quinta-feira, 10 abril, 2025
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Maria e o Cangaço | Review: A mulher em foco

Em Maria e o Cangaço, a mulher está no foco. Confira nossa crítica da atração do Disney+ estrelada por Isis Valverde e Júlio Andrade


A aposta do Disney+ em contar a história do cangaço e de duas figuras históricas brasileiras super conhecidas é uma que encontra um bom resultado com Maria e o Cangaço.

E o que era a série nacional mais forte e promissora do line-up que foi apresentado lá em junho do ano passado, quando o Star+ foi anunciado que faria parte da plataforma, realmente se torna isso. Afinal, se era esse o sentimento que foi passado com a exibição do trailer com a estreia da atração isso ficou claro. Maria e o Cangaço se apresenta como uma série robusta que tem diversos fatores que ajudam a trazer essa trama agora para os anos 2025.

Foto: Walt Disney Company Brasil. Todos os diretos reservados.

O primeiro ponto é que Maria e o Cangaço nos fornece uma visão para o tema com uma abordagem um pouco diferente, mas extremamente fiel para a época onde a história é apresentada e coloca, como bem o nome da atração diz, o foco na mulher que vive no cangaço, principalmente em Maria, a Maria de Déa, também como ficou conhecida popurlamente como Maria Bonita.

Assim, Maria e o Cangaço tira os tradicionais chapéus, as vestes, os acessórios para guardar bala e mira em contar essa história do cangaço por uma outra perspectiva e faz isso com um olhar para esse grupo de mulheres que viviam nesse grupo no meio do sertão no nordeste do Brasil lá nos anos 1930. Livremente adaptado do livro “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço” da autora Adriana Negreiros, a atração não poupa esforços em contar a história da forma realistica em como foi o tratamento com as mulheres da época, e não só o dia-a-dia do grupo de cangaceiros, mas também mostrar os conflitos entre eles e claro com as autoridades da época. 

E se a abordagem é certeira e acertada, o elenco reunido aqui em Maria e o Cangaço também é um que chama atenção. O principal nome, o da atriz Isis Valverde aqui no papel de Maria é uma atuação que demanda atenção do espectador, onde ela te faz não querer tirar os olhos da tela com essa personagem enquanto as cenas e os episódios passam. Valverde se caracteriza e some na personagem, seja pelo olhar, pela fala que muda com a prótese dentária, com a postura corporal, aliado com a ajuda do figurino (impecável também) que a série tem – e não só de Maria, como para todos os outros personagens – fica claro que Maria e o Cangaço deve ser um divisor de águas na carreira da atriz.

Vendo a série fica claro que é um dos melhores trabalhos da atriz, sem dúvidas, já que é um bastante transformador. E o mesmo vale para o multifacetado e talentoso Julio Andrade que em mais um papel desafiador se mostra novamente um dos atores mais versáteis do momento e um realmente para continuar a prestar a atenção quando assume um novo projeto.

E aqui pode até Maria e o Cangaço, mas Andrade também é um dos pontos altos da atração.  O ator entrega um Virgulino, Lampião como era conhecido, cheio de camadas, afinal, vemos também a figura do líder do cangaço em cenas que fogem um pouco do tradicional. Andrade entrega  o homem por trás do mito, e muitas das cenas que tem acabam por ser com Maria, a Santinha, segundo Lampião, de Valverde. Assim, toda vez que os dois estão em cena junto é como se fosse uma aula de atuação. 

Foto: Walt Disney Company Brasil. Todos os diretos reservados

E igualmente com Valverde, Andrade tem todo um aparato estético para ajudar com a contar essa história, do olho, das próteses, da maquiagem, dos figurinos. Os dois atores estão muito bem e trazem a dramaticidade necessária para contarem essa história de uma forma que serve como uma visão nova e para um tempo moderno.

E se as figuras dos líderes do cangaço são bem representadas e contadas, claro, que a figura antagonista desse grupo também é preciso de um personagem a altura para contra-balancear essa história. E isso acontece aqui em Maria e o Cangaço por conta do trabalho de Rômulo Braga que interpreta uma espécie de Xerife de uma cidadezinha que tem a missão de caçar Maria, Lampião e todo o grupo dos cangaceiros. Braga cria um personagem que mistura sentimentos, você não gosta dele, mas meio que torce por ele. É também um trabalho impecável, sem dúvidas.

E  falando de maneira geral, todo o elenco está bem. Maria e o Cangaço mostra que o audiovisual, depois de tempos incertos e meio sombrios, continua a florescer no meio da adversidade, assim como esses personagens sobreviveram no árido sertão. O elenco local ajuda a contar essa história, e até mesmo participações especiais de nomes mais conhecidos como Jorge Paz (de O Sequestro do Voo 375) que interpreta um dos cangaceiros, e de Chandelly Braz (mais conhecida por papéis em novelas e que aqui interpreta a irmã de Maria) também estão muito bem.

E se a temática é acertada e o elenco está incrível, outro ponto alto de Maria e o Cangaço acaba por ser o trabalho da produção. Os diretores Sérgio Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido realmente aproveitam para usar a paisagem do sertão, as dificuldades e a beleza isoladora e calma da região para contar essa história. Os ângulos no rosto dos atores em closes durante os diálogos passando para o uso da câmera mais aberta no formato wide para mostrar a vastidão do sertão é um trabalho visual primoroso que todo o time acerta em cheio, principalmente Teijido (como diretor de fotografia).

E narrativamente Maria e o Cangaço consegue sair daquele tipo de série que acaba por ser apenas de pessoas andando por aí e conversando. O tom mais serial que a série se apresenta é sustado por arcos narrativos que são apresentados ao longo dos episódios e costurados na história para prender a atenção do público em querer assistir o próximo e o próximo. A inserção de “cenas dos próximos capítulos” nos episódios, mesmo com o próximo já disponível de forma imediata contribui para esse sentimento.

Foto: Walt Disney Company Brasil. Todos os diretos reservados

Do ritmo meio frenético do primeiro capítulo, para os arcos que vão se apresentando pelos episódios 3 e 4 e finalizando nos capítulos 5 e 6, quando colocam o grupo dos cangaceiros sendo perseguidos pelas autoridades, para depois de todo o arco de Maria grávida e indo morar com a família e depois deixando a criança com a mãe e a irmã meio que só mostra os conflitos que esse grupo vivia e, como falamos, com um foco totalmente nas figuras femininas. 

Maria e o Cangaço consegue criar uma narrativa que foge de ser uma história wikipédica, onde temos personagens X fazendo coisas Y em momentos Z de suas vidas. Assim, no meio de diálogos caprichados, cenas gráficas, seja as de violência, de tiroteios, ou de cunho sexual, Maria e O Cangaço faz um retrato visual fantástico de um Brasil do passado, de costumes que ainda estão enraizados na cultura da região. 

No final, o que temos com Maria e o Cangaço é olhar ao mesmo pesado, triste, mas sem deixar de ser extremamente brasileiro e que vai além do habitual para contar essa história e que foca ali nessas mulheres que ao mesmo tempo estavam à margem da sociedade mas eram figuras importantíssimas para aquele micro sociedade que viviam e que lutavam para um lugar ao sol (escaldante) do sertão.

Os 6 episódios de Maria e o Cangaço chegam no Disney+ em 4 de abril.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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