Precisávamos de Megatubarão 2 (Meg 2: The Trench, 2023)? Não. Isso quer dizer que Megatubarão 2 é ruim? Também não. Mas no mar de propriedades intelectuais, e a busca por franquias que assombrou Hollywood, um novo filme, sequência de um filme que fez um sucesso moderado, é a garantia de uns trocados aí né?
São essas as regras do jogo atualmente. Assim, a nova aventura do explorador Jonas Taylor (Jason Statham no seu habitual e no segundo, de três filmes de ação no ano) faz o que é esperado para uma sequência de um filme como Megatubarão: ação desenfreada, novos megatubarões, e claro, uma pitada de non-sense no meio do oceano.
Velozes E Furiosos fez isso com carros em 10 filmes, Tom Cruise faz isso com espionagem em 7 filmes de Missão: Impossível, até Harrison Ford no auge dos seus 80 anos voltou para mais um Indiana Jones, porque Statham não pode fazer com mais um filme com tubarões gigantes em Megatubarão 2?
Afinal, Megatubarão 2 não ofende, não entrega um filme fraco, apenas é para um público extremamente específico e que por ventura está ali, boiando, dando sopa para assistir alguma coisa nos cinemas diferente do que está em cartaz atualmente. É a saidinha do mês das férias. É verão nos EUA. O filme certo, numa data de estreia certa, e sem nenhuma concorrência.
Megatubarão 2 aposta em dobrar, duplicar, o que deu certo do primeiro filme, e faz tudo dar certo. E se lá em 2018, tínhamos um único tubarão gigante, aqui a sequência, coloca o grupo de exploradores liderados por Taylor mergulhando dentro do bolsão que está milhares de metros abaixo da superfície, e habita diversas espécies dos megalodontes que foram apresentados anteriormente.
E parece que tudo é dobrado em Megatubarão 2. Estruturalmente, e narrativamente, temos basicamente dois filmes dentro de um só, o dobro de vilões, o dobro de personagens que tínhamos no primeiro filme, e aqui Statham e Taylor dividem o protagonismo com a jovem Meiying (Shuya Sophia Cai) e o com o tio dela, o despirocado personagem do ator Jing Wu (um dos maiores astros do cinema chinês).
Megatubarão 2 então surfa na onda de ter aquela dinâmica entre um cara durão, com cara de mau, que salva todo mundo, é super habilidoso, e que tem um relacionamento paternal com uma jovem, super inteligente, e que está ávida para participar de aventuras com ele.
Vimos isso em The Mandalorian, em The Last of Us e Megatubarão 2 imprime em sua trama essa história e essa narrativa na medida que Taylor serve como uma figura paterna para a jovem depois que a mãe (interpretada por Li Bingbing no primeiro filme e que não retorna aqui) se foi.
E mesmo que seja um arco que tem bastante presença na história, e que dá certo, acaba por ser um dos elos mais fracos do filme, afinal, basicamente toda cena que Cai surge o que temos é uma personagem jovem bastante irritante de se acompanhar. O foco aqui é mesmo o time liderado pelo personagem de Staham e ponto final.
Afinal, o longa tem outras coisas que chamam atenção, como algumas reviravoltas que permeiam a trama, mesmo que meio que são resolvidas rapidamente pelo roteiro, da mesma forma quando vemos as pessoas começam a nadar para fora do mar depois que alguém grita “Olha o tubarão!” no meio do filme.
Mas nada que impacte o desenrolar do filme, onde o roteiro do trio Jon Hoeber, Erich Hoeber, Dean Georgaris que retornam aqui do primeiro filme, consegue deixar a trama girar com uma velocidade tão impressionante que as 2 horas nem parecem passar.
Afinal, quando a parte 1 se garante em tentar tirar a equipe do Mana One de baixo do mar, na medida que a operação que a grande empresa que Taylor trabalha dá errado, o filme cria momentos mais dramáticos e quase como se a sequência falasse: não, vamos fazer um filme mais sério, hiper realista e com uma mensagem social e ecológica por trás.
Para depois, lá na sua metade, quando quem sobrevive volta para a base no meio do oceano, descobrimos para quem o capanga interpretado por Sergio Peris-Mencheta, muito bem trabalha e quais são os planos dos vilões, Megatubarão 2 volta e abraça o seu non-sonse e galhofa enquanto o time precisa salvar os habitantes de uma ilha, chamada Ilha da Diversão, de ser atacada por um bando de seres marinhos gigantes que deixram os confins do oceano e partem rumo ao local.
Assim, Megatubarão 2 esquece toda aquela parte mais séria e entrega sequências divertidas, extremamente piradas e com um humor que marcou o primeiro filme. Afinal, tudo que basta é Jason Statham num jet ski, pegando um mega tubarão no braço e impedindo o bichão com as pernas de atacar. É o puro suco do entretenimento.
Não tem como não rir com as pataquadas, com as cenas de ação alucinantes, com os planos mirabolantes dos “mocinhos”, e com o timing cômico de Page Kennedy que retorna como DJ, aqui com aulas de natação tomada e uma bolsinha de emergência, onde todos esses personagens estão prontos para enfrentar essas ameaças que vem do mar, e algumas delas até fora, em Terra seca, vem.
O que temos então é o diretor Ben Wheatley (vindo de um longa completamente diferente, o Rebecca – A Mulher Inesquecível) abusar de explosões adoidadas, focar na cara dos personagens que dizem frases de efeito a cada 15 minutos, e um uso excessivo (mas bem feito) de efeitos visuais que marcam essa segunda parte e que deveria ter sido Megatubarão 2 como um todo.
Afinal, entre cachorros de madame perdidos na praia, os capangas dos vilões mais tapados que uma porta, e o time formado por Taylor que tenta se livrar não só dos megatubarões, mas também conseguir expor os planos do time mal, Megatubarão 2 se mostra um balé grandioso e pirado.
E dá aquilo que esperamos ver de um novo filme com a temática e que traz de volta esses personagens. E tudo bem, se você pisa na prancha, sabe que o tubarão pode te pegar.
No final, Megatubarão 2, sem pedir licença, ou desculpas, sabe, e abusa disso, e então consegue entregar um filme dentro do que é esperado aqui. Sem mais ou menos.
Onde assistir Megatubarão 2?
Megatubarão 2 chega nos cinemas nacionais em 3 de Agosto.