sexta-feira, 22 novembro, 2024
InícioFilmesCríticasNomadland | Crítica : Ao cair na estrada para mostrar uma vida...

Nomadland | Crítica : Ao cair na estrada para mostrar uma vida mais simples, Cholé Zhao entrega um filme gigantesco

O aclamado Nomadland (2020) finalmente desembarca, e vai estacionar sua van, no Brasil nos próximos dias, depois de uma longa viagem. Tudo começou lá em Veneza no longínquo ano passado, onde depois o longa da Searchlight Pictures (um dos estúdios americanos mais focados em produções de arte) passou por boa parte dos festivais de cinema ao redor do mundo, como Telluride, Nova York e Londres e que serviram como se fossem pedágios no caminho rumo à temporada de premiações, que em 2021 foi mais tardia por conta da pandemia do coronavírus, e termina agora no final do mês.

E por onde parou sua van, Nomadland acenou para o sucesso, e com as janelas abertas, deixou o vento entrar onde o sol banhava todos aqueles que eram impactados pela história de vida de Fren, a atuação de Frances McDormand, e a sutileza e delicadeza mostrada por Cholé Zhao (em seu terceiro filme com diretora) para contar essa história. Ao cair na estrada para mostrar uma vida mais simples, e na busca por retratar uma simplicidade ao contar a história da nossa protagonista, Zhao entrega um grandioso filme. 

Nomadland | Crítica
Foto: Searchlight Pictures/20th Century Studios

Nomadland faz uma das produções mais bonitas da temporada, num trabalho de preocupação com a história que é contada, e a forma como ela é contada, muito interessante de se assistir. Aqui, Zhao faz o espectador conhecer a vida de Fren e os motivos que a levaram a participar do movimento dos nômades dos EUA de uma forma completamente imersiva e que nos joga para dentro do filme como se fossemos uma mosquinha no para-brisa de sua van que serve de moradia, além de ser seu único modo de locomoção.

Como a personagem diz em um determinado momento do filme: Eu não sou uma pessoa sem um lar, eu só não tenho uma casa. E ao mostrar esse estilo de vida mais simples e desprendido, Nomadland faz uma mistura de ficção e com documentário que acompanha momentos da vida de Fren (Francis McDormand novamente numa atuação sem tamanho e que entrega aquilo que é esperado após o arrebatador Três Anúncios Para Um Crime (2017) que deu o Oscar para a atriz e que também era um lançamento da Searchlight Pictures) e sua entrada nesse mundo cheio de dificuldades e mas.. e como….

Sinto que Nomadland não vem para julgar, ser didático ou incentivar, ou ainda condenar esse estilo de vida, e sim nos apresentar um retrato íntimo e completamente imersivo sobre a situação que muitos americanos vivem. É uma história de americanos aparentemente esquecidos e que desaparecem das grandes cidades ao caírem na estrada ao se locomovem pelo país em suas vans, de uma forma silenciosamente e quase invisível, e que só querem viver suas vidas da forma mais simples possível.

Nomadland mostra então a viagem de Fren que encontra pessoas ao longo do caminho que são nômades da vida real onde Zhao consegue mesclar tudo isso, o real e o ficcional, muito bem, e Frances McDormad fica no personagem o tempo todo e serve como um guia para nós os espectadores adentrarmos na vida de Fren e nessa sua história. Os detalhes, as escolhas estéticas e narrativas fazem do filme ser apenas incrível em sua proposta. Ao mesclar a história de Fren com as passagens de diversos Estados americanos, e em diversas estações do ano, Zhao e seu time de profissionais que trabalharam na produção do filme conseguem brincar com os mais diversos cenários, todos sempre, marcados com um sentimento de escala muito grande, e que ajuda a nos mostrar o quão grande é o mundo, e o quanto Fren tem de curiosidade para conhecer todos os cantos dele.

Com uma trama que aposta basicamente em mostrar Fren apenas por viver seus momentos, com altos e baixos, seja desfrutar um “dia do spa” com as amigas que fez num acampamento na participação de Linda May e Charlene Swankie (nômades de verdade), ou quando seu pneu fura e ela precisa desembolsar uma grana para consertar e pedir a quantidade para os familiares, e visitar sua irmã (Melissa Smith) que não aprova seu estilo de vida, Nomadland vai por construir este quebra-cabeça que é vida, e as escolhas, que Fren toma ao longo do filme.

Não espere grandes reviravoltas, ou grandes acontecimentos, Nomadland aposta no contemplativo, e num forte visual para contar essa história. Ao colocar a personagem nessa viagem sozinha, às vezes, com a companhia de Dave (David Strathairn), que eu nunca vou perdoar por ter derrubado aquela caixa, Nomadland mostra o poder de uma comunidade e de pessoas que acabaram sendo esquecidas pelo sistema de alguma forma. Baseado no livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century (lançado em 2017 pela autora Jessica Bruder), Zhao adapta o roteiro para mostrar e apresentar diversas situações que nos entrega esse mapa sobre como Fren escolheu (onde talvez essa fosse sua única opção no final das contas) viver como nômade após a morte do marido.

Nomadland | Crítica
Foto: Searchlight Pictures/20th Century Studios

E Nomadland também nos entrega um filme com uma jornada além da física sobre as estradas dos EUA, também um filme sobre luto, contemplar um futuro incerto, e o que fazer depois de anos vivendo a mesma vida e no mesmo local. Ao usar o branco do inverno, e o alaranjado/arroxeado de um pôr do sol, vemos Fren basicamente passar todas as fases desse luto para enfim conseguir superar essa imensa e devastadora perda que para ela não foi só o marido, mas sim, de toda sua vida. Assim, Nomadland faz um filme sobre fechar um círculo, onde diferente de um dos longa da Marvel Studios (que faz parte do mesmo grupo que a Searchlight, a Disney) que diz que parte da jornada é o fim, em Nomadland fica claro que parte da jornada é a jornada. 

Zhao conta essa história de uma forma que aos poucos, a cada km rodado no relógio do filme, sabemos mais sobre nossa protagonista e sobre como vivem essas pessoas. É como um dos personagens diz no filme: o que é lembrado, vive. E no final, e é isso que para mim, pessoalmente, que é o maior mérito de Nomadland: entregar, e ser, um filme que consegue nos cativar com um trabalho técnico excepcional para contar sua história sobre um grupo de pessoas que estão ali vivendo suas vidas da forma mais simples e sem firulas, e que com certeza, deixará um marco no começo dessa década como uma das produções mais bonitas desse período na indústria cinematográfica e em Hollywood.

E para Cholé Zhao e Frances McDormand esse é apenas o começo, o futuro as espera para os frutos que serão colhidos por conta do trabalho inigualável que elas entregam em Nomadland. E para as duas apenas digo: Te vejo na estrada… com certeza que as verei em breve e outros incríveis novos projetos. Mal posso por esperar.

Avaliação: 4.5 de 5.

Nomadland chega em 29 de abril nos cinemas que estiverem abertos.

A 20th Century Studios nos enviou o filme de forma antecipada para assistirmos em casa e fazermos nossa crítica.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

Artigos Relacionados

Newsletter

Assine nossa Newsletter e receba todas as principais notícias e informações em seu email.

Mais Lidas

Sutura | Primeiras Impressões: Série nacional costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas

Nova série médica nacional do Prime Video costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas. Nossa crítica de Sutura.

Últimas

“Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (…) melhor.” afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a...

"Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (...) melhor" afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a série médica Sutura