de Yoga, e ainda grava um projeto com os dois melhores amigos, Diane (Annette Bening) que também é a sua psicóloga, e Jack (Danny DeVito), um ator e diretor que não bate muito bem.
Mesmo que Pine objetifique ele mesmo e seu próprio corpo em diversas cenas, O Cara da Piscina constrói sua narrativa para mostrar como esse cara aparentemente sem nenhuma grande habilidade e fã de Erin Brockovich vai cair numa trama de mistério e numa grande conspiração. As coisas mudam para a Darren quando a misteriosa June (DeWanda Wise) aparece com informações que deixam Darren com a pulga atrás da orelha sobre tudo que tem acontecido na cidade de Los Angeles e principalmente sobre a falta de água na cidade que tem preocupado os moradores, ok, preocupado mais Darren do que qualquer outro.
Numa mistura de filmes de detetive antigos, daqueles noir (e uma forte inspiração em Chinatown lá de 1974, e certa forma Uma Cilada para Roger Rabbit dos anos 80, e também Los Angeles – Cidade Proibida de 1997) com um texto que abusa de piadas que não são efetivamente engraçadas, mas que combinam com o tom amalucado desses personagens, O Cara da Piscina nunca parece acertar o tom que quer contar essa história. Assim, o longa decepciona, quando vemos o lado mais jocoso variar entre ser engraçado e ser uma sátira, onde isso afeta também o trabalho dos atores, que oscilam muito com suas atuações para contarem essa história.
Na medida que o roteiro brinca com a questão de “Será que realmente está acontecendo alguma coisa de errado mesmo?”, ou é a apenas a imaginação fértil de Darren e sua gana de querer salvar a cidade pois o personagem não tem nada melhor para fazer, O Cara da Piscina apenas se afunda para contar essa história. E nem mesmo quando a história se define de forma cristalina e vemos como isso vai afetar a vida desses personagens, o longa engrena. Afinal, quando a trama avança, já estamos lá na metade do filme e nada realmente empolgou e chamou a atenção para chegarmos na resolução desse mistério com esses personagens.
É como se O Cara da Piscina fosse um grande, e ruim, mistério da gangue do Scooby-Doo, onde temos Fine, DeVito, Leigh, Bening surtando por pontos turísticos da cidade de LA enquanto esses personagens investigam essa teoria da conspiração que eles (acham) que se meterem. Enquanto o grupo procura por pistas, eles tem a ajuda de um vereador (Stephen Tobolowsky), que faz um show de drag, e realmente a única parte que o filme realmente consegue ir para algum caminho interessante, Darren cai no mundo da alta sociedade de Los Angeles e O Cara da Piscina leva o espectador para as cenas mais malucas, os diálogos mais esquisitos enquanto, ele, e nós, os espectadores recolhemos todas as pistas do que a trama nos oferece.
E mesmo quando tudo se conclui, O Cara da Piscina deixa aquela sensação estranha de: o que eu acabei de ver? É tipo quando você se afoga, engole um pouco de água, engasga e fica com nojinho, sabe? No final, acho que o grande problema nem fica com a atuação de Pine, dos colegas, ou esse projeto ser o filme que marcou sua estreia na direção, e sim pelo ator ter escolhido essa história doida para contar e não saber contar ela de uma forma interessante. Era melhor ter ficado onde dá pé, na grande piscina de filmes blockbusters, ganhando seu dinheiro honestamente, e por participar das competições online nas revistas de fofoca de quem é o melhor Chris em Hollywood.
O Cara da Piscina está em cartaz nos cinemas nacionais.