É curioso ver como o diretor Jon Watts gastou o capital social, a “influência” que coletou em Hollywood, e como isso ajudou em sua carreira, depois de ter comandado 3 filmes do Homem-Aranha para a Sony Pictures. Afinal, com Lobos (Wolfs, 2024) o diretor reúne dois pesos pesados de Hollywood em um filme sobre assassinos de aluguel que trabalham sozinhos, mas, que em uma noite, cruzam caminhos enquanto fazem um trabalho de limpeza como qualquer outro que eles já fizeram.
E ter George Clooney e Brad Pitt como co-protagonistas no seu filme é um capital social bem gasto de qualquer forma e o sonho de muitos diretores por aí, sejam os veteranos ou os em início de carreira. Mas parece também que ter dois não foi o bastante, já em Lobos, a sensação que fica é que o cinema de franquia ficou impregnado em Watts. Não na forma como Watts dirige, por que acho que aqui em Lobos, o diretor até se sai bem em mostrar novas técnicas que fogem do padrão Marvel, mas no roteiro que realmente parece cair do grande truque dos últimos anos de não termos um roteiro sólido para um primeiro filme que já você conta uma história já pensando em um segundo ou uma franquia.
Claro, Watts usa o charme de Pitt e Clooney adoidado aqui, onde o texto faz esses personagens compararem os tamanhos de … suas habilidades no mundinho de assassinos de aluguel e trabalhos nada legais e que ninguém quer fazer. Em Lobos tudo, ou pelo menos boa parte do é que é falado, você supõe que não é a verdade. Afinal, as respostas para boa parte das respostas das perguntas que surgem aqui é dada ou pela ação que desenrola na narrativa ou por cenas fora do nosso campo de visão.
E na medida que conhecemos Margaret (uma excelente Amy Ryan), ela está numa suíte gigantesca, num hotel caríssimo, e com um baita problema: um corpo cheio de sangue e caco de vidro no chão do quarto. A situação não poderia ser pior para ela que toma uma decisão de ligar para um contato dado por alguém em sua vida que ela só deveria ligar se se tivesse no meio de uma situação que não conseguisse resolver.
A voz misteriosa no telefone dá instruções bem claras para como ela deve lidar. Minutos depois, surge uma pessoa na porta: é o personagem de George Clooney (que curiosamente não tem nome, e passamos o filme inteiro sem saber qual é). Ele está ali misteriosamente para resolver tudo. Para Margaret, e uma mulher em sua posição, em que vamos descobrir qual é só depois, é o que ela precisava. Mas, a noite não termina por aqui.
E está bem longe de terminar. Afinal, o filme só está começando. Já que entra outra pessoa misteriosa na jogada. Um outro homem bate à porta. É o personagem de Brad Pitt (também sem nome) que está ali com o mesmo propósito. Watts constrói essa narrativa em Lobos, aos poucos, onde as coisas são jogadas primeiro e depois explicadas. Para um filme, é curioso manter a atenção, afinal, o roteiro te prepara para dar as respostas que surgem na medida que caminha com você para te indagar das perguntas junto com os personagens.
Quem chamou os dois? Quem chamou quem? Por que os dois? E por que ao mesmo tempo? Como eles vão resolver esse problema que nem é deles e sim do trabalho que eles realizam? Watts, como falamos, se apoia única e exclusivamente no charme de seus atores principais, que realmente estão muito bem, e dão o tom misterioso para não só esses personagens, mas também para essa história.
Lobos se desenrola como uma caixinha de pandora, ou aquelas bonecas russas, cada momento da trama não só desmembra em uma nova, e caótica, situação, como também uma que gera uma consequência extremamente perigosa e complicada para a dupla.
E a noite só escalona, e de uma forma muito ruim, para os dois. E principalmente quando temos a introdução na história, do também sem nome, jovem (Austin Abrams) que nos leva a uma nova leva de mais perguntas e um monólogo impressionante de Abrams que está muito bem aqui.
Imagino se Watts não cogitou escalar Tom Holland no papel, por conta da semelhança física entre os dois atores, mas acho que o orçamento do filme não permitiria, afinal, se o longa já teve seu lançamento nos cinemas fora dos EUA cancelado (ficou só uma semana em cartaz para qualificar para a temporada de premiação, olá Globo de Ouro) e foi diretamente para o streaming, a Apple e a própria Sony que lançou os filmes do Aranha de Watts, talvez consideram o filme uma aposta arriscada.
E realmente é! É um filme de ação, sem dúvidas, mais um extremamente verborrágico e que depende muito do espectador embarcar ou não na trama e no falatório sem fim que o filme, e os personagens de Pitt e Clooney, mantém ao longo do filme. É curioso ver Pitt de volta no gênero basicamente no mesmo ano que Sr. & Sra. Smith retornou também para o streaming em uma nova roupagem. Afinal, Lobos se desenvolve muito como o filme, só que aqui temos um Sr e um outro Sr. Smith com um toque de Bad Boys e claro o famoso 11 Homens e Um Segredo, só que aqui só temos 2 homens.
Das implicações em como fazer o serviço, do bromance que surge entre os dois, e da realização que eles são mais parecidos do que acham que não são, e claro, para ver como eles vão fazer para sobreviver e claro como o tal garoto vai sobreviver, afinal, eles se envolvem com a máfia, com traficantes de drogas, e até vão parar no casamento da filha de um chefão armenio.
No meio de discussões eternas que levam um tempo para acabarem e algumas piadas repetidas, temos boas cenas, sim, onde Lobos mostra que as vezes para um projeto dar certo você só precisa de dois nomes de peso de uma Hollywood que parece cada vez mais estar em falta com esse tipo de artistas. Eles ainda são os caras mais cool em uma sala, sem dúvidas.
Ainda que Pitts, Clooneys, Cruises e DiCaprios ainda existam, e lideram projetos no cinema, fica claro que a pergunta: será que esses big names ainda sustentam filmes como antes? O bom que Lobos têm menos de 2 horas e vai direto para o streaming, então a resposta que geraria chamadas negativas nos principais veículos de imprensa americana é meio que respondida aqui. Claro, nada que vá afetar a carreira de ninguém a essa altura do campeonato onde definitivamente veremos Clooney e Pitt de novo em outros projetos, e quem sabe, com Lobos a próxima parada seja lá no Globo de Ouro mesmo, mas o importante são as amizades que fazemos seja durante um trabalho perigoso que envolve um adolescente suspeito e uma noite de confusões ou fazendo um projeto que claramente dá para ver que você se divertiu fazendo.
Lobos chega na AppleTV+ em 27 de setembro.