Dar as chaves do reino para Leigh Whannell adaptar mais um monstro clássico do Universo de Monstros da Universal Pictures depois de O Homem Invisível era um caminho natural a se trilhar dentro da produtora de terror Blumhouse. E com Lobisomem (Wolf Man, 2025) parece que teríamos um novo acerto em contar essas histórias atualizadas sobre clássicos da literatura, do cinema antigo e que moldaram o famoso estúdio no passado. Mas aqui, por mais que Whannell até entregue boas passagens, seja na cena da batida do carro da mudança, a cena em cima da estufa, ou até mesmo as perseguições pela casa isolada, Lobisomem sofre com uma falta de ritmo afetado por um roteiro em plena metamorfose, que meio que uiva para todos os lados e morde mais do que pode.
É filme ruim? Não, de maneira nenhuma. Lobisomem faz um filme honesto, um divertimento bacana para uma ida ao cinema nesse começo de ano, mesmo que não entregue muitas surpresas ou reviravoltas. A história se desenrola de uma forma que você, espectador mais treinado, já sabe para onde vai desde o começo que os personagens são introduzidos. É a história de um casal que não vivem o melhor momento junto e, que junto com a filha, partem para cuidar de uma fazenda isolada, herdada depois da morte de um parente, cruzam caminho com uma criatura noturna e precisam sobreviver a noite.
Lobisomem é um bom filme e apenas isso. Não reinventa o gênero nem nada, apenas tem uma dupla de protagonistas competentes e que entregam uma boa história que no fundo poderia ser mais. Talvez, o principal problema com o longa seja que realmente a história acaba por querer colocar diversas questões como subtexto (ou alegorias) dentro dessa trama com pitadas de terror e que se apoia na transformação do seu protagonista de um pai de família para uma criatura sobrenatural. Ao colocar o escritor Blake (Christopher Abbott), a jornalista Charlotte (Julia Garner) e a filha deles Ginger (Matilda Firth) dentro do casarão, Lobisomem os faz lidarem com seus traumas, seja pessoais, ou geracionais, com seus relacionamentos e mostra que existem diversos tipos de monstros a também serem combatidos aqui.
E por monstros não estamos falando só com o monstro, da figura misteriosa, que faz o caminhão de mudança da família bater no meio da estrada a noite logo na primeira noite deles no local. Assim, ao querer espelhar a transformação de Blake no ser lupino com os problemas do seu passado com o relacionamento com o pai, com os problemas atuais com a esposa, Lobisomem perde um tempo de fazer realmente um filme de suspense e que se aproveite das boas ideias que Whannell tem para contar essa história.
Seja na decisão de lentamente acompanharmos a transição de Blake de sua forma humana para sua forma animal, para como os sensos se tornam mais apurados, para a transformação física em si e que podemos chamar de “visão do lobo”, ou seja, como o personagem vê e interage com os outros (em alguns efeitos especiais bem legais).
Lobisomem, então, narrativamente, navega por diversas questões, onde o longa meio que vai ganhando novas formas e camadas, mas nunca, efetivamente, bate na tecla sobre o que quer ser e que história contar. Igual ao seu protagonista depois que é mordido pela criatura misteriosa. É como se Lobisomem passasse por diversas fases (da lua) para contar essa história e que deixa o sentimento de ser mais um drama do que um filme de terror propriamente dito.
Por exemplo, O Homem Invisível consegue fazer isso, de contar uma história meio fantasiosa, mas totalmente dentro da realidade de uma forma muito mais perspicaz e interessante. Em Lobisomem, ao contrário, parece que você começa o filme, já sabendo tudo que vai acontecer a cada pêlo, unha, e vontade de sangue que surge e desfigura Blake. Claro, o trabalho do time de efeitos especiais é primoroso aqui e realmente faz um dos pontos altos do filme, sem dúvidas.
É bastante satisfatório ver a transformação física de Blake e ver Abbott desaparecer no meio das próteses (o ator levava quase 7 horas para se transformar em algumas cenas segundo uma entrevista) e a caracterização do personagem é bem impressionante (no melhor estilo Nosferatu lançado algumas semanas atrás). E se a história capenga um pouco, o ator está bem em entregar mais um personagem perturbado para sua lista, já virando sua marca registrada quase como se fosse um novo Willem Dafoe. E juntamente com Garner, os dois meio que salvam o projeto, onde ela realmente se mostra novamente uma atriz que eleva tudo que faz (seja aqui ou no fraco Apartamento 6A lançado no ano passado) e realmente atua muito bem em parceria com ele.
Das cenas de perseguição, para as cenas mais violentas e gore que Lobisomem tem, e até mesmo para a mitologia que é apresentada e desenvolvida no filme, parece que falta mais, e foi entregue de menos aqui. Faltou mais suspense, caprichar mais numa ambientação de terror, mais nos sustos, e menos um drama ou querer contar uma história multifacetada e cheia de camadas. Às vezes, apostar em ter um lobo gigante faminto perseguindo uma família e causando um rastro de destruição já estava bom. O que parece que temos aqui com a versão 2025, é que esse Lobisomem estava no piloto automático, deitado vendo Netflix, porque tinha acabado de comer a vovó e estava esperando a Chapeuzinho, sem mover um músculo. Fica claro que contar uma história que já foi contada e contada várias vezes tem seus desafios, e no final, Whannell conta mais uma vez e não vai ser o último.
Lobisomem chega nos cinemas nacionais em 16 de janeiro.