Na onda de séries teen que falam sobre o dia-a-dia e que não tem uma estrutura narrativamente definida é que chega Lov3, a nova produção nacional do Prime Video. O projeto nacional vem na pegada de produções como Girls de Lena Dunham, Sex Education da Netflix e Euphoria de Sam Levinson e nos mostra o cotidiano, os dilemas, e as angústias de um trio de jovens que por acaso são irmãos e querem viver suas vidas no máximo. Mas o que acontece quando todos eles veem o peso de suas ações, e as consequências delas em suas vidas, e nas vidas das pessoas que a cercam, ser muito maior do que qualquer coisa? É isso que Lov3 nos apresenta nos seus episódios desse primeiro ano.
Lov3 mostra a história de três irmãos, a mais velha Ana (Elen Clarice) e os gêmeos Sofia (Bella Camero) e Beto (João Oliveira) que sempre viveram juntos na casa da família e que de uma outra para outra se vêem na possibilidade de viver suas vidas longe um dos outros. Não por que eles querem claro, mas por que são obrigados. É como se eles fossem jogados em um liquidificador chamado vida. Mas pelo menos sem a pressão dos pais, afinal, a extravagante Baby (Chris Couto), a mãe deles resolve largar a família, deixar o marido mosca morta Fausto (Donizeti Mazonas), e a casa que eles moraram, de uma forma impulsiva.
Isso cai como uma bomba na dinâmica familiar e claro é o ponto do começo do seriado. O mais interessante é que somos jogados para essa estrutura familiar sem muito conhecer nossos personagens, suas personalidades, ou em quem devemos “torcer” propriamente dito. Afinal, o texto do time de produção (aqui formado por um gigante time com os roteiristas Rafael Lessa, Filipe Valerim Serra, Duda de Almeida, Natália Sellani e Elton de Almeida) vai aos poucos por nos mostrar o que esses personagens escondem, as complexas relações entre eles, e bagagem que eles trazem até esse determinado ponto da vida que vamos por acompanhar. Assim, cada um deles é apresentado, introduzido e desenvolvido aos poucos pelo roteiro e nos episódios.
O mais bacana de Lov3 é que vamos conhecer aos poucos o funcionamento da mente desses personagens e vermos como eles lidam com suas inseguranças no mundo real fora do convívio familiar e principalmente como essas relações familiares impactam a criação de novas relações deles com a sociedade. Seja a relação de Ana com o marido/ex-marido/relacionamento aberto Arthur (Donizeti Mazonas), o lugar que ela trabalha como sub-chefe, a busca de Beto no mundo LGBT por um parceiro que cumpra a carência afetiva que não tem com sigo mesmo, e que o leva a morar num quartinho nos fundos do apartamento de um homem de meia de idade e que o faz cair num relacionamento com um homem que se diz heterosexual, até a de Sofia que acaba por se enfiar em um trisal (Caio Horowicz, Ingrid Gaigher, Jorge Neto) que vira um projeto de quadrisal mas que também se serve para mostrar o quão dependente a personagem é por atenção e ter alguém para chamar de seu.
São os três em busca de sentir alguma coisa, qualquer coisa, onde Lov3 mostra como esses personagens buscam por uma conexão, um mínimo de contato humano, no meio de um mundo cão. Talvez por isso que a fotografia e a coloração da atração seja a mais escura possível, afinal fica claro que esses personagens têm visões de mundo, e de si mesmos, a mais negativa possível.
Há pouca esperança, há pouca luz para Ana, Sofia e Beto. E quando a série ganha cor, um pouco de luz e que parece que as coisas vão melhor lá na metade da temporada, tudo é uma ilusão e as coisas vão ficar de mal a pior para esse trio. Lov3 consegue fazer com que esses personagens com personalidades irritantes e completamente egoístas consigam se tornarem os mais humanos possíveis na medida que, nós, os espectadores somos introduzidos em suas vidas, nos seus relacionamentos, e nas decisões que eles tomam e nas furadas que eles se metem. É vermos Ana se envolver com um colega de trabalho e amigo de seu marido e quebrando as regras do relacionamento moderninho deles, ou Sofia que se envolve mais com a menina do trisal e que descobre mais um lado de sua sexualidade, ou de Beto que acaba por fingir ser um professor particular do filho do hetero curioso que ele se envolve e precisa colocar um basta nisso e melhorar sua auto-estima.
Lov3 deixa para o espectador julgar as ações dos personagens e apenas os coloca em rota de colisão com os caos quando as mentiras, e as coisas que eles escondem vem a tona, assim como o retorno dos pais lá no final da temporada que vem para confrontar e mudar mais uma vez a dinâmica já estranha entre esses personagens.
No final, com um jeitão bem teatral e experimental assim por dizer, Lov3 faz uma série sobre relacionamentos, dos mais não convencionais possíveis e que ganha força pelas atuações precisas dos três talentosos protagonistas
Lov3 chega em 18 de fevereiro.