Tá vamos combinar logo de cara e fechar aqui que o live-action de Mulan (2020) não é bom? E nem é pelo fato que A) Não teve as músicas da animação de 1998, e B) não teve o dragão desbocado Mushi e o grilo da sorte Gri-Li, mas sim, pelo fato que como uma produção cinematográfica desse porte, de um estúdio como a Disney, e para o gênero, essa nova versão da história entrega um filme que deixa a desejar.
Claro, Mulan entrega uma aventura épica, com cenas de ação incríveis, e um trabalho visualmente bonito, tanto de cores, quanto de figurinos, mas faltou um pouco mais em termos de roteiro (mesmo tendo sido escrito por 4 pessoas: Rick Jaffa, Amanda Silver, Lauren Hynek e Elizabeth Martin) e construção de personagens e história. Afinal, se não íamos ter os personagens cômicos de apoio, não temos as músicas clássicas que marcaram o desenho, e a história da guerreira chinesa Fah Mulan (Liu Yifei) ia ser mudada do que vimos anteriormente, o que sobraria de Mulan para ser contada?
E a grande questão do longa é essa, o filme falha em colocar substitutos para o que faltava, e peca, principalmente, por incluir a presença na história da tal da Bruxa (Gong Li) e aquela trama sem pé nem cabeça sobre essa personagem que foi enfiada na história e que se não tivesse também não faria problema. Então se esse é o caso, qual o motivo que ela está ali? Para forçar uma falsa rivalidade feminina ? Não reclamo que o filme não seja 100% igual a animação, eu sei que as versões em live-action dos filmes da Disney não foram feitas parar recriar cena a cena, frame a frame, – mesmo que alguns até fazem isso com A Bela e a Fera (2017) e Rei Leão (2019) – e sim para que o estúdio consiga contar a história de uma nova forma, onde desde de 2016, adaptada essas animações com atores e locações de verdade. Mas aqui, com Mulan acho que foram várias sequências de erros.
A diretora Niki Caro até entrega passagens muito bonitas em termos de escolhas e ângulos e que dão um charme bem bacana para o longa, onde Mulan entrega sim, um filme grandioso, mas todos os “mas..” que vem com ele são maiores que o filme em si e me incomodaram bastante. E nem estamos falando das polêmicas de bastidores, principalmente das políticas, que aconteceram fora da narrativa do longa, e sim de coisas que fazem do filme deixar a desejar.
O longa tem um forte problema de ritmo, e de edição, muita das cenas não se conectam entre si e meio que o longa sofre para contar uma história fluida e que entregue emoção para acompanharmos a história da personagem, mesmo que Yifei consiga entregar bons momentos, principalmente aqueles mais dramáticos.
A construção da jornada de Mulan não foi muito adaptada para esse novo formato, mesmo que consiga contar o que é essencialmente o conto chinês queria passar: a história de uma jovem comum que vai para o exército do país lutar na guerra no lugar do seu pai e disfarçada como um garoto. O live-action consegue trabalhar tudo isso, mas também trabalha com a questão que a personagem, mesmo que inteligente e habilidosa, também é uma pessoa especial, mas que via “suas asas” serem podadas pela sociedade que vivia. E ao dar esse tipo de justificativa, de que Mulan só conseguiu fazer tudo aquilo por causa do tal do chi, faz com que o live-action perca todo o espírito que a animação passava.
No filme, fica claro que ela só conseguiu fazer tudo aquilo isso, pelo fato que ela se conectou com seu chi, e não pelo fato dela que ela treinou, se superou, e se equiparou fisicamente com seus colegas do exército, mesmo sendo uma mulher. Passa uma mensagem que mulheres só podem conseguir se sobressair num mundo de homens, se elas forem especiais, a mesma coisa que aconteceu com a personagem da Rey na nova trilogia de Star Wars.
Como falamos, Yifei tem boas cenas dramáticas, principalmente aquelas que envolvem a personagem com o pai, o ator Tzi Ma. Os atores entregam as passagens mais emocionantes do longa, tanto em cenas do começo, quanto as cenas no final, ao mostrarem essa relação entre pai e filha, mas ao mesmo tempo todo o resto me deixou com a cara de “Tá mas e agora?”.
Senti que o live-action meio preguiçoso de certa forma, mesmo que tente abraçar a animação clássica na maior quantidade de cenas possíveis. O live-action de Mulan, consegue prestar uma homenagem para diversas passagens que deram muito certo no desenho como a cena na casamenteira no começo, e o treinamento no exército já como homem. Mas quando colocamos tudo isso, com o arco narrativo da Bruxa, mais a busca do chi próprio, parece que tudo desmorona igual a avalanche de neve que derruba o exército dos hunos, liderados pelo ameaçador Böri Khan (Jason Scott Lee), lá para o meio do filme.
Por outro lado, também achei que Mulan até que traz um respeito para a cultura asiática, e eu mesmo não sendo uma pessoa com esse local de fala, achei bonito toda a representação que o longa trouxe e o que ele deve representar para muitas pessoas em relação a importância da família, onde o filme tem uma preocupação com os detalhes e o os costumes locais, desde da vila onde Mulan vive até mesmo o luxuoso e imponente palácio do Imperador (Jet Li).
Mas como filme, e um filme Disney, para mim, Mulan definitivamente não traz honra para o estúdio mesmo sendo uma produção super bonita de se ver em termos de estética visual e trabalho de produção. O live-action de 2020 infelizmente não “reflete” o poder que a animação de 98 teve em mim.
Mulan está disponível no Disney+ sem nenhum taxa extra.