Sem dúvidas, dá para afirmar que M3GAN (2023) já é a primeira grande surpresa do ano. E surpresa por que no meio de tudo que envolve o projeto, faz um bom filme. Mas a grande questão com o novo longa da Blumhouse, e em parceria com a produtora de James Wan, é que esses produtores entenderam que, às vezes, tudo que precisamos é uma boneca robótica correndo por aí e matando as pessoas, num bom “slasher”.
M3GAN é a diversão sem compromisso que precisamos, de tempos em tempos, assistir para desligar um pouco das coisas? E tudo bem com isso. Afinal, essa é uma das grandes funções do cinema, entregar um escapismo para o espectador durante algumas horas.
E num mundo extremamente conectado, isso tem ficado cada vez mais difícil, com tantos breaking news no Twitter, é ver a última sensação viral no TikTok, ou estar por dentro do último post viral no Instagram, e etc e etc. Então, num mundo digital, é bom termos um filme como M3GAN que serve para termos um pouco de diversão numa sala de cinema.
M3GAN totalmente faz um filme que empolga por entregar exatamente aquilo que foi anunciado e promovido: uma história meio sem pé nem cabeça sobre uma boneca robô que ganha consciência e sai matando as pessoas por aí. M3GAN não está ali para elevar o terror, ou para fazer uma mega desconstrução do gênero, e sim, para voltar ao básico.
Já tivemos Annabelle, já tivemos Chucky… agora é a vez de M3GAN (do inglês Model 3 Generative Android, ou Modelo 3 Generativo Andoid) que dá muito certo em seu primeiro filme. A diferença, e talvez, o grande motivo que a boneca já tenha entrado na cultura pop e popular tenha sido pelo fato de saber se inserir dentro do cenário atual que vivemos.
M3GAN capitalizou e muito em cima de tudo aquilo que falamos e soube jogar a seu favor para capturar a atenção. E por tanto, toda a história, a narrativa, construída é mil vezes melhor que o filme em si. Não estou falando que M3GAN não seja bom, por que é, apenas que é um longa que não inventa a roda, ou entrega alguma coisa muito fora da caixinha. É o famoso bordão on-line, inovador e revolucionário? Não! M3GAN é um filme simples, com uma premissa simples, mas a forma como o roteiro de Akela Cooper (com história da mesma e James Wan) se desenvolve é que garante que tenhamos bons, divertidos, e assustadores momentos na medida que a criação da engenheira Gemma (Allison Williams) ganha “consciência” e começa a resolver assuntos com suas próprias mãozinhas de Titânio.
Ela é a prova de balas. Podem atirar. M3GAN mostra que já nasceu uma estrela. As ideias apresentadas, e os conceitos sobre nossa relação com tecnologia, que o texto de Cooper oferece, deixam o longa com um ar super interessante de se acompanhar, ao mesmo tempo que tira sarro desse mundo, e mostra como a tal boneca foi criada e o contexto que ela “nasceu”. A partir daí, o longa embarca nas peripécias que a boneca realiza na medida que M3GAN sempre tenta aperfeiçoar seus conhecimentos (uma função programada por sua criadora) e é o que dá o gás para o filme.
Na medida que M3GAN recebe a função de ficar ao lado da jovem Cady (Violet McGraw), depois que ela perdeu seus pais, o longa vai aos poucos por deixar seu lado mais dramático e embarca totalmente no non-sense e nos momentos que farão o cinema gargalhar com o nível surreal de como as coisas acontecem, sem a menor cerimônia, ou com medo, de soar cafona.
Diferente de outras produções B de terror e suspense, até mesmo algumas lançadas pela Blumbouse, o espectador não ri de M3GAN, e sim com M3GAN. Afinal, muitos dos eventos retratados do filme, forçam o espectador a basicamente ficar do lado da boneca em muitas situações.
É como Cooper programasse cenas, diálogos e momentos para fazer quem assiste ficar do lado de M3GAN, certo? Mas na medida que as coisas vão ficando mais perigosas, não só Gemma começa a perceber que alguma coisa está errada com as configurações de M3GAN, mas como todo o filme muda para um tom mais violento.
M3GAN sabe dosar bem todas essas camadas e realmente em suas poucas horas consegue navegar por diversos gêneros. McGraw e Williams entregam bons momentos juntas, seja quando suas personagens tentam superar seus lutos juntas, ou quando elas passam momentos mais leves, mas principalmente quando tia e sobrinha estão em lados opostos sobre como tratar M3GAN lá pela metade do filme. Mas também fica claro que nenhuma delas está a par do carisma gigante que a tal boneca emana em diversos, e em quase todo momento que aparece, e é que o grande destaque.
A mistura de efeitos especiais com efeitos práticos que cria M3GAN é o ponto alto do filme, e que fazem que M3GAN se garante no charme debochado de sua protagonista. A figura de M3GAN é imprevisível e garante não só boas falas, mas momentos memeticos que vão garantir diversas montagens, fancams e gifs mais lá na frente quando o filme chegar no formato digital.
Outro ator que está muito bem é Ronny Chieng como David, o CEO das empresas Funki, a empregadora de Gemma. Chieng tem um timing cômico incrível e realmente entrega, mesmo com poucas linhas, algumas das cenas mais inspiradas possíveis. O encontro dele com a boneca em uma dos momentos do longa é dosada no ritmo certo, em mais um dos acertos da direção de Gerard Johnstone que sabe ampliar pequenos momentos e os deixar maiores do que são em sua execução final.
No final, M3GAN é a fórmula de sucesso criada por duas das produtoras mais bacanas em Hollywood quando se trata de filmes de gênero. Um filme que dá certo, entregue sem muitas firulas, ou shows de pirotecnias e tudo mais. Bastou um bom texto, e um olhar maníaco de uma boneca. Apelar para o simples, às vezes, é a aposta mais certa. Como diria a própria M3GAN: insano, certo?
Onde assistir M3GAN?
M3GAN chega em cartaz nos cinemas nacionais em 19 de janeiro.