Manhãs de Setembro não é só uma música de Vanusa, agora é uma série sobre uma mulher trans e as dificuldades da vida, mas não qualquer mulher, Cassandra, interpretada por Liniker nessa série do Prime Video. A série vai na contramão de uma vida cheias de distratos e tristezas, para mostrar um lado difícil do trabalho e das conquistas, e também da felicidade.
Fui eu que em noite fria se sentia bem
E na solidão sem ter ninguém, fui eu
Fui eu que na primavera só não viu as flores
E o sol
Nas manhãs de setembro
Cassandra conseguiu com muito suor realizar seus sonhos, como cantar e ter seu próprio cantinho para morar sozinha, amigos e um namorado que a compreende, e o mais legal é que nos 5 episódios a série vai mostrando que por trás dessa mulher forte, há sentimentos guardados que machucam e que martelam em sua cabeça na voz de Vanusa.
Roberta (Clodd Dias) é quem lhe salva quando precisa de um trabalho na boate Metamorphoses, ou quando precisa de um lugar para ficar, mas é em Ivaldo (Thomas Aquino, Boca a Boca) que ela encontra seu porto seguro, mesmo sabendo pouco de sua vida. Ivaldo é carinhoso e os dois não escondem o relacionamento deles quando estão juntos, mas ele é casado e passa por problemas com a esposa e a descoberta da sexualidade da filha.
O mais gostoso da série é que é a história de Cassandra, que sabemos ser difícil nos detalhes que conta e na força que estampa no rosto, em um trabalho intenso de Liniker, mas os preconceitos e essa dura realidade não é mostrado na série, que foca na descoberta de um filho e na forma que Leide (Karine Telles, Bacurau) invade sua vida.
Se ela procurava um espaço para ficar, a mãe e seu filho também, e é muito doloroso ver as condições deles morando na rua até a chegada na vida de Cassandra, que faz o possível para manter o seu passado bem longe, mesmo que para isso precise ignorar a existência de Gersinho (Gustavo Coelho).
Com uma variedade de coadjuvantes que engrandecem Manhãs de Setembro, o forte da história em seus 5 episódios é exatamente mostrar a força das pessoas baseadas nas famílias que as escolheram, sejam amigos ou amores, pois você precisa estar onde te amam, pois a vida já é dura o bastante.
Quando Ivaldo e Cassandra passam por problemas e ele precisa focar em sua família, nos braços de Roberta e Pedrita (Linn da Quebrada, Segunda Chamada) elas discutem a fetichização das trans, sobre como os homens brincam com isso e até se envolvem, mas quando precisam enfrentar o mundo e assumi-las, em sua grande maioria preferem voltar para a família de margarina.
Gersinho é quem acaba reunindo sua Leide e Cassandra, e mesmo com muitas brigas e discussões, e Leide não aceitando um “não” como resposta e sendo entrona, todos estão reunidos, e ele traz vida até para os amigos da nova mãe. Um ponto é ele chamando de Cassandra de pai, e como parece que é sempre uma ferida sendo aberta nela.
Gosto da forma como a série mostra São Paulo, mesmo com um tom tão sujo e degradado, a trilha sonora é envolvente, e com escolhas que remetem ao desejo de Cassandra e como sua mãe era ligada a Vanusa, mas em alguns momentos achei algumas atuações um pouco engessadas.
Manhãs de Setembro é sobre se reencontrar depois de tantas porradas na vida e fazer isso de forma tão sensível é um grande acerto.
Ainda estão no elenco da série Gero Camilo, Paulo Miklos, Isabela Ordoñez, Clebia Souza e Inara dos Santos.
Manhãs de Setembro tem seus 6 episódios disponíveis no Prime Video.
PS: Uma pena a cantora não poder ver essa homenagem, Vanusa faleceu em 8 de novembro de 2020.
PS 2: Tentei ao máximo colocar meus sentimentos sobre a série, como faço com todas as que eu posto aqui no Arroba Nerd, mas sei que este não é meu lugar de fala, por mais que seja gay, sou branco e cis.
[…] Manhãs de Setembro | Crítica 1ª Temporada: Trazendo esperança, série apresenta vida de mulher t… […]