“Quem é você nesse vasto multiverso?”
Foi com essa pergunta que tivemos um pouco dos primeiros gostinhos do multiverso lá em Doutor Estranho em 2017. E desde de então a Marvel nos cinemas tem brincado com a questão nos últimos projetos, seja aqueles dentro do MCU da Disney ou aqueles com os personagens do Universo Marvel na Sony Pictures.
Mas sinto que aqui com Homem-Aranha: Através do AranhaVerso (Spider-Man: Across the Spider-Verse, 2023) é que realmente nós entramos e realmente exploramos o multiverso de verdade. Claro, em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021) vimos diversas versões de personagens pipocarem em tela, foi legal e tudo mais, mas sinto que é aqui, com a trama da sequência da animação vencedora do Oscar realmente o conceito é explorado a fundo, que realmente aproveitamos para brincar com a questão, onde Homem-Aranha: Através do AranhaVerso realmente coloca esses dois filmes no chinelo na questão “falar” sobre o multiverso.
Afinal, na sequência Miles Morales (voz de Shameik Moore no original) e Gwen Stacy (voz de Hailee Steinfeld no original) efetivamente vão para diversas e diferentes Terras, eles são de diversas e diferentes Terras, conhecem pessoas de diversas e diferentes Terras, e realmente navegam por aí nesse vasto multiverso. Sinto que aqui, com Homem-Aranha: Através do AranhaVerso é a versão de Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo dos filmes animados de super-herói, e realmente entrega um longa sobre diversos locais espalhados por aí, com diversos “eus” do mesmo personagem por aí e nos agraceia em contar uma das mais ousadas e interessantes histórias do Homem-Aranha nos cinemas.
É meio que chover no molhado dizer que o filme é extremamente lindo de assistir, mas é isso, o novo longa realmente traz um certo gosto diferente para essa história e o trabalho de direção de Joaquim Dos Santos, Kemp Powers, Justin K. Thompson é bastante impressionante em cada uma das escolhas para o longa. Homem-Aranha: Através do AranhaVerso não é só visualmente impressionante (e depois do primeiro filme isso nem deveria ser tão chocante assim), mas também em conseguir ampliar a nossa visão sobre a questão do que é ser um Homem-Aranha ou aqui no caso uma figura aranha.
Peter Parker sempre foi marcado como um personagem que via em suas perdas os motivos para se tornar quem ele se tornou. Em todos os filmes, de Tobey Maguire, os de Andrew Garfield e de Tom Holland em live-action, até mesmo o primeiro longa vencedor do Oscar, em todos, de uma certa forma ou de outra, vimos basicamente Parker na mesma história de autodescoberta. Mas essa era sua história. Uma história. Aquela história para aquele personagem do jovem branco, desengonçado e que perde o Tio e se torna um dos maiores super-heróis de todos os tempos.
E com Homem-Aranha No Aranhaverso (2018) ficou claro que essa história era apenas uma dentro de várias outras, de vários outros personagens aranhas que deram as caras no longa, principalmente pelo jovem Miles Morales, um garoto negro do Brooklyn que viu sua história se assemelhar com a do lendário Peter Parker e ele precisar assumir esse papel.
E Homem-Aranha: Através do AranhaVerso expande esse conceito, nos joga para dentro do multiverso de verdade, onde não temos apenas outras figuras vindo para o universo de Miles, e sim Miles circulando por novos universos com essas novas pessoas e descobrindo novas pessoas-aranha por onde anda. Claro, isso é super simplificar como a história de Miles continua depois do eventos do primeiro filme, mas nesse multiverso eu jurei não revelar tanto da trama do filme, então teremos que dar algumas voltas aqui.
Afinal, Homem-Aranha: Através do AranhaVerso pode parecer morno no seu começo mas só parece. Logo de cara, o texto de Phil Lord, Christopher Miller e David Callaham nos conta mais sobre Gwen Stacy, sua vida com seu pai, policial, a invasão de um vilão clássico do Homem-Aranha, o Abutre e a chegada de outras pessoas-aranha numa batalha em um museu, com Jessica Drew (voz de Issa Rae no original), a Mulher-Aranha e Miguel O’Hara, o Homem-Aranha 2099 (voz de Oscar Issac no original e que deu as caras na cena pós-crédito do primeiro filme).
Para depois focar em Miles que vê sua vida continuar depois dos eventos de “No AranhaVerso” onde ele salvou a cidade, mas perdeu o Tio Aaron na batalha final, e vive por salvar os moradores dos vilões do dia, e por esconder sua dupla identidade de seus pais Jefferson e Rio, que ficam cada vez mais desconfiados com o filho, e suas atitudes.
Assim, Homem-Aranha:Através do AranhaVerso pode até demorar para engrenar, por conta dessa gigante contextualização, mas quando todas as peças desse quebra-cabeça multiversal se completam, conhecemos mais do vilão Mancha (voz de
Jason Schwartzman no original), da Sociedade Aranha, formada, não só por diversas pessoas aranhas, mas também cavalos-aranha, gatos-aranha, e até mesmo hologramas-aranha (voz de Amandla Stenberg no original), não tem como não sair impactado narrativamente falando com as ideias e dos conceitos aqui apresentados.
E claro, da ousadia de mudar com a essência do que é uma história do Homem-Aranha e aproveitar o máximo todo arsenal, não só de personagens do Universo do Homem-Aranha nos quadrinhos, mas também de estereótipos, diálogos, e questionamentos sobre o que é ser, a importância do que é ser, e o que significa ser um Homem-Aranha.
Claro, no quesito visual, como falamos, Homem-Aranha: Através do AranhaVerso é um espetáculo visual apaixonante, colorido, e de tirar o fôlego a cada segundo, onde seu olhar não sabe por onde focar, onde a cada frame temos um trabalho incrivelmente bem feito, e tudo parece ter sido feito a mão, pintado a guache, e tudo mais. Mas é no roteiro, na criação desses personagens, e no trabalho de voz desses atores para dar profundidade e emoção para esses atores nessa história que realmente se desenrola como uma verdade história em quadrinho do Homem-Aranha, só que em movimento, feita para ser vista na maior tela possível, e claro cercada de easter-egg, que o longa se torna grandioso em sua proposta.
E quando realmente a história chega num determinado ponto e todas as peças se juntam, Homem-Aranha: Através do AranhaVerso se torna um produto cinematográfico robusto, cheio de camadas, e com reviravoltas de deixar a boca aberta de como tudo foi construído para chegarmos onde chegamos, naquele ponto da narrativa dos momentos finais, com Miles, com Gwen, com Jessica, com Miguel, com Peter B. Parker (voz de Jake Johnson no original) e a bebê Mayday, com o Aranha de Mumbai (voz de
Karan Soni no original , e o Aranha-Punk (voz de
Daniel Kaluuya no original) naquele lugar, com aqueles perigos, com as consequências de tudo o que está em jogo, naquele momento que as apostas estão tão altas e que o multiverso em si está em perigo.
No final, fica claro que Homem-Aranha: Através do AranhaVerso se mostra muito mais um novo capítulo de uma vasta história que ainda tem muito para contar e explorar. E o que fazer quando o principal inimigo, dentro desse vasto multiverso, é uma versão de você? onde Homem-Aranha: Através do AranhaVerso responde isso, ao pegar na nossa mão e nos levar para uma aventura inacreditável pelo AranhaVerso, no que é, até agora, começo de junho, o mais interessante blockbuster do ano.
Onde assistir Homem-Aranha: Através do AranhaVerso?
Homem-Aranha: Através do AranhaVerso chega nos cinemas nacionais em 1º de junho.