Kate Beckinsale parece estar numa maré não muito boa, hein? Depois da franquia Anjos da Noite e da série The Widow, Beckinsale tenta emplacar agora um novo filme, e com Jolt (2021) a atriz tenta entregar um Atômica (aquele filme de porradaria com a atriz Charlize Theron lembram?) para chamar de seu lá no Prime Vídeo, mas claramente não consegue e falha totalmente.
Convenhamos que a premissa de Jolt é super interessante: uma mulher sofre, a vida toda, com problemas de raiva descontrolada que a fazem querer sair na mão com todo mundo. Com a ajuda de um médico e um aparelho inusitado, ela tenta sobreviver e interagir com outras pessoas. Por mais que o conceito seja bom, na prática sinto que o roteiro de Scott Wascha (e talvez a própria edição do filme) não ajuda a história a se desenvolver organicamente e naturalmente. Wascha tem um humor bem peculiar, que chega a ser bem incorreto em vários momentos, e que foca em passagens tão estranhas, que definitivamente o texto de Jolt não é para todo mundo. E aliado com uma direção, de Tanya Wexler, que também não entrega nada muito de especial, esse combo ajuda (ou atrapalha) o filme a ser um que deixa a desejar.
Pessoalmente, acho que Jolt se preocupa muito mais com a sua estética visual e parece um filme moderninho do que propriamente conseguir contar uma boa história. O longa abusa de cores mais neon, e vibrantes, e de se passar majoritariamente pela noite para contar essa história entre uma porrada e outra. E só nesse aspecto que o longa ganha alguns pontinhos. Pois, por outro lado, o feijão com arroz o filme não faz mesmo, salpica alguns temperinhos com algumas distrações que acabam por deixar ele assistível. Mesmo que a duras penas.
Beckinsale até que se destaca no filme ao entregar, ao mesmo tempo, uma personagem super bad-ass e destemida e outras vezes até que bem vulnerável. A atriz consegue mostrar bem como as diversas situações do dia-a-dia (ir para a aula de Yoga, uma atendente chata, ou até mesmo uma cantada na rua) afetam sua personagem e seus impulsos de raiva mesmo que as dinâmicas, e como o que acontece ou a deixa engatilhada acabam por serem descritas de uma forma muito superficial e quase como se tivesse sido escrito por alguém com 16 anos.
Assim, logo no começo, vemos que Lindy resolve que precisa se jogar no mundo e dar a chance de conhecer alguém. O longa, depois de uma introdução sobre sua condição e sua infância traumática, já coloca a personagem nesse novo desafio de sua vida: ir ao encontro às cegas marcado pelo seu psiquiatra, e basicamente seu único amigo, o Dr. Munchin (Stanley Tucci).
Então, Lindy coloca um belo vestido, arruma o cabelo, e parte, juntamente com o dispositivo que dá choques toda vez que ela aperta um botão, para um elegante restaurante para encontrar um charmoso rapaz, o jovem contador Justin (Jai Courtney). Claro, como um bom filme de ação, no melhor estilo John Wick, alguma coisa (olha só Justin é assassinado!) motiva nossa personagem a embarcar em uma jornada de fúria onde ela precisa enfrentar a máfia, e a polícia, ao mesmo tempo.
Com a morte de Justin, e a ideia de ter uma vida normal pela primeira vez em anos indo para o ralo, e os detetives Vicars (Bobby Cannavale) e Nevin (Laverne Cox, divertida mesmo que parece que nem ela tá comprando as falas que tem que entregar) em sua busca por a considerarem a principal suspeita, Lindy parte em busca de vingança.
Sinto que Jolt se atropela para contar boa parte da trama, claro, as cenas chaves estão ali, mas o filme parece ter tido picotado ou como se não tivesse cenas suficientes para para uma contextualização maior para os personagens e para a história de maneira geral. Personagens aparecem do nada, cenas acontecem do nada, sem conexão nenhuma do que acabou de acontecer, e eu juro que tive que voltar o link que recebemos antecipadamente do Prime Video, porque tinha passagens que não faziam menor sentido para a trama e o desenvolvimento da história em si.
Falando em cenas malucas de Jolt acho que o longa tem uma das cenas mais bizarras e surreais do ano até agora. Sem spoilers, mas envolve uma perseguição em um hospital e bebês voadores. Eu sei, bizarro.
Nem a tentativa de uma reviravolta na trama, ou participação de uma atriz super veterana em Hollywood por 5 minutos, ajuda Jolt a empolgar e entregar uma boa história com começo, meio e fim, coesa e firme, independente se os produtores planejam uma sequência ou não.
Este primeiro filme seria para introduzir essa personagem que até chega a ser complexa mas que nunca é propriamente dita trabalhada e desenvolvida falha em fazer isso. Então por que pareceu que gastei 1h 20 numa trama que 99% das chances não vai ter uma continuação? Talvez só porque seja meu trabalho, e eu estou aqui para alertar vocês espectadores. No final, Jolt faz apenas um filme chocantemente ruim.
Jolt chega em 23 de julho.