Magnatas do Crime (The Gentleman, 2020) cumpre seu papel em ser um típico filme de máfia. E tá tudo bem, afinal, aqui o longa segue a cartilha vista em outras produções do gênero, onde temos esquemas, reviravoltas e assassinatos. Mas ao mesmo tempo, o novo filme do diretor Guy Ritchie se destaca por conta de um grande elenco, com nomes conhecidos de Hollywood, que ajudam a contar essa história envolvendo gângsters, uísques, filés, e claro, um pouquinho de sangue.
E Magnatas do Crime se mostra uma produção elegante em seu desenvolvimento, não apela para grandiosas cenas de ação e tenta convencer o espectador de sua história com uma trama intrincada, e até mesmo complexa, em alguns momentos. São muitos nomes, muitos capangas, e claro, muita gente que quer levar vantagem e ganhar dinheiro vendendo droga. E Ritchie, que cuidou também do roteiro, sabe contar bem essa história, apresentar seus personagens – que não são poucos – e claro entregar um bom filme de mafiosos onde um quer puxar o tapete do outro.
Ritchie apela para um roteiro um pouco mais diferente do que o habitual e que dá um certo charme para o filme. Em Magnatas Do Crime, numa meta-linguagem divertida, e que brinca com a criação de um filme sobre um grupo de mafiosos, vemos um investigador particular Fletcher (Hugh Grant, super canastrão) contar (e ameaçar!) Ray (Charlie Hunnam) tudo que ele sabe sobre os negócios de um grande chefão do crime que domina o mercado de maconha no Reino Unido, e que colocou tudo que sabe em um roteiro que ele vai tentar vender para alguns estúdios de cinema.
O tal rei do crime é nada mais que o próprio chefe de Ray, Michael (Matthew McConaughey, incrível), e assim, no começo vemos Flechet nos contar, e contar para Ray, tudo que ele sabe da operação, o local onde fica as estufas, e até mesmo do passado de Michael. É divertido acompanhar o roteiro de Magnatas do Crime, ir e vir na trama, dar voltas na sua própria história para contar o que realmente aconteceu, e claro dar uma piscadela para outros filmes do gênero como dos diretores Tarantino, Francis Ford Coppola (que é citada com A Conversação (1974), e até mesmo O Agente da U.N.C.L.E. (2015) do próprio Ritchie.
Aqui ficamos com a sensação de será que Fletcher tá falando a verdade mesmo? Será que ele não aumentou muito daquelas coisas? “Mas todo filme precisa de um pouco de ação” afirma o cara, e realmente é esse o sentimento que Magnatas do Crime passa. É nos apresentar uma grande cadeia de eventos que se desenrolam ao longo do filme, onde uma confusão, ou um problema, que o chefão Michael tem, o leva para outro na medida que ele tenta se aposentar e vender seu Império de drogas para o americano Matthew (Jeremy Strong) por mais de 400 milhões de dólares.
Assim, Magnatas do Crime além de mostrar essa sequência de dominós caindo, ainda precisa mostrar todos os outros concorrentes, e também as outras gangues rivais que estão de olho no negócio de Michael. E com isso, parece que às vezes o longa dá voltas em si mesmo, afinal, parece que não podemos confiar 100% no que dizem os personagens, não é mesmo? Parece que Ritchie sempre tirará uma reviravolta da manga, mudará tudo aquilo que imaginamos sobre os personagens, e o caminho que a trama irá logo em seguida.
Confesso que depois que entendi quem era quem na trama, Magnatas do Crime só melhorou para mim e me diverti com as mais diversas piruetas que o roteiro dava na história, por mais maluco que era. Henry Golding como o mafioso Olho Seco realmente roubou todas as cenas, e só comprova que Golding é um dos melhores achados de Hollywood nos últimos tempos. Colin Farrell como um gângster de Londres responsável por uma gangue de lutadores/dançarinos de YouTube também chama a atenção. Mas o filme é todo de McConaughey que realmente parece estar muito confortável no papel, realmente consegue mostrar toda a força de Michael e os motivos que o levaram a ser o grande chefão do tráfico.
McConaughey move as peças desse quebra-cabeça e sempre parece ser a pessoa mais inteligente da sala. Isso quando, sua esposa Rosalind (Michelle Dockery) não está presente em cena, brincando com um “porta-peso” na sua oficina de carros só para mulheres.
No final, Magnatas do Crime tem todas as coisas que fazem um filme de máfia ser bom e aqui une todas essas variáveis de uma forma elegante e bem interessante de se acompanhar que vão desde fazer piadas sobre o Brexit até mesmo sobre a alta sociedade inglesa. Depois do mega filmes Rei Arthur (2017) e Aladdin (2019), Ritchie parece querer se desvincular de sua assinatura tradicional de filmes mais pé no chão e muda um pouco o seu jeito de gravar. Mesmo que Magnatas do Crime não seja um ótimo filme, dá bastante para ser aproveitado e definitivamente eu gostaria de ter visto em uma grande tela. Mas não foi dessa vez né, coronavírus?
Magnatas do Crime está em cartaz nos cinemas.
O filme foi visto em casa, cortesia da Paris Filmes que nos enviou de forma antecipada para assistir e escrever essa crítica. Recomendamos o leitor, se for encarrar a visita ao cinema, se proteger e seguir todas as recomendações de segurança contra o COVID-19 impostas pelas organizações de saúde.
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