Fazia tanto tempo que Ganhar Ou Perder, a nova e primeira série da Pixar, estava no meu radar e vou dizer que a espera valeu muito a pena. Em desenvolvimento há anos, a atração vem de uma jornada curiosa e longa e parecia que iriamos perder. Era meu medo, mas sabia que isso não seria possível já algum tempo, afinal, tive a oportunidade de assistir um painel sobre a atração no festival de animação de Annecy, um dos maiores do mundo, juntamente com um episódio do primeiro ano.
E realmente o que mais surpreendeu na época foi a forma como eles resolveram que iriam contar a história de um grupo de pessoas, entre crianças e adultos, que fazem parte do mesmo time de softball nos dias anteriores a grande final do campeonato. Assim, cada episódio focaria na perspectiva de um personagem, onde, depois, todas as histórias se converteriam para o final de temporada que seria a exibição do grande jogo.
E aparentemente dá para ganhar todas, sim, onde Ganhar Ou Perder faz um verdadeiro e delicioso de ser assistir produto Pixar, já que segue a cartilha do estúdio a risca: uma animação visualmente caprichada, personagens carismáticos e uma história fofinha que parece que te abraça e ainda te dá uma lição de vida diluída nos eventos da trama, sem parecer forçada, ou panfletaria.

Claro, a atração sofreu um pouco com os bastidores, com uma série de polêmicas alguns meses atrás levantadas por uma matéria que dizia que Ganhar Ou Perder teria supostamente abandonado de um arco narrativo que envolvia uma personagem trans, mas mesmo como isso pode soar ruim no atual cenário político, social, e extremamente barulhento, não dá para dizer que a série não venha ser um grande avanço para os debates levantados quando falamos de produções animadas ao vermos o material que é efetivamente entregue. E ainda mais vindo de uma produção que deverá ter uma certa visibilidade, afinal, estamos falamos de uma marca tão reconhecida como é a Pixar.
Ganhar Ou Perder é o próximo projeto depois do mega sucesso que foi Divertida Mente 2 e é curioso que logo no primeiro episódio da atração conhecemos a jovem Laurie (uma garota com traços masculinos e que em um primeiro momento parece ter uma identidade fluida) que é a filha do treinador Dan e vive com aquela pulguinha atrás da orelha sobre ela estar no time só por que é filha do treinador ou por que ela é boa mesmo. Com a chegada da final do campeonato, os questionamentos de Laurie se tornam uma presença física visível, tangível e que fala com ela. Quase como só tivesse um diabinho no seu ombro. É uma emoção, igual em Divertida Mente, que representa os anseios e as dúvidas da personagem e que cresce na medida que Laurie começa a cada mais se questionar.

Assim, Ganhar Ou Perder conta os dias de Laurie para treinar bastante para não só ajudar o time a ir bem no campeonato como também para impressionar seu pai. Contado da perspectiva da criança, o primeiro episódio brinca com o lúdico e com essa pressão que, às vezes, as próprias crianças impõe para si. E claro, a história termina com a personagem no dia do jogo da final.
A série segue intercalando histórias das crianças com dos adultos, onde o próximo episódio é sobre Frank, um professor do ensino fundamental que trabalha na liga de softball, super certinho e que acaba por espelhar essa sua obsessão pelas regras em uma armadura azul de um cavaleiro (ele é apaixonado em histórias de fantasia) e que precisa voltar para o mundo dos encontros depois que ele mesmo terminou com a ex namorada (que também trabalha na mesma escola que ele). É um dos mais divertidos do seriado.
Mesmo sem muitas conexões narrativas, os dois primeiros episódios bem que servem para apresentar os personagens e o que podemos esperar da estrutura de Ganhar ou Perder de forma geral. E claro, apresentar a figura do menino que bebe refrigerante, fica doidão de açúcar e que de certa forma ajuda todos os personagens e que acaba por ser um easter-egg bastante interessante.
As coisas mudam nos próximos episódios, o 3 & 4 que funcionam como um grande episódio espelho um do outro. Afinal, conhecemos Rochelle uma das estrelas do time, uma jovem super esforça e inteligente, que só tira A, mas que precisa ir atrás de dinheiro para continuar a jogar no próximo ano. Enquanto ela resolve empreender e cria um negócio de venda de lição de casa para arrecadar dinheiro, precisa também lidar com a mãe Vanessa, super jovem e descolada e que é o foco do episódio 4. O episódio então conta o ponto de vista de Vanessa dos eventos daquela semana e como falamos serve como um espelho para o que vimos no anterior. Uma das cenas mais inspiradas da atração fica quando Vanessa é abordada por pais “robôs” que vestem o mesmo tipo de casaco e ficam julgando a personagem sobre as liberdades que ela dá para filha. Mas será que eles não tem um fundo de verdade?
Assim, o primeiro bloco de episódios de Ganhar Ou Perder, serão 8 no total, apresentam essa divertida história de uma forma encantadora, num ritmo ágil, e que não perde tempo em conectar esses personagens nessa narrativa e nos fazer querer ver o próximo, e o próximo, logo de uma vez, para saber o que vai acontecer com cada um deles. Ao apresentar uma história melhor que a anterior, Ganhar Ou Perder mostra que saímos ganhando como espectadores, já que a atração faz uma produção Pixar no seu melhor.
Ganhar Ou Perder chega com 2 primeiros episódios iniciais no dia 19 de fevereiro no Disney+.