Vamos começar aqui a falar que Napoleão (Napoleon, 2023) é muito bom. Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby estão muito bons, Ridley Scott realmente impressiona ao entregar algumas cenas de uma forma realmente épica e que chamam a atenção pela forma como essas cenas são feitas (e feitas para se verem na telona). Mas, ao mesmo tempo, por conta desse elenco, desse diretor, e tudo mais, dá para dizer também que o longa poderia ser bem mais do que acaba por ser.
Quando anunciado, particularmente, eu esperava, e senti que durante muito tempo foi vendida essa ideia, que Napoleão ia ser uma versão francesa de The Crown que contaria a história de um dos maiores generais, e estrategistas do mundo, ao lado de sua esposa Josephine na corte francesa. Mas, o que Scott nos entrega com Napoleão é que tudo parece ser uma grande novela de uma emissora b.
O ar opulente, as locações grandiosas, os figurinos com jeito de coisa cara, e as atuações do elenco muito bem escalado, enganam num certo momento, afinal, tudo está bem, todo mundo tá bem, mas não sai disso. Isoladamente, as partes se destacam, mas acho que vendo no conjunto da obra, e tudo pronto, em movimento, faz com que eu chegue na conclusão de o que temos aqui acaba por um filme menor (longe de ser ruim!), igual a altura que Napoleão tinha, do que ele deveria ser.
Claro, isso na vida real não impediu o general em conquistar diversos países, vencer diversas batalhas, e transformar a frágil República no Império Francês, e eu sinto que Napoleão além de contar a história do personagem também se espelha em sua trajetória. Entendem o que eu quero dizer?
Scott usa 2 horas e 40 minutos para contar essa história e parece que precisava de mais para deixar as coisas fluindo de acordo com a grandiosidade, de quem Napoleão era, mesmo controverso e polêmico, para contar sua história, e de sua importância.
Principalmente ao ver como a figura de Napelão foi fundamental para o desenrolar da História e como suas ações geraram desdobramentos e tiveram impacto na geopolítica, na sociedade Europeia anos depois. As decisões que Napoleão tomou, moldaram por anos a História, mesmo depois que o General Napoleão que virou Imperador Napoleão foi obrigado a abdicar do seu posto, mandado para a Ilha de Elba, planejou sua volta, e depois mandado para o exílio novamente, agora em outra ilha, St. Helena.
E por mais que Napoleão seja cinematograficamente deslumbrante de se acompanhar fica a dúvida, já que o diretor mesmo falou ter um corte maior do que a versão que estará em cartaz nos cinemas, de por que não ter lançado essa história em outro formato? Uma série, por exemplo? Claro, iria ser possivelmente a série mais cara da história, mas pelo menos faria justiça para os envolvidos, e não ficaríamos boa parte do tempo, por ver letreiros na tela, caçando por onde o personagem está, em que parte do mundo, em que ano, como se fosse uma grande lista de nomes, lugares, e datas que rolam pela página de Wikipedia de Napoleão.
Phoenix depois de levar o Oscar por Coringa realmente gastou boa parte do capital social que ganhou com projetos meio “ame ou odeie”. Foi assim no começo do ano com Beau Tem Medo e agora com Napoleão. O ator, claro, sempre se entrega fisicamente nos papéis e aqui realmente acaba por entregar mais uma vez uma presença magnética em tela, na medida que constrói e apresenta essa figura super interessante, onde de um lado era implacável no campo de batalha, mas também tinha diversos complexos, e era extremamente inseguro.
Phoenix entrega esse trabalho de forma bastante primorosa de assistir, principalmente quando vemos Napoleão como um mero oficial do exército francês e que começa a ganhar rankings, a ocupar postos maiores e reunir influência e poder. E as coisas começam a mudar cada vez mais, principalmente, quando ele conhece Josephine (Kirby, espetacularmente boa e numa carreira crescente em Hollywood) e vê que com a viúva do seu lado, ele conseguirá atingir seus objetivos.
O roteiro de David Scarpa (colaborador habitual de Scott), até esse momento, abusa das cenas de Phoenix e Kirby que realmente estão muito bem, onde vemos, os dois quase num jogo de gato e rato em que temos Napoleão, e Josephine, na busca, cada um de sua certa forma, e com suas próprias armas, de subir na escada social na sociedade francesa. Assim, o longa empolga quando eles precisam lidar com as tramoias, com as intrigas, e os planos. Mas não é sempre assim.
Particularmente, até quando a trama chega na coroação dos dois, em 1804, o momento tão marcante e retratado no quadro de Jacques-Louis David em exposição no Museu do Louvre, Napoleão é ótimo. Mas depois, meio que o bolão deixa a bola cair em diversas outras passagens. Sinto que são muitos acontecimentos, muita coisa para ser contada e que precisou muito de tempo para introduzir muitos novos personagens, Reis das cortes européias, Generais rivais, e tudo mais, e mostrar quem era aliado de quem, quem era inimigo de quem.
Basicamente nos deixa apenas na espera de outros momentos chaves surgirem em tela, do Ataque à Rússia em pleno inverno lá em 1812 e depois na famosa Batalha de Waterloo anos depois em 1815 que foi a grande derrocada do general pelas mãos das tropas inglesas do Duque de Wellington (Rupert Everett).
Mas também, por outro lado, Scott entrega senhoras batalhas aqui em um dos outros pontos altos de Napoleão e de colocar Game Of Thrones no chinelo. Os efeitos visuais são impecáveis e que você nota o trabalho cuidadoso e criterioso que foi utilizado e gasto no longa. E não são poucas cenas não, tem pelo menos umas 3 ali que são impressionantes.
No final, é isso, Napoleão empolga por isso, pelos efeitos visuais, pela brutalidade sem tamanha, e claro por Phoenix que desaparece mais uma vez num papel e Kirby que está diabolicamente sedutora. Mas é como ir ver um Velozes & Furiosos, se divertir com as peripécias, mas sair querendo alguma coisa mais. Não se espera nada de um filme de carros como Velozes, mas a combinação Phoenix + Scott + história de época empolgante é um combo que você espera o máximo dele, e aqui, recebe alguma coisa apenas boa. Em outras ocasiões, o bom já basta, mas aqui temos que mirar para o alto. Igual Napoleão mirou quando chegou no Egito e acertou bolas de canhão nas pirâmides.
Onde assistir Napoleão?
Napoleão chega nos cinemas em 23 de novembro.