terça-feira, 15 outubro, 2024
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Festival do Rio | Maré Alta | Crítica: Venha por Marco Pigossi fique pela bonita história.

Mesmo com uma simplicidade narrativa, Marco Pigossi realmente dá o seu melhor em bonita história. Nossa crítica de Maré Alta.

É interessante notar como a carreira do brasileiro Marco Pigossi tem deslanchado nos últimos tempos e que vem lá do início em trabalhos nas novelas globais, onde o ator ganhou popularidade com bordões que se tornaram marca registrada nas falas de seus personagens, para produções serializadas no boom da popularização dos conteúdos regionais para audiências globais dos streamings.

E, agora, anos depois, parece que é com o drama para os cinemas Maré Alta (High Tide, 2024) que temos um tipo de um encerramento desse ciclo que o brasileiro tem percorrido até agora, e que quem sabe, seja um início de uma nova etapa para ele. 

Maré Alta
Cortesia do Festival do Rio.

Afinal, Maré Alta (ainda sem distribuição anunciada no Brasil, mas que passou no Festival do Rio) chega depois de Pigossi dar uma virada de carreira e ter se jogado nas produções de streaming e que deram uma maior visibilidade e o transformaram em um ator que é o protagonista e o primeiro nome de um elenco. 

E aqui, ele estrela um longa quase todo falado em outro idioma e que conta uma história sobre a vida de um imigrante brasileiro nos EUA. Mas o texto de Marco Calvani, que também dirige o longa, para Maré Alta, acaba por entregar alguma coisa um pouco mais complexa (na medida do possível para o que é apresentado aqui, claro, e que comentamos mais abaixo) do que isso, tanto para essa história quanto para esse personagem que Pigossi interpreta.

É como se, ao longo do filme, tanto o diretor, quanto a própria atuação do ator, fosse por descamar esse personagem aos poucos, quase igual como fazemos quando vamos para a praia, sabe? Chegamos com camisa, shorts, chinelo, e tiramos uma peça de cada vez, para sentar na cadeira e tomar sol e depois entrar na água. E curiosamente, Lourenço, um contador brasileiro que foi para os EUA, vai pelo mesmo caminho, onde aqui se desprende das amarras do passado, onde logo nas primeiras cenas de Maré Alta, vemos o protagonista nadar como veio ao mundo, pelado, no mar, deixando para trás todos os problemas. 

Mas é claro, que neste momento, o começo, não sabemos exatamente o que passa com Lourenço, ou um pouco de sua história, mas as coisas vão ficar cada vez mais cristalinas na medida que a história se desenvolve e deixamos a convidativa praia para adentrar na vida que o personagem vive em Provincetown, uma cidade conhecida nos EUA por conta de ser a morada, e o local de passagem, de membros da comunidade LGBT americana. 

E assim, em Maré Alta, Pigossi nos entrega um personagem com uma certa inocência e que parece não se encaixar muito bem na tal comunidade litorânea que vive. Seja por ser imigrante, seja por não ser um homem abertamente gay, pela barreira do idioma, ou pela condição social. Afinal, em boa parte de Maré Alta temos o personagem com cara de triste andando por aí de camisa surrada e havaianas na medida que realiza pequenos reparos e serviços, mora na casa de hóspedes de um senhor mais velho (Bill Irwin) enquanto sofre com o término com um ex namorado e espera os dias que seu visto de turismo irá expirar. 

Claro, o longa demora um pouco para pintar esse quadro em branco que é a figura de Lourenço, seus problemas, angústias e medos, mas Pigossi consegue segurar bem as cartas e entregar as informações que precisamos saber para entendermos a jornada desse personagem e o que ele vive e passa.

Maré Alta
Cortesia do Festival do Rio.

Tudo muda quando o personagem encontra com o charmoso turista (James Bland) que vem para a cidade com um grupo de amigos liderados pela desbocada Crystal (Mya Taylor). A necessidade de achar uma forma de conseguir renovar o visto americano, de superar o ex, e de contar a verdade para a mãe, super religiosa que vive no Brasil, dá à trama uma razão para seguirmos acompanhando a vida de Lourenço nessa comunidade e as figuras que surgem em tela.

Desde da chegada de Maurice (Blad) que oferece a possibilidade de nova dinâmica na vida de Lourenço, ou até mesmo a figura de Miriam (Marisa Tomei, numa participação até que bacana, mas que destoa de todo o filme), a dona de uma casa a beira mar que precisa de reformas, até mesmo um amigo de Scott (Irwin), Todd (Bryan Bratt), um advogado que parece quer ajudar Lourenço com sua situação, mas que só o metralha com opiniões não solicitadas e questionáveis perguntas.

No meio de festas e de conflitos, Maré Alta dá a oportunidade de Pigossi entregar o seu melhor, mesmo que às vezes, os diálogos, e até mesmo as situações que o filme coloca esses personagens não soam das mais agradáveis de assistir e que pecam pela simplicidade. Mas por outro lado, Calvani usa dos cenários paradisíacos dessa cidade litorânea para ajudar a contar essa história que de certa forma é bonita, melancólica e guiada pelo trabalho de Pigossi como a figura que todas as coisas acontecem. 

No meio de contar esse conto de amadurecimento e aceitação, Maré Alta pode até não entregar um trabalho muito rebuscado, e realmente o que temos aqui não é nada de espectacular ou arrebatador, mas que acaba por apelar para o sentimental e que dá para Pigossi a chance de entregar mais uma faceta que talvez ainda não tínhamos visto ele entregar. 

Nota:

Filme visto no Festival do Rio 2024 em Outubro.

Sem distribuição ou previsão de estreia no Brasil.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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